Jovem espancando em igreja nos EUA testemunha contra irmã

Convocados para uma reunião na sacristia de sua igreja, os irmãos adolescentes Christopher e Lucas Leonard receberam ordens de se levantar e responder pelo que haviam feito. Quando as respostas

não vieram, o espancamento começou.

Christopher Leonard, de 17 anos, disse que foi socado no estômago por um colega da igreja. Então seus pais, sua meio-irmã e outros membros da congregação iniciaram uma sessão de espancamento que atingiu todo seu corpo, até que ele foi levado a outra sala com protetores e fones de ouvido para evitar que ouvisse o que acontecia ao seu redor, disse.

“Doía”, ele disse, “em todo lugar”.

Quando finalmente foi levado de volta à sacristia, viu seu irmão de 19 anos desabar no chão, gemendo – e depois não mais respirando.

Com sua voz quase inaudível na corte, Christopher Leonard descreveu publicamente pela primeira vez na quarta (21) a violência que fez com que ele fosse parar no hospital e causou a morte de seu irmão. Seis pessoas foram presas, incluindo os pais e a meio-irmã dos jovens.

Testemunhando em uma audiência de sua meio-irmã, Christopher não explicou o motivo pelo qual os jovens estavam sendo punidos, e o juiz o interrompeu antes que ele revelasse que perguntas foram feitas a eles.

Sarah Ferguson, meio-irmã de Christopher e Lucas e Leonard, participa de audiência preliminar na corte de New Hartford, NY, na quarta (21) (Foto: Tina Russell/Observer-Dispatch via AP, Pool)

Do lado de fora da corte, autoridades disseram que o espancamento teve início durante uma sessão de “aconselhamento espiritual” sobre o desejo de Lucas de deixar a Word of Life Christian Church, uma pequena, secreta e bastante rígida congregação no norte do estado de Nova York.

Os pais do jovem, Bruce e Deborah Leonard, foram indiciados por homicídio. A meio-irmã, Sarah Ferguson, de 33 anos, e outros três membros da igreja foram indiciados por agressão.

Ao final da audiência de quarta, o juiz determinou que há provas suficientes para que o caso contra Ferguson seja levado adiante.

Christopher Leonard disse em seu testemunho que, após uma sessão de oito horas no domingo, dia 11 de outubro, a pastora Tiffanie Irwin pediu que a família Leonard e alguns outros ficassem para uma reunião.

O motivo?

O jovem magro e de óculos fez uma pausa e então disse apenas: “para falar sobre o que havíamos feito. Lucas e eu”.

Ele disse que ao lado do irmão respondeu algumas perguntas durante o interrogatório, mas que não quis responder outras.

Um memorial para Lucas Leonard é visto na quarta (21), em frente ao prédio da Word of Life Christian Church, onde ele e seu irmão Christopher foram espancados (Foto: AP Photo/Mike Groll)

Depois do que Christopher Leonard estimou terem sido seis horas ou mais, ele foi atingido com socos e chicoteado com um fio elétrico de mais de um metro, dobrado, em suas costas e outras partes do corpo. Ele sofreu ferimentos no tronco e nos genitais.

Mais tarde, disse, correu até Lucas no chão da sacristia, constatou que ele não estava respirando e tentou reanimá-lo, com a ajuda de um líder da igreja.

Impedido de embarcar no carro da família que levou seu irmão ao hospital, Christopher foi levado ao local por outros membros da congregação, mas não entrou. Em vez disso, foi levado de volta e acomodado em uma cama improvisada no segundo andar do prédio, uma antiga escola transformada em igreja. Ele dormiu, embora sentisse dores para respirar e tivesse vomitado diversas vezes.

A polícia disse que os pais e colegas da igreja não revelaram onde Christopher estava, e que as autoridades procuraram durante horas antes de um ex-integrante da congregação ajudar a localizá-lo por telefone.

O advogado da mãe diz que ela era tímida demais para interromper o espancamento. O defensor do pai diz que os promotores não provaram que o casal tinha a intenção de provocar ferimentos graves.

A pastora não foi indiciada e não comentou o assunto.

Deborah Leonard e Bruce Leonard, pais de Lucas e Leonard. em fotos cedidas pelo Departamento de Polícia de New Hartford, NY (Foto: New Hartford Police Department via AP)

Durante a audiência, Ferguson olhou fixamente para o chão em uma pequena corte que foi reorganizada por funcionários para que seu irmão pudesse ficar um pouco afastado dela enquanto estivesse depondo.

“Não consigo imaginar o stress sob o qual ele estava em ter que ir até a corte... para testemunhar contra sua irmã”, disse o promotor distrital Scott McNamara.

O advogado de Ferguson, Thomas O'Brien III, a descreveu como uma “muito doce” e carinhosa mãe de quatro filhos. Ele se recusou a fazer mais comentários.

O caso atraiu aos olhos do público os métodos da reclusa igreja em New Hartford, uma cidade de 22 mil habitantes a cerca de 80 quilômetros de Syracuse, onde muitos questionavam o que acontecia por trás daquelas paredes.

Desde as prisões, antigos membros descreveram uma antes vibrante e animada casa de adoração que declinou e se transformou em um local de medo e intimidação.

O tio dos jovens, Jimmy Stewart, disse na quarta que ele e sua mulher frequentaram a Word of Life na década de 1990, mas nunca se uniram à congregação porque sentiam que “algo não estava certo”. Os pastores da igreja proibiram então os meninos Leonard de se aproximarem de sua família, disse.

Stewart disse que havia muito se preocupava que “algo assim pudesse acontecer”.

Fonte: G1