O jornalista Ricardo Setti, do site da revista VEJA, foi o entrevistado do Roda Viva exibido na segunda-feira (4) na TV Cultura de São
Paulo.
Entre as histórias de seus 50 anos de jornalismo, ele relembrou duas coberturas polêmicas sob o comando dele. A primeira foi em abril de 1989, quando Setti era diretor do Jornal do Brasil.
Uma matéria apurada durante semanas pelo repórter Luiz Maklouf de Carvalho revelou a existência de Lurian, filha que o então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva teve antes de se casar com dona Marisa Letícia, e que o político jamais havia citado publicamente.
Setti contou que Lula telefonou para a redação para protestar contra o que classificou como “sacanagem” do jornal. De acordo com o jornalista, o petista não contestou nenhuma informação do texto publicado no JB.
Meses depois, a mãe de Lurian, a enfermeira Miriam Cordeiro, protagonizou aquela que talvez seja a maior baixaria já vista numa campanha presidencial.
Na reta final do segundo turno foi exibido um depoimento de Miriam no programa eleitoral de Fernando Collor. A ex-namorada de Lula acusou o petista de tê-la abandonado no começo da gravidez e, depois, pedido a ela que fizesse um aborto.
Aquele material bombástico teria sido determinante para a vitória do ‘caçador de marajás’ contra o sindicalista e ex-metalúrgico, assim como pesou no resultado daquele pleito a edição manipulada do último debate entre Collor e Lula na Globo.
A segunda cobertura rememorada por Ricardo Setti no Roda Viva envolveu Fernando Henrique Cardoso, ocupante da Presidência de 1995 a 2002.
O boato que o tucano, casado havia décadas com dona Ruth Cardoso, tinha um filho com Miriam Dutra, repórter da Globo em Brasília, sempre circulou pelas redações. Sabia-se inclusive que ela havia sido enviada pela emissora para a Espanha, a fim de evitar o assédio da mídia.
Porém, até a publicação de uma matéria de capa da revista Caros Amigos, no ano 2000, nenhum outro veículo havia abordado a questão. Na opinião de Setti pode ter havido por parte da imprensa uma “superproteção” do tucano.
Ao assumir a direção da Playboy, famosa não apenas pelos ensaios de nudez mas também pelas entrevistas e matérias investigativas, o jornalista deu a um repórter a missão de levantar a história do tal filho ‘fora do casamento’ que Fernando Henrique manteria em segredo.
Depois de meses de apuração, nenhum elemento concreto foi encontrado e, como se diz no jargão jornalístico, a pauta ‘caiu’. Após a morte de dona Ruth, em 2008, o assunto passou a ser tratado pela imprensa sem tanta reserva.
Ninguém previu o final novelesco da história: dois anos depois de o ex-presidente reconhecer a paternidade do rapaz em cartório, dois testes de DNA, feitos a pedido dos três filhos do tucano com dona Ruth, revelaram que ele não era o pai biológico do filho da jornalista da Globo.
Os dois episódios relembrados por Ricardo Setti na TV suscitam alguns questionamentos: qual o limite entre o público e o privado? A intimidade de figuras populares, como atores e políticos, deve ser preservada? Jornalistas têm obrigação de revelar tudo o que descobrem? A vida afetiva de homens políticos interessa ao cidadão?
Não há consenso sobre as respostas.
Fonte: Portal JH
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