Um estudante foi baleado nas costas durante tentativa de roubo no campus Cidade Universitária da USP, no Butantã (zona oeste de São Paulo), por volta das 21h desta
terça-feira (1º).
A vítima, Alexandre Simão de Oliveira Cardoso, 28, está no quarto ano do curso de letras. Ele foi socorrido pela ambulância da USP e passou por cirurgia no HU (Hospital Universitário). Nenhum órgão foi atingido pelo disparo e o estado de saúde da vítima é estável.
A mulher, os pais e o irmão dele já estão no centro médico. Em choque, a mãe de Cardoso passou mal e teve de ser atendida no pronto socorro, segundo seguranças do hospital.
De acordo com o professor José Antonio Visintin, chefe de segurança da USP, o estudante foi surpreendido por três suspeitos enquanto se dirigia ao seu carro, estacionado próximo a um ponto de ônibus no prédio da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).
Escadaria da faculdade de letras onde estudante Alexandre Cardoso, 28, foi socorrido após ser baleado |
Segundo testemunhas, Cardoso teria se assustado e corrido dos criminosos, que reagiram e dispararam contra o estudante. Após ser ferido, ele tentou voltar para o prédio da faculdade, mas caiu próximo a uma escadaria, onde foi socorrido por outros alunos.
A guarda universitária foi chamada, e, por sua vez, acionou a Polícia Militar.
Alunos da faculdade de letras relataram que o caso ocorreu no intervalo das aulas. "Estava na sala e ouvi um barulho de tiro e um cara gritando que tinha sido baleado, mas não saí pra ver", disse Gabriel Campos, 23, quartanista de letras.
SUSPEITOS PRESOS
Três menores, entre 16 e 17 anos, foram apreendidos momentos após o caso, de acordo com a PM. Os três foram levados ao 91º DP (Ceasa) e estão sendo interrogados.
Um deles, de 17 anos, estava armado com revólver calibre 22. Ele já tinha passagem na policia por assalto, dentro da USP.
A PM diz que recebeu a informação de que os assaltantes teriam fugido de ônibus e passou a parar os coletivos ainda dentro da USP. Em um deles, encontraram o menor que estava armado. Os outros dois jovens, de 16 e 17 anos, foram localizados tentando fugir a pé, já fora da universidade.
Familiares dos adolescentes, que estão na delegacia, afirmam que os jovens moram na favela São Remo, ao lado da USP. Os parentes disseram ter sido informado por policiais que um dos jovens, de 17 anos, confessou ter atirado após a vítima reagir. Porém, à Folha, o delegado Omar Guerke negou e disse que ainda não havia confissão.
Uma das cápsulas do revólver apreendido tinha sido deflagrada. A apuração do caso é assessorada pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
"Pensei que ele estava na escola, mas aí passou o horário dele chegar e nada. Saí na rua pra ver e me falaram que ele tinha sido preso pela Rota assaltando na USP. Mas ainda não sei o que aconteceu, só estou tentando me acostumar com essa vida que ele quer levar. Ele já ficou um ano e três meses na Fundação Casa por sequestro, saiu faz um mês por bom comportamento", disse a mãe do menor de 16 anos.
"Eu sou assaltada direto. Eu falo pro meu filho: se você é o assaltante, eu sou a vítima", completa a mãe do adolescente.
O jovem de 16 anos está cursando a 7ª série do ensino fundamental e mora apenas com a mãe na favela São Remo.
Segundo Visintin, guardas comunitários da USP reconheceram um dos suspeitos por ter roubado um celular, há cerca de três meses, no entorno do prédio da ECA (Escola de Comunicação e Artes), também dentro do campus.
Alunos relataram clima de apreensão nos instantes após o ocorrido, com informações correndo de boca a boca pelos corredores.
"Passaram nas salas contando que tinha sido um assalto e pediram aos professores para liberar os alunos, pra que todo mundo pudesse ir embora junto. Mas aí cada um decidiu o que fazer, fizeram votação com os alunos. Alguns liberaram, outros deram aula normalmente", disse Brenda Morais, 23, aluna do terceiro ano de letras.
O professor João Azenha, que começou a dar aula de alemão depois do caso, afirma que seus alunos preferiram ficar. "Não estava perto quando aconteceu, então não ouvi nada. Parecia tudo bem tranquilo pra mim."
POLICIAMENTO CONTINUARÁ IGUAL
Para o coronel Kenji Konishi, diretor da Polícia Comunitária e de Direitos Humanos da PM, o caso não interfere nos planos da corporação, que aguarda aprovação da comunidade acadêmica para implantar um modelo de polícia comunitária na USP. Com o programa, que prevê integração entre alunos e PMs, já estava previsto um reforço no policiamento, além da instalação de uma base física da PM no campus.
"Assim que derem o aval para a implementação da polícia comunitária, mais PMs vão policiar a USP", afirma.
O professor Visintin também nega que o policiamento precise ser ampliado. "Eu acho que a polícia já está fazendo o papel dela. Não tem necessidade [de reforçar o policiamento]."
Magno de Carvalho, diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), afirma que o caso desta terça "comprova que o aumento da presença da PM na USP não resolve o problema da criminalidade". "Os guardas universitários conhecem a universidade, os pontos mais perigosos, os horários e locais por onde as pessoas mais se deslocam."
Carvalho opina ainda que seria necessário aumentar o número de guardas universitários de 47 para 180. "Mas não houve mais nenhum avanço nas discussões das entidades universitárias com a reitoria da USP. Só aumento de polícia, mesmo sem a oficialização disso."
Em maio de 2011, o estudante Felipe Ramos de Paiva, 24, foi morto com um tiro na cabeça no estacionamento da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), ao lado de seu carro, após reagir a um assalto.
Duas pessoas foram condenadas pelo crime. Irlan Graciano Santiago, que confessou ter atirado, foi sentenciado a 20 anos de prisão. Já Daniel de Paula Celeste Souza, a 14 anos.
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
O campus da USP terá um modelo novo de policiamento comunitário, com trabalho conjunto entre a Polícia Militar e a guarda universitária.
Inspirado num programa japonês, o mecanismo prevê uma base física, o Koban, e uma ação mais preventiva e envolvida com a comunidade. Segundo proposta da SSP (Secretaria de Segurança Pública), os policias que atuarem no campus terão até 26 anos, treinamento específico para lidar com a comunidade universitária e serão voluntários –apenas os que se propuseram a trabalhar na universidade serão deslocados para lá.
O coronel Kenji Konishi, afirmou em entrevista à Folha que, quando o modelo novo entrar em vigor, a polícia não irá interferir em manifestações na universidade. Ele disse porém que alunos encontrados com drogas serão abordados –a PM deve ser amiga do aluno, não do infrator, disse ele à reportagem.
De janeiro a julho deste ano, a USP registrou 129 furtos, 33 roubos, dois sequestros, três sequestros relâmpago e um estupro.
Conforme a Folha publicou em agosto, estudantes da USP relatam levar, como medida de segurança contra crimes no campus, spray de pimenta, canivete e até mesmo tênis –para ficar mais fácil correr dos bandidos.
As estratégias incluem também pagar vigias por escolta, andar em grupo, mudar trajetos e pedir carona aos pais.
Com 3,6 milhões de metros quadrados de área –mais que o dobro do Parque Ibirapuera–, a Cidade Universitária tem atualmente a segurança patrimonial feita por 47 guardas universitários, e a Polícia Militar é livre para circular.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!