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segunda-feira, março 16, 2015

Aluna da USP diz que foi estuprada por estudante de medicina e trancou curso

 Fachada da Casa do Estudante da Escola de Medicina da USP.Uma estudante de enfermagem da USP afirma que foi estuprada em 2012, quando tinha 21 anos, por um aluno do curso de medicina da
mesma universidade. O local do crime, segundo ela, foi o alojamento conhecido como Casa do Estudante de medicina. Sua denúncia é uma das duas apuradas em um processo administrativo contra esse estudante na USP. A aluna pediu à Folha para não ter seu nome divulgado.

Depoimento...

Fui estuprada depois da Med Pholia, no dia 11 de fevereiro de 2012, um sábado. A festa era um 'open bar'.

Cheguei com amigas na atlética da medicina e me servi de duas doses de uns dois dedos de batida. Coloquei um dos copos em uma mureta. Ele [aluno] estava sentado e disse: 'Cuidado que você vai ficar bêbada rápido". Não dei trela, porque era uma dose muito pequena.

Dali para a frente, só lembro de flashes, como pôr a cabeça para trás e ver uma escada rolante de uma estação [de metrô]. Nunca tive uma lacuna como naquele dia.

Acordei com uma amiga batendo na porta e ele em cima de mim praticando o ato. Não conseguia mexer um músculo, como se meu corpo estivesse anestesiado.

Demorei a entender que estava em um quarto na Casa dos Estudantes. Tentei falar, mas não conseguia. Ele tampou minha boca e pegou parte do nariz. Não respirava direito. Quando minha amiga foi embora, ele soltou minha boca, mas continuou com violência. Eu estava em estado de torpor, falava que não queria e para ele parar.

Fiquei com hematomas e sangrei por quatro dias. Estava assustada, demorei uma semana para contar para minha mãe. Fiz o boletim de ocorrência, registrado como estupro de vulnerável, e o exame de corpo de delito.
No dia 7 de março, contamos detalhes do caso à ouvidora-geral da USP. Ela fez um pedido de processo disciplinar, mas a faculdade abriu uma sindicância.

Depus no dia 5 de junho para três professores, um da medicina, uma da enfermagem e um da saúde pública.

Chamava-se "Sindicância Administrativa para Apurar as Circunstâncias do Convívio na Casa dos Estudantes de Medicina e de Possível Ocorrência de Infração Disciplinar e/ou Ética".

Eu não convivia na Casa dos Estudantes. Denunciei um estupro. Eles não perguntaram disso no começo, mas tomei a iniciativa e contei. Esperavam terminar uma frase e voltavam "mas, vamos lá: e a convivência na Casa dos Estudantes de medicina?"

Ele [o suposto estuprador] depôs no mesmo dia e veio com uma galera de alunos. Quando saí, os rapazes, de jaleco, apontavam e gritavam "é ela, é ela, é ela".

No ano passado, conseguimos cópias da sindicância. Não havia nada apurado sobre a denúncia.

Concluem que "o convívio na Casa do Estudante de Medicina é adequado, principalmente levando-se em consideração que no local convivem 52 moradores e que não foram encontrados constrangimentos visíveis do [nome do aluno] em relação à senhora [nome da aluna]".

A história de que eu estava denunciando um estupro virou um boato na minha sala. Minhas amigas me expulsaram do grupo de trabalho. Tentei entrar em outros, mas ninguém dava resposta.

Eu faltava muito porque ia à delegacia, fazia acompanhamento ginecológico, psiquiátrico e psicológico.

Em 2014, tentei trancar meu curso argumentando que o motivo eram problemas na universidade e que eu precisava de tratamento. Só acataram depois de eu recorrer.

Passei por quatro psicólogos e fui diagnosticada com estresse pós-traumático. Nisso entra perda de sono e de apetite, irritabilidade, depressão, cansaço. Além do estupro, sofri outras violências na universidade. Queria que isso tivesse um ponto final.

Fonte: Folha de São Paulo

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