Aos 89 anos, a escritora Maria Lygia Rodrigues Faria lança nesta quarta-feira (24), em Brasília, o décimo terceiro livro da sua carreira: "Triunfos do Amor", uma coletânea de 13 contos românticos
carregados de erotismo. Para a artista, que tem 15 bisnetos e já escreveu até livros infantis, "sexo é a coisa mais linda do mundo e não deve ser escondido".
Além do teor picante, as 138 páginas do livro abordam assuntos polêmicos como romances de freiras e padres entre tio e sobrinha. Sexo na terceira idade e inseminação artificial também são temas tratados na coletânea. A artista diz estar preparada para os críticos, a quem chama de "caretas".
"Sei que muitas pessoas vão achar tabu, principalmente pela minha idade – uma mulher beirando os 90 anos falar de sexo como eu falo no livro", diz. "Acho caretice. [Sexo] não existe? Não foi feito para o homem e para a mulher? Não foi feito para amar? Então por que vou fazer disso um tabu? Tem que ser tudo com muita naturalidade. Não com sem-vergonhice, não com imoralidade. Mas contar o sexo como é não é vergonha. É natural."
A autora afirma que nenhuma das histórias narradas por ela é inspirada em fatos reais, mas diz que mergulhou na memória para descrever algumas cenas, principalmente as mais "prazerosas" (veja vídeo). Muitos contos se passam em lugares que Maria Lygia descreve em detalhes, mas que ela afirma nunca ter conhecido, como a capital da França e até mesmo motéis.
Um dos contos favoritos da escritora e que ela diz ter tido mais dificuldade em encontrar um desfecho se passa no Rio de Janeiro, onde ela nasceu, e gira em torno de um casal de idosos.
"Eles moravam no mesmo prédio em Copacabana e se cumprimentavam todos os dias. A amizade foi crescendo, começaram então a passear na praia e acabam indo para o motel", diz. "Quando ela avisa aos parentes que está gostando de uma pessoa, o genro e a filha fazem um verdadeiro escândalo. A família se revolta por achar um absurdo um casal de velhos se apaixonar."
Maria Lygia diz que passou dias tentando encontrar uma solução para o casal ficar junto e que chegou a consultar a psicóloga para decidir que fim dar ao impasse dos idosos, que vence barreiras para viver o romance.
Em outro conto, a sobrinha pianista viaja para passar uma temporada com o tio, também músico, em Paris. "É uma história vivida antigamente, na época dos cabarés. Ela faz sucesso e eles acabam se apaixonado e tendo um caso de amor", diz.
"Já a história do padre se trata de duas crianças que se conhecem desde pequenas. Ele se torna padre e ela professora, e vão crescendo naquele amor profundo um pelo outro e acabam se apaixonando. Ela acaba esperando um filho dele e ele renuncia tudo por conta do amor deles."
Maria Lygia diz que, assim como a freira que se apaixona pelo pescador em um de seus contos, ela cresceu sem conhecimento algum de sexo. "Isso me causou problemas na fase da adolescência para a fase adulta. Era um tabu. E acho que não deve ser. É a coisa mais natural do mundo e a mais linda. Desde então, passei a ver o sexo como uma coisa maravilhosa e para ser vivida intensamente."
Paixão pela arte
A artista conta que se apaixonou pela escrita aos 8 anos, ao ver o pai recitando um poema, mas lembra que foi expulsa de casa por ele quando passou no vestibular. "Meu pai não queria que eu fosse fazer belas artes porque pensava que não era um lugar próprio para mulheres. Lutei e fiz porque achei que mulher tinha direito a tudo nesse mundo. A mulher tem que lutar pelo lugar dela e não deve se esconder por ser mulher", diz.
As páginas do livro foram escritas à mão, em casa, e digitadas posteriormente por familiares e editores. "Não tem hora, não tem lugar para escrever. Sento, tenho a cadeira no quarto, e escrevo. O que estou com vontade de escrever escrevo."
Escritora lê trecho de livro publicado por ela (Foto: Isabella Formiga/G1)
Casada por 44 anos, Maria Lygia conta que perdeu o marido há quase três décadas. O filho também faleceu, em janeiro deste ano. Abalada, a autora diz que tenta tocar a vida, e para isso "devora" toda leitura disponível em casa, além de escrever e pintar fervorosamente. "Sempre fui apaixonada por escrever história, versos, poemas, mas depois fui me dedicando mais à pintura", diz ela.
Com problemas na vista e dores no braço e no joelho, a artista diz ter dificuldades em continuar pintando. "Com o tempo, vou perder a visão. Vou ter que arrumar um jeito para continuar fazendo alguma coisa", diz ela, que já pintou centenas de quadros, muitos dos quais decoram a casa em que vive no Setor de Mansões do Lago Norte. Ela também ganhou dezenas de prêmios e condecorações.
A escritora e pintora diz ainda ter muito a ser vivido, que já planeja um novo livro e afirma que não há idade para amar e viver romances. "Para fazer sexo não tem idade, desde que tenha a disposição para fazer", diz. "Acho que nascemos para sermos felizes. O coração ama até parar de amar."
O lançamento do livro "Triunfos do Amor" será realizado nesta quarta-feira, às 19h, no restaurante Carpe Diem, na 104 Sul.
Fonte: G1
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