A presidente Dilma Rousseff disse em entrevista para o jornalista Kennedy Alencar, exibida nesta quarta-feira (12) no telejornal "SBT Brasil", que não
pretende renunciar ao cargo. Ela não respondeu se o governo teria força para barrar um possível processo de impeachment e apontou um crescimento de intolerância e "cultura do golpe" no espectro político.
"Jamais cogito renunciar", assegurou a presidente, que criticou a tentativa de tirarem do poder uma "representante legitimamente eleita pelo voto popular". "Temos que ser capazes de conviver com as diferenças e situações difíceis", afirmou Dilma. "Mas temos que lutar contra a intolerância. Tem um processo de intolerância como não visto no Brasil, a não ser em momentos passados quando se rompeu com a democracia. Ela divide o país e transforma manifestações em processos que levam à violência".
Questionada se ela comparava sua atual situação com as de presidentes que deixaram o cargo antes de concluírem o mandato, como Getúlio Vargas, João Goulart e Fernando Collor, Dilma respondeu: "A cultura do golpe existe ainda, mas não acho que tenha condições materiais de ocorrer".
Movimentos como Vem pra Rua, Revoltados On Line e Movimento Brasil Livre estão convocando atos contra o governo Dilma para o domingo (16), em diversas cidades brasileiras.
Executivo x Legislativo
Ao longo da entrevista, a presidente Dilma se esquivou de tecer críticas à Câmara dos Deputados, que, liderada por Eduardo Cunha (PMBD-RJ), vem aprovando e rejeitando leis em desacordo com os interesses do Executivo.
Aprovado em primeiro turno na Câmara dos Deputados, o Projeto de Emenda Constitucional que pode aumentar o salário de delegados e advogados da União conforme os ganhos dos ministros do STF teve 445 votos a favor e representou uma derrota do governo no Congresso.
Tentando contornar a difícil situação com a Câmara, Dilma afirmou que em seu primeiro mandato, apenas um de seus quase 3.000 vetos presidenciais a medidas aprovadas no Congresso foram posteriormente derrubados. "Não acho que estejamos em isolamento político. Mas tem muita volatilidade nas relações políticas que contaminaram o ambiente", explicou.
No entanto, Dilma poupou o Senado e até fez elogios à iniciativa do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) de propor uma "Agenda Brasil" para ajudar a sanar a crise. "Tem muita coisa boa e tem várias coisas que o governo não concorda, mas não significa que a agenda não seja valorosa e uma grande iniciativa do presidente Renan para o povo. A vantagem dela é que coloca uma pauta que seja construtiva para o país e ajuda na discussão".
Crise e Lava Jato
Dilma declarou que já tem um "roteiro" de medidas que permitirão que o país consiga resolver parte da crise econômica atual. "A tendência é de melhorar a partir do fim do ano ou em 2016", adiantou, mandando um recado para os parlamentares que pretendem aprovar as chamadas "pautas-bomba" que poderão inflar o orçamento federal.
"Não e possível que a política comprometa a recuperação econômica. Não pode ter irresponsabilidade e vir com a teoria do 'quanto pior melhor'. Isso acaba afetando a população."
Apesar de discordar que tenha cometido "estelionato eleitoral" por não cumprir promessas da campanha de 2014, a presidente admitiu que poderia ter investido mais em infraestrutura para levantar a economia. "Acredito que deveria ter me esforçado para que o Brasil não tivesse tantas amarras pra investir", afirmou.
Sobre a Operação Lava Jato, no qual diversos empresários e políticos, incluindo nomes ligados ao Partido dos Trabalhadores, estão sendo acusados, Dilma disse que na posição de presidente não pode julgá-los. "Como presidente, posso defender a independência do Ministério Público e a autonomia da Policia Federal. Mas também tenho que o defender direito de defesa. Só vou emitir juízo sobre essas pessoas após elas terem amplo direito a defesa."
Fonte: Uol
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