Incomodado com o esgarçamento da relação do governo com o Congresso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem articulando diretamente com lideranças petistas
de Câmara e Senado.
De janeiro para cá, ele intensificou os contatos e passou a dar orientações diretamente a correligionários.
A articulação política do Palácio do Planalto tem sido duramente criticada pela base aliada. Os principais alvos da insatisfação são os ministros da Relações Institucionais, Pepe Vargas, e da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Na tentativa de aparar arestas com o Parlamento, Lula convenceu a presidente Dilma Rousseff a incluir outros nomes na coordenação de governo. Pressionou, até conseguir, a inclusão do vice Michel Temer (PMDB) no núcleo duro. Eduardo Braga (PMDB), ministro de Minas e Energia, e Gilberto Kassab (PSD), das Cidades, também foram admitidos no grupo.
Petistas já defendem a ida de Jaques Wagner (Defesa), considerado um articulador mais habilidoso que Mercadante, para a Casa Civil.
Apesar da ideia, Dilma não permite nem sequer que auxiliares tratem do tema.
Lula, que passou a reunir-se com mais frequência com Dilma nas últimas semanas da crise, tem pedido a parlamentares petistas que orientem a bancada a defender o governo nas tribunas.
Embora crítico de diversos atos da sucessora, o ex-presidente argumenta que a base aliada, sobretudo o PT, não pode silenciar diante de ataques oposicionistas.
Na terça (17), dois dias após os protestos contra o governo e o PT em diversas capitais do país, Lula recebeu deputados e senadores em reuniões num hotel de Brasília.
Ele alertou os parlamentares sobre os riscos de considerar as manifestações meros atos oposicionistas.
Argumentou que a massa nas ruas não era formada só por eleitores tucanos e defendeu que o governo não pode ficar estático diante do claro recado de parcela significativa do eleitorado –confirmado por pesquisa Datafolha divulgada na quarta (18) apontando 62% de descontentamento com o governo.
"Ele disse que o governo tem que anunciar medidas, como resposta, e explicar à população por que elas estão sendo tomadas", exemplificou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), um dos participantes do encontro.
FALA MENOS, DILMA
Lula tem comentado que não pode caber à Dilma ir a público falar sobre a Petrobras, corrupção e impeachment, como ela tem feito. Ele, aliás, recomendou que a palavra impeachment sequer saísse da boca da sucessora.
Para o ex-presidente, essa função dever ficar a cargo do presidente da estatal e de outros personagens do governo, como José Eduardo Cardozo (Justiça), que efetivamente vem sendo escalado para rebater críticas ao Planalto.
Em reunião no Palácio da Alvorada, Lula reprovou o pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, há duas semanas. E até ironizou o formato hermético, pouco político, do discurso em homenagem ao dia da mulher.
"Procurei a palavra feminicídio no dicionário e não encontrei", disse ele, segundo relatos. O comentário visava ilustrar o quão inadequado era pronunciamento.
Fonte: Folha de São Paulo
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