A sanfona só vai roncar na cidade de São Gonçalo dos Campos (a 108 km de Salvador) daqui a um mês. Sem recursos para bancar a festa de São João, o prefeito resolveu inovar: adiou os festejos para a
segunda quinzena de julho, quando o cachê dos artistas de forró está em baixa.
Com Orçamento estrangulado, estragos causados pela seca ou pela chuva e queda drástica no patrocínio da Petrobras, cidades nordestinas cortaram os gastos com uma das maiores festas populares da região. Comemorado em 24 de junho, o dia de São João chega a durar um mês.
Agora, os dias de shows foram reduzidos e, em ao menos 20 cidades nordestinas, em Estados como Bahia, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe, nem festa haverá.
É o caso de Entre Rios, que tem uma das festas mais tradicionais do norte da Bahia. O município que viu seu filho ilustre, o ex-deputado Luiz Argôlo (SD), ser preso na operação Lava Jato, não obteve patrocínio da Petrobras.
Em nota, o prefeito Fernando Madeirol (PSD) alegou perda de receitas e o ajuste fiscal para cancelar a festa. "Se fosse realizada, comprometeria o pagamento dos servidores e os serviços de saúde e educação", disse.
Em Amargosa, no recôncavo baiano, a prefeitura cortou o investimento em 30%, para R$ 1,4 milhão. A festa costuma triplicar a população da cidade, de 50 mil habitantes.
"Foi muito difícil captar patrocínio este ano. Por isso, montamos uma estrutura menor e reduzimos os gastos em cachês das bandas", explicou a prefeita Karina Silva (PSB).
Segundo a confederação dos municípios, os repasses do Fundo de Participação dos Municípios, base do Orçamento da maioria das cidades nordestinas, caiu 1,4% este ano, com inflação de 6,4%.
Tradicional patrocinador, a Petrobras vai investir R$ 1,7 milhão em 14 cidades. O volume é 80% menor que o de 2014, quando distribuiu R$ 7,7 milhões a 130 cidades.
O governo da Bahia anunciou investimentos de R$ 11 milhões –20% a menos que no ano passado. Mas a Justiça suspendeu a distribuição de recursos aos municípios, a pedido do Ministério Público Estadual. A Promotoria alega que os gastos são irrazoáveis em época de crise e não seguem critérios objetivos. O governo irá recorrer.
SEM ÁGUA
Além da crise econômica, há municípios castigados pela seca e cidades que sofreram com as chuvas de abril e maio, como Santo Amaro e Candeias, na Bahia, que cancelaram os festejos juninos.
Segundo dados do Ministério da Integração Nacional, quase metade dos 1.804 municípios nordestinos tiveram pedidos de emergência ou calamidade aprovados este ano.
Em Campina Grande (PB), que disputa com Caruaru (PE) o título de maior São João do país, a seca forçou a ampliação do rodízio: moradores e turistas só terão água um dia por semana. No Parque do Povo, que abriga os principais shows, barracas e camarotes são abastecidos com carros-pipa.
A prefeitura, que reduziu o investimento de R$ 11 milhões para R$ 8,5 milhões, orientou restaurantes e hotéis a usar material descartável.
Também em racionamento, Sousa (PB) trocou a festa pelo aluguel de uma perfuratriz para furar cem poços artesianos. "Não vamos ter shows de artistas famosos. Mas prometi inaugurar com forrozinho pé de serra cada poço da zona rural", diz o prefeito, André Gadelha (PMDB).
Os poços custarão cerca de R$ 450 mil –menos que o cachê das duas duplas sertanejas que tocaram na cidade em 2014. "Foi uma boa troca", diz o prefeito, entre risos.
Mesmo com a crise, cerca de 200 mil pessoas são esperadas para cinco dias de shows no Pelourinho, em Salvador. Elba Ramalho, Daniel e Mastruz com Leite são algumas das atrações.
Fonte: Folha de São Paulo
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