O fim da missão Messenger, na semana passada, marcou o encerramento do primeiro reconhecimento completo do
planeta Mercúrio.
Apesar do sabor agridoce que envolve o inevitável fim de qualquer missão espacial, a Nasa preferiu realçar o enorme sucesso da sonda.
Ao longo dos últimos quatro anos, a Messenger transformou o que até então era o "patinho feio" do Sistema Solar em um planeta cheio de mistérios, guardião de segredos sobre os processos de formação planetária e quiçá da origem da vida na Terra.
Até então, apenas uma outra espaçonave havia passado por lá –a americana Mariner-10–, e ainda assim sem chegar a entrar em órbita do pequeno mundo.
Para que se tenha uma ideia, tudo que tínhamos sobre Mercúrio antes da Messenger equivalia a um mapeamento de cerca de 45% da superfície, feito em baixa resolução.
Observá-lo com telescópios também não é a coisa mais fácil do mundo. Como ele é o planeta mais próximo do Sol, sua posição no céu nunca se distancia muito da do astro-rei. E aí o problema é grande.
O Telescópio Espacial Hubble, por exemplo, nunca pôde ser apontado para Mercúrio, pelo risco de que a luz solar danificasse sua delicada óptica.
Ainda assim, observações feitas em rádio pareciam sugerir que Mercúrio abrigava gelo de água no fundo de crateras polares. E essa foi uma das constatações mais importantes feitas pela Messenger.
É estranho imaginar que num mundo tão perto do Sol a estrela lá parece três vezes maior, se comparada com a visão que temos da superfície terrestre seja possível haver gelo.
Embora durante o dia mercuriano as temperaturas atinjam cerca de 430 graus Celsius, no fundo dessas crateras polares o Sol nunca bate. E como não há atmosfera para transportar o calor, à sombra é sempre muito frio – centenas de graus abaixo de zero.
Os cientistas imaginam que o gelo tenha ido parar lá pelo impacto de cometas, assim como grandes quantidades de material escuro, provavelmente orgânico, que o recobrem no fundo desses buracos.
Compostos orgânicos e água são basicamente os dois ingredientes mais importantes para a vida, e especula-se que cometas e asteroides também possam tê-los trazido para a Terra no passado remoto.
Assim, ao analisar o material nas crateras polares de Mercúrio, podemos talvez dar uma olhada na química que foi precursora da vida por aqui.
Em entrevista coletiva que marcou os maiores sucessos da sonda, Sean Solomon, cientista-chefe da missão, indicou que esse pode ser o próximo passo.
"Eu adoraria saber o que é aquele material escuro junto com o gelo de água. É um palpite informado que ele seja material orgânico", disse. "Um módulo de pouso poderia nos dar essa resposta."
PRINCIPAL REVELAÇÃO
Para Solomon, contudo, a principal revelação feita pela Messenger foi a de que diversos elementos voláteis, que em tese não deveriam estar presentes em Mercúrio, estão lá.
Isso, de acordo com ele, obrigará os cientistas a voltar às pranchetas para compreender o processo que levou à formação dos planetas solares.
Uma coisa é certa: Mercúrio nunca mais será visto da mesma maneira depois da Messenger. Lançada em 2004, ela deveria ter passado no mínimo um ano em órbita do primeiro planeta. Acabou durando quatro.
Com seu combustível completamente esgotado, a pequena espaçonave impactou contra a superfície daquele mundo conforme o previsto pelos engenheiros, abrindo uma cratera com estimados 16 metros de diâmetro, após um impacto a uma velocidade de 14 mil km/h.
Sem ela em órbita, não temos como identificar essa nova cratera agora. A espera deve durar até 2024, quando a missão nipo-europeia BepiColombo entrará em órbita de Mercúrio. O lançamento está marcado para 2017.
Fonte: Folha de São Paulo
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