Na Igreja Católica Apostólica Romana, o celibato é condição para o sacerdócio. Isso significa que os padres devem permanecer solteiros e castos. Porém, os sacerdotes nem sempre conseguem sublimar seus desejos, caso de Alberto
Cutié, 45, de Miami, nos Estados Unidos. Depois de ter sido pego trocando carícias com uma mulher em uma praia quando ainda era um padre católico, ele deixou o sacerdócio para se casar.
Segundo Cutié, o amor por sua mulher, Ruhama, aconteceu à primeira vista, quando se conheceram na paróquia, porém o casal resistiu por muitos anos até ceder ao sentimento. Ele, que agora atua como padre anglicano episcopal, vertente que admite o casamento, disse que abandonou o antigo posto por muitas razões ideológicas, incluindo o celibato. "Soube que Deus queria que eu fosse um padre casado", diz o religioso, que contou sua história no livro "Dilemma: A Priest´s Strugle With Faith and Love" ("Dilema: A Luta de um Padre com a Fé e o Amor"), ainda sem tradução em português.
João Tavares, 74, de São Luís, que foi padre por 11 anos, avalia que é muito difícil manter o voto de castidade. "É uma violência contra a natureza humana, que Deus fez sexuada, e leva a pessoa, por mais boa vontade que tenha, a viver em um eterno desequilíbrio", afirma. Depois de deixar a função sacerdotal, Tavares se casou, teve duas filhas e hoje integra a diretoria do Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados.
Para Tavares, sacerdotes sérios e bem formados aprendem a lidar com a sexualidade de forma responsável, mas a tarefa nunca é fácil. "O problema sempre vai existir, pois os padres não são castrados."
Celibato e vocação
Recentemente, o papa Francisco declarou que o celibato não é um dogma para a Igreja Católica, ou seja, não consiste em um ponto indiscutível --tanto que os ortodoxos aceitam o casamento de seus sacerdotes--, mas que aprecia essa "regra de vida".
Segundo dom Antonio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, existe uma explicação para o celibato. "Ele é necessário para que os sacerdotes possam se dedicar totalmente ao trabalho e viver plenamente a entrega a Deus", fala o religioso.
Mesmo tendo vivenciado o celibato por 22 anos, o ex-padre Roberto Francisco Daniel, 49, de Bauru (SP), excomungado pela Igreja Católica por criticar, entre outros temas, a moral sexual da instituição, não vê vantagens na condição. Para Daniel, o celibato foi criado por razões econômicas, já que seria mais fácil administrar padres solteiros do que casados. "Não tem justificativa teológica. O celibato não foi obrigatório durante mil anos ano da Igreja."
Padre Beto, como é conhecido, defende que o celibato seja opcional. Ele diz acreditar que a vocação para o sacerdócio e a inclinação para ser celibatário são coisas distintas. "Tenho colegas que se mantêm no celibato, porém sentem falta da vida sexual, de uma companheira e têm problemas afetivos, apesar de serem excelentes padres."
Por opção
Tornar o celibato opcional seria uma forma de melhorar a vida afetiva dos sacerdotes, na opinião de padre Beto, já que nem todos estão preparados para vivenciá-lo. "Teríamos religiosos mais sadios e uma diversidade na comunidade com padres casados e solteiros", diz.
Para João Tavares, o trabalho de sacerdote não seria prejudicado pela vida conjugal. Ele afirma que a experiência de pai e marido ajudariam na função ministerial. "É possível trabalhar com mais equilíbrio, realização sexual e emocional." Segundo ele, existem atualmente 7.000 ex-padres casados no Brasil.
"Sou um padre melhor como um homem casado", diz Alberto Cutié. Apesar de não questionar o desempenho dos sacerdotes casados, dom Antonio defende a disponibilidade que o celibato promove e não acha que a sexualidade seja um problema para os padres. "É mais difícil viver a sexualidade no casamento do que no celibato", diz.
Mesmo fora da Igreja Católica, padre Beto continua celebrando missas e casamentos. Mas agora, se quiser, tem liberdade para romper o celibato. "Não está nos meus planos casar, mas, sim, ter relacionamentos ", diz.
Fonte: Uol
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