Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que os micro e
pequenos empresários varejistas e prestadores de serviços (MPE) já sentem os efeitos da piora da economia. De acordo com o estudo, apenas 9% das MPEs pretendem contratar mão-de-obra nos próximos três meses – uma média de três funcionários por empresa. Para 32% dos entrevistados, a principal dificuldade enfrentada para a manutenção e o crescimento de suas empresas é o cenário político-econômico.
O estudo considerou apenas as micro e pequenas empresas com mais de um funcionário, e traçou o perfil dos gestores e das empresas desse segmento, além de mapear os fatores externos que influenciam seu crescimento e sustentabilidade. Com um faturamento médio anual de R$ 439 mil e mensal de R$ 36.500 mil, os empresários entrevistados pertencem ao segmento de Varejo (52,5%) dos setores alimentícios, vestuário, materiais de construção e móveis e decoração; e de Serviços (47,5%), do setor alimentício, serviços financeiros, tecnologia e informática, transportes, e da área da saúde.
Cenário político-econômico é o principal desafio para empresários
De acordo com os dados analisados na pesquisa, o perfil predominante do gestor de micro e pequenas empresas é do sexo masculino, tem de 35 a 54 anos, possui de ensino médio (36,4%) a superior completo (31,1%), e tem uma renda familiar entre 5 e 10 salários mínimos (R$ 3.940 a 7.888 mil).
Quando analisada a percepção sobre o que é ser um empresário no Brasil, a questão mais levantada pelos entrevistados é o desafio dessa posição. Segundo o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, o cenário político-econômico atual influencia fortemente essa percepção (para 32% dos entrevistados). “Outros dados citados pelos gestores são as altas taxas para abrir e gerenciar uma empresa, a possível falta de apoio do governo, e as dificuldades impostas pela instabilidade da economia brasileira”, diz Pinheiro.
A pesquisa identificou que, de fato, o cenário pode já estar influenciando os micro e pequenos empresários: 15% das MPEs pretendem demitir nos próximos três meses – uma média de dois funcionários por empresa. “Para os micro e pequenos empresários, além do cenário político-econômico (32%), as principais dificuldades para conduzir a empresa são a prática de conquistar e manter clientes (15,4%) e a carga tributária elevada (13,6%)”, explica o presidente.
Recursos próprios, cartão de crédito e cheque especial são usados como capital de giro
Também foi analisado na pesquisa o perfil das micro e pequenas empresas no Brasil. De acordo com os dados, 66% possuem entre um e quatro funcionários, e, em média, nove em cada dez colaboradores são registrados. Quando observado o tempo de atuação das empresas, 87% estão há mais de nove anos no mercado.
A pesquisa também mostra que 63% das MPE tiveram como capital inicial os recursos pessoais do empresário ou gestor, e 68% também os utilizam como a principal fonte do capital de giro. Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, é preocupante o número de pessoas que afirmaram fazer uso do cartão de crédito para este fim: praticamente dois em cada dez gestores ouvidos (17%) utilizam a modalidade como fonte de capital de giro.
Também são mencionados como fonte de capital o cheque especial (13,9%) e o empréstimo feito em nome da empresa (6,3%). “A citação do cheque especial para o capital de giro preocupa e indica que a qualidade do crédito tomado pelas empresas não é o ideal”, analisa a economista. De acordo com o Banco Central, os juros no cartão de crédito rotativo para pessoas jurídicas já chega a 211,60% ao ano (dados de março de 2015). No caso do cheque especial, os juros já chegam a 203,90% ao ano.
“Fica clara a falta de conhecimento dos pequenos empresários com relação ao crédito mais adequado quando comparamos com a taxa de juros para empréstimos destinados a capital de giro, de 23,4% ao ano”, explica a especialista. Para a economista, as taxas de juros extremamente altas das categorias de crédito podem acarretar em sérios prejuízos para a empresa, e até mesmo levá-la à inadimplência: cerca de 12% das MPE entrevistadas afirmaram serem devedoras atualmente.
22% das empresas não separam as finanças da empresa das pessoais
De acordo com a pesquisa, 94% das empresas possuem conta jurídica em banco, mas 22% dos empresários ainda não fazem a administração dos recursos pessoais e da empresa de forma separada. “A dificuldade em separar as finanças pessoais das pendências e responsabilidades da empresa é um problema na hora de contabilizar os lucros e prejuízos”, diz a especialista do SPC. “A falta de planejamento prejudica a profissionalização, e assim fica difícil medir o real desempenho da empresa e, principalmente, agir quando for necessário.”
Considerando as práticas de gestão empresarial adotadas pelos entrevistados, a demonstração mensal de receitas e despesas (82%) e o registro do livro-caixa (76%) foram os mais citados pelos micro e pequenos empresários.
“A pesquisa sugere que o micro e pequeno empresário brasileiro é experiente e está acostumado a passar por muitas adversidades. São capazes de sobreviver num ambiente político-econômico desfavorável e sujeito a muitas mudanças”, indica o presidente da CNDL. “Ao mesmo tempo, ainda precisam ampliar seus conhecimentos sobre a educação financeira, o financiamento público e o capital de giro”, conclui Pinheiro.
Fonte: Portal Noar
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