A
Câmara Municipal de Campinas viveu clima de clássico de futebol durante a
audiência pública que discutiu, nesta segunda-feira (1º), a inclusão na Lei
Orgânica do projeto de resolução que veta
discussões sobre ideologia de gênero
em escolas municipais da cidade. Cartazes, vaias, faixas e gritos de protestos
foram usados por dois lados do público presente na casa, cerca de 200 pessoas
entre quem é contra ou a favor o veto de autoria do vereador Campos Filho
(DEM).
Com
os ânimos dos presentes ao plenário exaltados, a audiência não terminou e
haverá uma nova reunião para dar continuidade ao debate, ainda sem data
definida. O último a discursar foi o juiz Fábio de Toledo, cujo espaço foi
cedido pelo vereador Joziel Silva (PP). Na rápida fala, interrompida por vaias
e gritos de "assassino", o jurista viu o público presente trocar
ofensas como em um jogo de futebol e, com a audiência encerrada, decidiu
conversar com representantes dos grupos contrários ao veto.
Purpurina
"Não
quero acreditar que o projeto vai proibir se mencionar em uma escola o que é
uma ideologia do gênero. Se proibisse de fazê-lo, penso que seria
inconstitucional este projeto. O que se queria era fazer apologia à ideologia
do gênero como uma visão completa de ser humano na sua vivência da sexualidade,
a isso que nós nos opomos", explicou Toledo, que ficou com o terno coberto
por purpurina jogada pelos manifestantes. "Vou para casa feliz por estar
banhado de purpurina, pois queria debater de igual para igual", disse.
A
audiência desta segunda-feira abriu espaço de manifestação para todas as vozes.
A tribuna contou com vereadores que se opõem ao projeto, representantes de
coletivos feministas e LGBT, além dos vereadores que apoiam o projeto e os seus
convidados. Cartazes defendendo a discussão sobre ideologia de gênero dividiam
espaço com faixas que traziam a palavra "família". Logo nos primeiros
minutos o clima de "torcida" causou a interrupção da audiência, com
empurra-empurra e gritos dos dois lados.
De
acordo com um dos representantes do grupo Domínio Público, gritos racistas
foram entoados contra manifestantes negros. "Eles gritaram 'negro fede'
para nossos colegas. Isso nos causou muita revolta", explicou Guilherme
Azevedo, que usava saias para protestar a favor da ideologia de gêneros.
Do
lado favorável ao veto, o público reclamou por conta de um dos manifestantes
ter atirado purpurina sobre eles. "Eles são muito radicais, não aceitam
qualquer opinião contrária", disse Vera Bellini, que levou um cartaz
"em defesa da família". Cerca de cinco pessoas promoveram um
'beijaço' como forma de protesto. Duas representantes à mesa também se beijaram
durante o discurso do vereador Campos Filho.
Vaias
na "arquibancada"
O
público contrário à proposta vaiou de maneira mais intensa o discurso de
Campos, Jorge Schneider (PTB) e do representante do Observatório Interamericano
de Biopolítica, Enrico Misasi. "Homossexuais são categorias
abstratas", disse Misasi momentos antes de ser interrompido por vaias. "O
que se quer é colocar a ideologia de gênero no lixo, que é o lugar onde ela
deve estar", discursou Campos pouco antes de ter a fala engolida por
gritos e vaias.
"Isso
[vaias do público] faz parte da democracia, o assunto é tão caliente que a
adrenalina vem. [A acusação de que] é uma emenda que se proíbe a discussão não
é verdade, a discussão aconteceu aqui", disse o vereador Campos Filho. Os
representantes dos grupos à mesa também viraram a cadeira durante a fala do
vereador.
"A
medida é antidemocrática, pois a diversidade existe, sim. Queremos dar
visibilidade para que uma barbaridade desta não seja aprovada em Campinas. Eles
trouxeram teólogos para falar na última sessão [dia 29], mas o estado é laico.
A diversidade religiosa não deve se opor às políticas públicas", protestou
a professora Carolina Figueiredo, representante do grupo Rosa Lilás.
Após
todo o processo de discussão e legalidade, a aprovação do veto depende de
votação única (17 dos 32 votos), e a decisão em plenário deve ocorrer somente
no segundo semestre, informou a Câmara Municipal.
Fonte: G1
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