Vincenzo Barrella desceu do céu ao inferno em um ano. Sua fábrica Speciallità vendeu até 4 milhões de vidros de esmaltes mensais em 2014 impulsionada por um mercado aquecido e campanha com a atriz global Giovanna
Antonelli. Mas aí veio a crise.
No início deste ano, o preço da água e da energia subiram, as vendas caíram para menos de 500 mil vidrinhos mensais, a produção encolheu. No fim, a metade dos 60 funcionários da fábrica de São Paulo foi demitida.
"A crise chegou a produtos considerados supérfluos", disse Barrella, 50, que se esforça para não demitir mais.
Motor da geração de empregos formais no país desde 2012, as micro e pequenas empresas brasileiras tiveram em maio mais vagas formais fechadas do que abertas, pela primeira vez desde 2009.
Editoria de arte/Folhapress |
Segundo dados do Sebrae, com base no Caged (cadastro do Ministério do Trabalho), o estoque de carteiras assinadas nas micro e pequenas encolheu em 456 vagas.
O número pode parecer modesto, mas em maio do ano passado o saldo positivo havia sido de 104 mil vagas. No pico, em 2010, foi de 1,6 milhão de empregos.
Os 9 milhões de micro e pequenas empresas são 99% das empresas do país, concentram 52% dos empregos formais e 25% do PIB.
Luciano Nakabashi, professor da USP Ribeirão Preto, diz que a tendência é de piora do emprego pela frente.
Ele lembra que a maior parte das micro e pequenas empresas (49% do total) atua no comércio, que começou a sentir mais fortemente a crise no início deste ano.
Considerando apenas esse segmento, foram fechados 6.007 postos de emprego formais em maio, segundo o Sebrae. A construção civil cortou 7.692 vagas no mês.
INFORMALIDADE
Para Marcel Caparoz, economista da RC Consultores, uma parcela das pequenas empresas também pode estar retornando para a informalidade por causa da crise.
A formalização do emprego no Brasil, diz ele, se deu nas micro e pequenas empresas. Hoje, esse processo parece paralisado.
O setor mais afetado, contudo, é o da pequena indústria de transformação, com o fechamento de 19 mil vagas em maio. Na pequena fabricante de parafusos Tec Stam, de São Paulo, um dos termômetros para avaliar a demanda do mercado é o número de ligações com pedidos de cotação. Mas há dias o telefone do escritório não toca.
Com a menor demanda da construção civil e de montadoras, a produção encolheu 35% desde setembro. Humberto Gonçalves, proprietário da empresa, teve que cortar de 38 para 36 o número de funcionários em maio.
"Após 22 anos de mercado, pela primeira vez, não somos capazes de enxergar quando as coisas vão melhorar", diz Gonçalves.
De acordo com o levantamento do Sebrae, apenas dois segmentos tiveram saldo positivo: agropecuária, com a geração de 16.910 postos, e serviços, com geração líquida de 14.963 vagas.
Fonte: Folha de São Paulo
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