Foi entre gritos que pediam "fora, Cunha", "fora, Levy" e o rompimento com o PMDB, maior partido aliado do governo Dilma Rousseff, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta
sexta-feira (20) que é preciso "construir a governabilidade" e ajudar a presidente "a sair da encalacrada" que, segundo ele, a oposição colocou o PT.
Diante de uma plateia formada predominantemente por jovens, durante o 3o Congresso Nacional da Juventude do PT, Lula afirmou que seria "ideal" para um partido político vencer as eleições sem a necessidade de fazer alianças mas, de acordo com o ex-presidente, "entre o desejo ideológico partidário e o mundo real da política há uma distância enorme".
"O ideal de um partido é que ele pudesse ganhar a Presidência da República, 27 governadores, 81 senadores e 513 deputados sem se aliar a ninguém. Mas, muitas vezes, temos que aceitar o resultado e construir a governabilidade", disse Lula. "Precisamos ajudar Dilma a sair da encalacrada que a oposição nos colocou", completou.
Pouco antes do discurso do ex-presidente, a plateia entoava gritos de "fora, Cunha" e "fora, Levy", em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Lula quer a troca do chefe da equipe econômica de Dilma, mas defende um acordo de não agressão a Cunha, que ainda tem o poder monocrático de deflagrar ou não um processo de impeachment contra a presidente.
"Escrever em um documento 'fora, Levy' ou 'fora, PMDB' é muito pouco, tem que propor algo maior. Quero saber qual é a proposta da juventude para a educação desse país. Quero saber o que esse congresso vai aprovar para propor para o nosso governo gerar emprego", disse Lula.
'LADRÃO'
Mais uma vez o ex-presidente afirmou que os militantes do partido "não podem permitir que ladrão fique chamando petista de ladrão".
Segundo Lula, "o PSDB precisa provar o que fala" quando acusa a sigla de ter arrecadado dinheiro de forma corrupta para os cofres do partido e para financiar campanhas eleitorais.
Para Lula, há uma campanha "de setores da imprensa e da sociedade" para denegrir a imagem do PT e, por isso, diz o ex-presidente, criminalizam apenas as ações da legenda.
"Quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia. Será que o Vaccari era burro e só ia no cofre sujo?", disse o ex-presidente em referência ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
"É preciso levantar a cabeça, mas não de arrogância, aquele levantar de cabeça de quem sabe o que quer, que tem razão e não vai permitir que eles destruam o nosso governo e o nosso partido", afirmou Lula.
Durante seu discurso de pouco mais de meia hora, o ex-presidente foi interrompido algumas vezes pela plateia, que gritava "Lula de novo com a força do povo", mas ele pediu "calma" para "não queimar nenhuma etapa".
Para Lula, antes de pensar em 2018, é preciso sair da "dificuldade" de hoje. "Se a gente está passando por dificuldade, é hora de se juntar e ajudar", afirmou.
PETISTAS PRESOS
À esquerda do palco onde discursou Lula, os petistas estenderam uma faixa em que se podia ler: "guerreiros do povo brasileiro". Estampadas, fotos estilizadas do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do ex-presidente do PT José Genoino, do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, todos condenados no mensalão, além dos dois ex-tesoureiros do partido que estão presos, João Vaccari Neto e Delúbio Soares.
Entre as bandeiras da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do próprio PT, Dirceu ganhou homenagens individuais. Condenado e preso no mensalão e suspeito de ter sido beneficiado do esquema de corrupção da Petrobras, a foto do ex-ministro estava em uma faixa exclusiva com os dizeres "guerreiro da democracia".
O apresentador do evento chegou a pedir: "Tá faltando homenagem para o guerreiro do povo brasileiro, gente, olha a faixa". E a plateia respondeu: "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro".
Lula e a cúpula do PT evitam falar publicamente sobre os petistas presos por corrupção. O ex-presidente costuma se referir a eles como "companheiros que cometeram erros" e o partido tem defendido, em nota, a condução do ex-tesoureiro Vaccari à frente da secretaria de finanças do partido.
Realizado no ginásio de uma clube de Brasília, o evento estava esvaziado, e, minutos antes do ex-presidente discursar –Lula atrasou uma hora do horário previsto para sua chegada–, ainda estavam vazias diversas cadeiras que foram até o meio da quadra de esportes.
Fonte: Folha de São Paulo
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