O acirramento da greve dos petroleiros, que tem provocado prejuízos à Petrobras, é um retrato do rompimento entre as lideranças sindicais e a direção da companhia, após 12 anos de convivência
pacífica e ajuda mútua.
É também uma resposta a ações da direção para reduzir os custos com pessoal e o poder dos sindicatos.
Desde as primeiras assembleias para aprovar a greve, em agosto, lideranças sindicais têm repetido que não se pode permitir o "desmonte da Petrobras". Referem-se ao plano de negócios que cortou investimentos e prevê a venda de ativos.
"A greve é política. Não vamos discutir reajuste", afirma o coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel.
Em sua "Pauta pelo Brasil", a FUP pede que a empresa contrate novamente os empregados que aderiram ao plano de demissão voluntária do ano passado, conclua investimentos como o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e suspenda a venda de ativos.
Ataca justamente as medidas que têm recebido apoio do mercado financeiro.
Representante dos trabalhadores no conselho de administração da empresa, o sindicalista Deyvid Bacelar defende medidas alternativas para sair da crise, como a busca de financiamento com instituições estrangeiras de fomento à exportação.
"Estamos tentando construir canais de diálogo com a Petrobras e o governo federal. Mas, infelizmente, até o momento não tivemos sucesso. Precisamos barrar o processo de privatização e desmonte da empresa", afirmou.
Conselheiros independentes nomeados pelo governo no esforço para limpar a imagem da companhia criticam o que chamam de "corporativismo", considerado "um dos principais entraves para a empresa sair da crise".
Ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), a FUP é criticada por alas mais radicais por ter se aproximado da direção da companhia nas gestões José Eduardo Dutra e José Sergio Gabrielli.
A insatisfação gerou uma dissidência, a FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), que agrega cinco sindicatos e começou a greve antes. A entidade já acusou a FUP de iniciar "uma era de vendas de direitos em troca de cargos".
possível saída
Petrobras e os petroleiros se reúnem nesta segunda (9) para conversar pela primeira vez depois de iniciada a greve. De acordo com uma liderança sindical, a categoria se ressentiu da "perda de direitos conquistados nos últimos anos" e pode negociar caso a Petrobras faça concessões neste sentido.
De fato, a crise começou a se acirrar no momento em que a estatal propôs fatiar as negociações salariais entre as empresas do grupo, em vez de discutir um único acordo coletivo para a categoria.
A mudança, além de facilitar o processo de venda das empresas, reduz o poder de mobilização dos sindicatos.
Fonte: Folha de São Paulo
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