O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, não vai fechar um acordo de delação premiada com a Justiça norte-americana caso seja extraditado e não pretende
entregar dados sobre outras pessoas envolvidas em supostos esquemas de corrupção no Brasil. A reportagem revelou com exclusividade que o ex-dirigente já considera aceitar a extradição aos Estados Unidos e negocia um acordo para poder aguardar o julgamento em prisão domiciliar.
A decisão sobre o destino do brasileiro seria tomada nesta semana. Mas deve ficar para o período entre os dias 22 e 24 deste mês por causa da presença na Suíça da procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch. A defesa dos acusados alertou que uma decisão de extradição aos Estados Unidos com a representante norte-americana em Zurique daria uma sinalização de que Washington estaria ditando o ritmo do processo.
Marin e outros cartolas foram detidos no dia 27 de maio na cidade suíça e a pedido da Justiça norte-americana. Segundo o inquérito dos norte-americanos, o brasileiro teria pedido que parte da propina relativa à Copa do Brasil fosse direcionado a ele, em uma conversa gravada com o empresário José Hawilla. Ele também aparece quando uma das empresas que comprou os direitos para a Copa América indica a distribuição de propinas para os dirigentes sul-americanos.
Um dos cenários que está sendo planejado por sua defesa é a transferência aos Estados Unidos. O brasileiro tem um apartamento em Nova York e negocia uma fiança milionária que o permitisse ficar em prisão domiciliar enquanto o julgamento ocorre.
Um dos impasses na negociação, porém, é o valor da fiança. Apesar de ter recebido uma oferta de “milhões”, a Justiça norte-americana ainda não aceitou o montante e insiste que precisa de “mais garantias financeiras”.
Segundo fontes do Departamento de Justiça, o que foi descartado por enquanto é uma delação premiada. Se inicialmente o FBI insistiu em conseguir de Marin uma colaboração, a proposta foi retirada da mesa.
Conforme a reportagem revelou, a Justiça norte-americana investiga Marco Polo Del Nero, presidente da CBF. A esperança do FBI era de que Marin pudesse contribuir para dar detalhes sobre Del Nero, assim como sobre Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. Fontes próximas ao caso indicam que vão voltar a fazer a proposta uma vez que Marin esteja nos Estados Unidos. Mas que essa não será mais uma condição para um acordo inicial para garantir sua prisão domiciliar.
Interrogatório
Na Suíça, Marin também não colaborou com as investigações conduzidas pelo Ministério Público sobre a corrupção no futebol conduzida por Berna. O brasileiro foi alvo de 50 perguntas em um interrogatório. Mas permaneceu em silêncio. Fontes do MP confirmaram que Marin fez parte da tentativa dos investigadores de entender o papel dos cartolas nos esquemas sob suspeita.
Uma fonte que esteve recentemente com o brasileiro contou que o cartola está “ansioso” diante da aproximação da data da decisão. Sem falar inglês ou alemão, Marin se comunica pouco na prisão. Ele passou os seus mais de três meses apenas lendo e deixou a barba crescer.
Marin também abandonou a ideia de escrever um diário. Orientado por seus advogados suíços, o brasileiro entregou tudo o que havia escrito. Caso ele seja extraditado, a decisão prevê que ele seja imediatamente retirado da prisão e levado para um avião. Tudo o que ficaria em sua cela seria confiscado pela polícia e o temor é de que o conteúdo do diário pudesse acabar vazando.
Na CBF
Marco Polo Del Nero articula a sua licença da presidência da CBF, mas vai ter de esperar para saber se o vice que quer pôr em seu lugar, Marcus Vicente, poderá assumir. Deputado federal, Vicente (PP-ES) fez consulta à Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) para esclarecer se poderia exercer ao mesmo tempo o mandato e a presidência da CBF. O relator Rubens Pereira Júnior (PC do B-MA) deu parecer favorável.
Mas nesta terça-feira a CCJ adiou a decisão porque cinco deputados pediram vistas. A dúvida é porque haverá acúmulo de salários. Pedindo licença, Del Nero, na mira do FBI e alvo da CPI do Futebol, poderá escolher quem fica em seu lugar. Se renunciar, o cargo passaria para Delfim Peixoto, da Federação Catarinense, seu adversário.
Fonte: Estadão
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