Entre os milhões de dados captados pela investigação da Operação Lava Jato, a Polícia Federal deparou com um conjunto de diálogos mantidos pelo
empreiteiro Ricardo Pessôa, da UTC, por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp. Trata-se de uma conversa de trabalho que, para os investigadores, aponta para um possível depósito de dinheiro saído da Petrobras para o caixa da campanha presidencial de Dilma Rousseff, no ano passado.Um dos diálogos aconteceu pouco antes das 13 horas de 29 de julho do ano passado – pouco depois, segundo a PF, de Ricardo Pessôa ter participado de uma reunião no comitê de campanha de Dilma, em Brasília. Àquela altura, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa já estava preso em Curitiba. Mas o que preocupava Pessôa não era a possibilidade de ir parar em uma cela – ele só seria preso quatro meses depois. Pelo teor das mensagens, a PF suspeita que Pessôa estivesse angustiado com outra coisa. Que o fluxo de seus repasses para o PT coincidisse com o dinheiro desviado da Petrobras, para que ele não tivesse de mexer no próprio caixa.
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Após o encontro no comitê, Pessôa acionou o diretor financeiro da UTC, Walmir Santana, pelo WhatsApp. “A pessoa que você tem que ligar é Manoel Araujo. Acertado 2.5 dia 5/8 (ate) e 2.5 ate 30/8”, disse Pessôa. Manoel Araújo era auxiliar do então tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, atualmente ministro da Secretaria de Comunicação Social. Hoje, Manoel tem uma sala no 2º andar do Palácio do Planalto e é o chefe de gabinete de Edinho. Na resposta, Manoel lembrou Pessôa sobre o atraso no recebimento de “um valor da PB” e sugeriu uma forma de equilibrar os repasses. “RP, posso resgatar o que fizemos de doações esta semana? Tá pesado e não entrou um valor da PB que estava previsto para hoje, mais ou menos 5 milhões.” O chefe autorizou: “Ok pode. Você não resgatou nada ainda certo?”, disse Pessôa. Para os investigadores da Lava Jato, “PB” é uma abreviação para Petrobras e “RP” é Ricardo Pessôa. O número “2.5”, segundo a PF, coincide com o valor das doações – R$ 2,5 milhões.
Em seus depoimentos colhidos no acordo de delação premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal, Ricardo Pessôa disse que gastou parte do dinheiro desviado da Petrobras em doações à campanha de Dilma. Afirmou que o então tesoureiro Edinho Silva cobrou essas doações com base nos contratos mantidos pela empreiteira com a estatal. Segundo Pessôa, o comitê petista exigiu R$ 20 milhões. Ele diz, no entanto, que reduziu o repasse para R$ 10 milhões – R$ 5 milhões em cada turno, em duas parcelas de R$ 2,5 milhões cada. As exigências relatadas na conversa por WhatsApp coincidem com as doações da UTC registradas no Tribunal Superior Eleitoral: entraram R$ 2,5 milhões no comitê da presidente em 5 de agosto, R$ 2,5 milhões em 27 de agosto e R$ 2,5 milhões em 22 de outubro. Como foi preso em 14 de novembro, Pessôa ficou devendo R$ 2,5 milhões. O coordenador jurídico da campanha presidencial, Flávio Caetano, disse em nota que “os dados do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, sobre as datas das doações feitas pela UTC à campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014 revelam que se trata de ilação interpretar o teor dos diálogos como vínculos da campanha com esquemas sob investigação”.
Conforme as investigações e as delações da Lava Jato avançam, enfileiram-se relatos e indícios de que o dinheiro do petrolão abasteceu campanhas eleitorais do PT desde 2006. Técnicos da Justiça Eleitoral calculam que empresas envolvidas no petrolão doaram R$ 172 milhões ao PT entre 2010 e 2014. No ano passado, a campanha presidencial recebeu R$ 47,5 milhões diretamente dessas companhias.
A primeira evidência dessa ligação descoberta pela Lava Jato veio do empresário Augusto Mendonça, sócio do grupo Toyo Setal. Após acordo de delação, ele comprovou o repasse de R$ 4,2 milhões a diretórios do PT em sincronia com a transferência de pagamentos da Petrobras. O doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o lobista Fernando Baiano disseram que o ex-ministro Antonio Palocci cobrou e recebeu R$ 2 milhões para a disputa presidencial de 2010. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco afirmou que a holandesa SBM Offshore repassou US$ 300 mil para a campanha de Dilma naquele ano. Uma proposta de delação premiada feita pelo ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, em análise no Ministério Público, menciona ainda o repasse de R$ 4 milhões pela Odebrecht para a campanha do presidente Lula em 2006, como revelou ÉPOCA. Pessôa também diz que repassou, em doações clandestinas por uma conta na Suíça, cerca de R$ 2,4 milhões para o caixa dois da campanha de Lula. O lobista João Augusto Henriques, segundo reportagem de ÉPOCA publicada em 2013, disse que a Odebrecht doou US$ 8 milhões desviados de um contrato com a Petrobras para a primeira campanha de Dilma.
Suspeitas de ligação entre o petrolão e doações eleitorais fazem parte de uma das quatro ações apresentadas pelo PSDB contra a chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Nessa ação, quatro ministros votaram pela abertura de um processo que, em última instância, pode levar à impugnação da chapa Dilma-Temer. O andamento do processo foi interrompido desde que a ministra Luciana Lóssio pediu vista no fim de agosto. A ação pode voltar ao plenário nesta terça-feira.
Fonte: Época
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