Em um gol Rogério Ceni, no outro Cássio. Ambos chamados de “bicha” por boa parte dos torcedores presente ao Morumbi no domingo (9), quando São Paulo e Corinthians empataram pelo
Campeonato Brasileiro.
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A cena é recorrente e tem sido cada vez mais notada nos estádios pelo País, seja qual for o goleiro. Fernando Prass, Fábio, Diego Cavalieri. Basta o arqueiro adversário se preparar para a cobrança do tiro de meta e são ouvidos em alto e bom som os gritos de “biiiiiichaaaaaa”.
A atitude, inspirada em uma prática das torcidas mexicanas, foi vista pela primeira vez no Brasil em um clássico Glorioso de 2013. De lá para cá, todas as vezes em que os rivais paulistas se enfrentaram as tentativas de insulto se repetiram. Avesso à conduta de parte de sua torcida, e temerosos quanto a possíveis punições esportivas, o Corinthians chegou a divulgar um manifesto contra a homofobia e pedindo que seus torcedores deixassem de lado o grito para os rivais.
“Aqui é o Time do povo. Do povo e para o povo. Desde 1910, aqui se combateu o elitismo e o racismo. Aqui houve pioneirismo na inclusão social e racial. Aqui não tem pobre, rico, negro ou branco. Aqui somos todos Corinthians. Aqui nos engajamos para ir às ruas e brigar pelas ‘Diretas Já’ em um movimento inédito e histórico que uniu futebol e democracia. Como fazemos na arquibancada e em campo, aqui lutamos até o fim para que todos sejam iguais. E aqui não há, e nem pode haver, homofobia. Pelo fim do grito de ‘bicha’ no tiro de meta do goleiro adversário. Porque a homofobia, além de ir contra o princípio de igualdade que está no DNA corinthiano, ainda pode prejudicar o Timão. Aqui é Corinthians!”, dizia o até elegante comunicado.
Para impedir que a homofobia cresça nos campos de futebol, diversas torcidas têm surgido com o propósito de apoiar seus clubes e também a diversidade de gênero. Bambi Tricolor, Palmeiras Livre, Bahia Livre, Grêmio Queer e Galo Queer (“Queer” é um termo proveniente do inglês usado para designar pessoas que não seguem o padrão da heterossexualidade) são algumas delas. A pioneira foi a Gaivotas Fiéis, a torcida organizada gay do Corinthians fundada pelo jornalista Felipeh Campos após um lamentável episódio.
“Comecei essa história depois que um amigo foi agredido na avenida Paulista por ser homossexual. Tinha acabado um jogo no Pacaembu e os agressores eram torcedores do Corinthians. Pensei que eu precisava fazer alguma coisa para reverter a situação e atacá-los de alguma maneira”, lembra Felipeh, que desconfia dos gritos de “bicha” vindos das arquibancadas.
“Estádio de futebol é a maior manifestação gay que existe. São 60 mil homens vendo outros 22 homens correndo, todos empolgados, de shorts. Quando o time faz gol eles se beijam, se abraçam, pulam nas costas um do outro e dão tapinha na bunda. Eu acredito que tem uma coisa meio homossexual nisso tudo. Por isso, é preciso olhar direito para quem está gritando ‘bicha’, porque costumo dizer que ‘boi preto reconhece boi preto’”.
O parágrafo primeiro do artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva abre a possibilidade de um clube perder pontos, ou até ser excluído de uma competição, em casos de discriminação. E com a ressalva: se a discriminação for “praticada simultaneamente por considerável número de pessoas”.
No caso de preconceito racial a regra já foi colocada em prática. Na Copa do Brasil 2014, o Grêmio foi multado em R$ 50 mil e com a perda de três pontos no mata-mata depois de ofensas racistas ao goleiro Aranha, na época no Santos. Como já havia sido derrotado no primeiro jogo das oitavas de final, o Tricolor gaúcho acabou eliminado pelo Peixe. Entretanto, em episódios de intolerância de gênero, o futebol brasileiro ainda não viu nenhum clube ser punido.
Procurada por meio de sua assessoria de comunicação, a Comissão de Arbitragem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre os insultos.
Fonte: Portal Correio
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