A suspensão pelo ato de indisciplina que tirou Neymar de forma precoce e inesperada da Copa América não reduz o espaço que o craque do Barcelona tem na seleção brasileira: ele continuará sendo o melhor jogador e
titular absoluto de Dunga. O caso não é o mesmo, no entanto, para o status dele. Se o atacante iniciou a competição como capitão e líder emergente da seleção pós-7 a 1, agora terá de reconquistar tal papel, abalado por uma conduta que foi reprovada pela comissão técnica da seleção.
Publicamente, Dunga não culpou Neymar pela expulsão contra a Colômbia, no segundo jogo da Copa América 2015, após acertar uma bolada em Pablo Armero, tentar uma cabeça em Jeison Murillo e insultar o árbitro chileno Enrique Osses. Pelo contrário, até chegou a ironizar, em ato em defesa de seu camisa 10. Mas se havia alguma dúvida de que a comissão técnica não aprovou a conduta daquele que escolheu para liderar essa seleção em plenos 23 anos, a entrevista coletiva do auxiliar técnico Mauro Silva e do preparador de goleiros Taffarel - ambos ex-jogadores da seleção liderada por Dunga em 1994 -, nesta quarta-feira, encerrou o assunto.
Taffarel confirmou com todas as palavras, em público, aquilo que Enrique Osses relatou em súmula e o que definiu a suspensão de quatro jogos. Falou que Neymar, de fato, teve de ser contido no túnel dos vestiários do estádio Monumental, em Santiago, após ser expulso, ao buscar contato com o árbitro chileno para insultá-lo.
"Quando o Ney foi, comecei a ver o túnel, muitas pessoas da comissão, nosso segurança Fernandão, todo mundo estava tentando leva-lo para o vestiário. Ele disse: 'Não, vou ficar aqui, quero falar com o árbitro'. Todo mundo tentou tirar ele e não conseguiu. A partir daquele momento entrei no vestiário e não vi mais nada. Presenciei muita gente tentando leva-lo pro vestiário. Aquilo foi uma decisão dele", falou o preparador de goleiros, afirmando que membros entre jogadores, comissão técnica e seguranças da seleção brasileira tentaram, em vão, impedir que Neymar falasse com Osses.
Outra frase emblemática na entrevista coletiva em Santiago veio de Mauro Silva. O ex-volante afirmou em setembro de 2014, em entrevista à Folha de S. Paulo, que serviria também como analista de comportamento da nova seleção de Dunga. E nesta quarta-feira, no início da conversa com jornalistas, citou o ex-meia Raí como exemplo de conduta por ter perdido a vaga de titular e a braçadeira de capitão durante a Copa do Mundo de 1994, e mesmo assim ter mantido a liderança do banco de reservas, sem jogar. Ao ser questionado sobre qual análise fazia e o que achava da situação de Neymar que, também capitão, foi expulso, suspenso e deixou a concentração no Chile nesta Copa América, ele se esquivou. Sem críticas públicas, disse que sua análise foi dita a Dunga e ao coordenador de seleções Gilmar Rinaldi, e que não seria dita naquele momento em frente à imprensa.
"A questão de análise e tudo que eu faço, em determinados momentos, se eu faço, tenho de levar para o Gilmar e para o Dunga. Não cabe a mim publicamente julgar o comportamento do Neymar. Se eu tenho minha forma de pensar, devo passar minha forma de pensar a eles e não aqui", disse.
Apesar de publicamente até agora Dunga ter defendido Neymar, membros da própria CBF falaram à própria Conmebol antes mesmo da decisão do Tribunal Disciplinar de suspender o atacante que seu comportamento foi reprovado. Depois do gancho de quatro partidas, veio a decisão da confederação de não recorrer da decisão, mesmo com a possibilidade de reduzir a pena de quatro para três partidas e ter Neymar numa possível final de Copa América - a CBF ainda poderia tê-lo levado à Câmara de Apelações para prestar um depoimento e descartou a alternativa. Mesmo deixando Neymar à vontade para decidir se ficaria ou não no Chile com a delegação, internamente membros da CBF consideram que a presença do camisa 10 - astro e capitão - durante mais de dez dias no Chile sem poder treinar nem jogar não seria benéfica para o grupo.
Mesmo sem ser culpado por Dunga, Neymar pediu perdão ao deixar a concentração do Brasil no Chile. Sua conduta ainda não havia sido apontada como reprovada por ninguém dentro da CBF, e ele mesmo assim pediu desculpas. Disse ainda que sua presença atrapalharia a seleção, versão que acabou reforçada por relatos internos. "Ficar aqui poderia trazer para um ambiente de concentração assuntos que tirariam o foco do principal objetivo da Seleção. Peço perdão aos meus companheiros, por ter me permitido estar nessa situação", disse Neymar, em comunicado, pouco antes de deixar Santiago na manhã da última segunda-feira.
Por tudo isso, Neymar terá de reconquistar o status e o papel de líder. Logo no segundo teste oficial Neymar falhou na prova como líder de uma nova seleção, que se recupera de um vexame, e tem como objetivo principal a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, partindo de um ciclo de reconstrução em quatro anos. Para a comissão técnica, a conduta foi reprovada. Haverá perdão, como o próprio atacante pediu ao povo pelo erro que nem Dunga apontou publicamente, mas para isso será preciso convencer o treinador de que houve mudança.
Fonte: Uol
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