Vídeos gravados pela Polícia Militar revelam como é fácil escavar túneis na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, maior unidade prisional do Rio Grande do Norte – muito em razão, segundo a própria polícia, da fragilidade do
material que é empregado na estrutura física do local que foi recentemente reformado. O G1 teve acesso exclusivo às imagens. Nelas, um policial do Batalhão de Choque aparece utilizando apenas um pedaço de pau para abrir buracos no piso do Pavilhão 4.
O Pavilhão 4, até o momento, foi o único reformado após a destruição causada pelos apenados durante as rebeliões que ocorrem no mês de março. Das 33 unidades prisionais do estado, em pelo menos 14 delas houve vandalismo e depredação. Em Alcaçuz, os danos foram maiores.
As imagens foram feitas entre os dias 15 e 18 de maio, quando a empresa LMX Empreendimentos EIRELL, responsável pela obra entregou o serviço. Foram recuperados o telhado, grades, celas e 165 camas de concreto, além de toda as instalações elétricas e hidráulicas das carceragens e da quadra. Na semana seguinte, os presos foram recolocados no pavilhão. O G1 tentou ouvir a empresa, mas não conseguiu contato.
A reforma do Pavilhão 4 faz parte da primeira etapa de recuperação dos quatro pavilhões de Alcaçuz. A empresa foi a vencedora de um chamamento público para a reforma de 16 unidades prisionais do estado, que decretou calamidade no sistema penitenciário no dia 17 de março, um dia antes de cinco porta-vozes do movimento liderados pelos presos anunciarem o fim dos motins.
Segundo a Secretaria Estadual de Infraestrutura, o trabalho no Pavilhão 4 foi refeito após a PM alertar para a qualidade do serviço executado. Segundo o secretário Jader Torres, ouvido pela Inter TV Cabugi, o serviço agora pode ser considerado satisfatório e de boa qualidade. “O piso do Pavilhão 4 já era de boa qualidade. Não foi preciso fazer qualquer tipo de reforço. É totalmente seguro”, garante.
Túneis
No dia 2 de junho, uma bertura de túnel foi encontrada na quadra do Pavilhão 4. A escavação foi a terceira em menos de uma semana. No dia 28 de maio, agentes encontraram um túnel com aproximadamente 10 metros de extensão. Dois dias depois, um novo túnel, também escavado a partir do Pavilhão 4, foi localizado. Inclusive, com uma abertura já na área externa da penitenciária.
Segundo a direção da unidade, um preso identificado como Anderson Carlos Inácio do Nascimento, de 30 anos, é considerado desaparecido. A fuga dele ainda não pode ser confirmada porque, segundo o diretor Eider Brito, há a possibilidade de o apenado estar soterrado. É que parte do túnel desmoronou quando os presos tentavam escapar.
"Depois que fizemos a recontagem, verificamos que faltava um preso. E foram os próprios colegas de cela que disseram que o Anderson pode estar soterrado. Somente depois de encerrarmos as buscas é que poderemos afirmar que ele fugiu”, explicou Brito. No sábado, um novo túnel foi achado.
Insegurança
Não foi apenas o Pavilhão 4 de Alcaçuz que foi alvo de preocupação da Polícia Militar, mas toda a penitenciária. Relatório elaborado pelo Batalhão de Choque ao fim de uma intervenção na unidade, datado de 12 de maio (logo após o governo decretar estado de calamidade no sistema prisional potiguar), aponta para a possibilidade de existirem armas de fogo em poder dos detentos da penitenciária.
O relatório faz outras 11 advertências quanto às condições de segurança na unidade, dentre elas a constatação de que mais de 900 apenados permanecem soltos dentro de seus respectivos pavilhões, que sem a vigilância dos agentes só aumenta a velocidade e agilidade dos presos na escavação de túneis e a possibilidade de ocorrerem fugas a qualquer momento. Por fim, ainda foi feito um pedido para que seja feita a retirada de areia que foi colocada pelos presos na laje do teto do Pavilhão 2. “O que pode vir a ocasionar comprometimento das fundações”, reforça o comandante.
Fonte: G1
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