Rui Vilhena, o autor de “Boogie Oogie” – novela das seis que terminou nesta sexta-feira (06/03) -, estreou como autor-solo da Globo trilhando caminhos já
bastante conhecidos nossos. Sua novela não trouxe absolutamente nada de novo. Pelo contrário: usou e abusou dos recursos e truques mais descarados da Teledramaturgia. Um festival sem fim de clichês folhetinescos.
Para dar suporte à batida história – que envolvia, entre outras tramas, troca de bebês na maternidade, amores não correspondidos, pais desconhecidos, diamantes roubados e segredos bombásticos – a Globo deu a “Boogie Oogie” um verniz de novidade. A novela se passava no mítico ano de 1978, em que as discotecas estouraram no país impulsionadas pelo sucesso do filme “Os Embalos de Sábado à Noite” e da novela “Dancin´ Days”. Tudo muito bonito, não fosse um certo anacronismo, com direito a músicas que nem haviam sido lançadas naquele período.
De fato, a Era Disco ficou apenas na ambientação, na trilha sonora nostálgica, em alguns carros, roupas, penteados e objetos de cena. Só. Os assuntos em voga daquele momento passaram ao largo. Não houve aprofundamento algum ao tratar a emancipação feminina, a ditadura do Regime Militar e a Anistia, ainda que a novela tivesse representantes entre os personagens: a submissa Beatriz (Heloísa Périssée), o militar Elísio (Daniel Dantas) e o jornalista Paulo (Caco Ciocler).
Como bem escreveu Maurício Stycer em seu texto sobre a novela (leia completo AQUI), “Boogie Oogie” podia se passar em qualquer época. O fato de ser ambientada no final dos anos 1970 fez parte da embalagem bonita que escondia uma trama batida e requentada.
Entretanto, Rui Vilhena teve um grande mérito: a capacidade de contar velhas histórias de forma extremamente ágil e dinâmica. A novela, repleta de diálogos rápidos e cenas curtas, foi se atropelando nos acontecimentos, mal dando tempo para o telespectador respirar. Um mérito e tanto se considerarmos que enfrentou as festas de fim de ano e todo o horário de verão (o que prejudica muito a audiência). E também que é necessário um certo malabarismo do novelista para manter o público preso à sua obra, diante de tantas outras opções de entretenimento ou da iminência de se trocar de canal ou desligar a TV.
Lamenta-se apenas a irritante repetição de frases nos diálogos (reiteração), como recurso fácil para fixar uma ideia no telespectador, o que empobrece a narrativa. E a perda de agilidade na trama a partir do quinto mês. A história inicial de “Boogie Oogie” já havia sido contada, restando apenas a enrolação do tal “segredo de Carlota”, que transformou a novela num pastiche policial. Acabou acontecendo o que se temia no início: o autor não teve fôlego para manter o ritmo ágil inicial por sete meses seguidos. É de se questionar se a novela foi mal planejada, o que fez com que o autor gastasse todos os cartuchos nos primeiros cinco meses, deixando pouco para os últimos. Ou se já está na hora de nossos folhetins serem mais curtos.
No elenco, o casal romântico central – Ísis Valverde e Marco Pigossi – exalou química em cena. Bianca Bin, a antagonista, conseguiu dar personalidade à sua Vitória, seja pelo gestual ou caracterização. Fabíula Nascimento (a megera Cristina) e Heloísa Périssé (a “amélia” Beatriz) também merecem citação, por tipos inéditos em suas carreiras na televisão. Do elenco jovem, o grande destaque foi Giovanna Rispoli, como a espevitada Cláudia.
Giulia Gam viveu a sua maior vilã na TV – ainda que “problemas de bastidores” a tenham mantido afastada por um tempo. Foi quando a atriz foi substituída por Joana Fomm, que andava sumida da televisão. Foi ótimo revê-la, assim como os veteranos Francisco Cuoco, Betty Faria e Pepita Rodriguez. Lamenta-se apenas um papel tão insignificante para Zezé Motta.
Uma embalagem atraente, um bom elenco, um texto afiado (ainda que repetitivo), cenas rápidas e agilidade na narrativa disfarçaram bem uma trama que parecia mais uma homenagem ao gênero telenovela, tamanha a quantidade de clichês folhetinescos. Ou, pelo menos, disfarçaram por algum tempo. Uns cinco meses.
Fonte: Uol
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