O PT decidiu recorrer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar reverter a crise vivenciada na base de sustentação do governo. A estratégia faz parte
de um conjunto de ações definidas pela principal corrente petista, a Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual fazem parte Lula e nomes como o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), o ex-ministro Gilberto Carvalho.
Com a entrada de Lula no jogo, os petistas decidiram concentrar esforços na recomposição com o PMDB no Congresso. A relação com o partido ficou desgastada com a disputa pela presidência da Câmara, vencida pelo peemedebista Eduardo Cunha. A nova estratégia prevê também organizar uma reação mais enérgica do governo federal às críticas da oposição.
O pontapé da ação de Lula ocorrerá nesta quarta-feira (25), à noite, em Brasília em um jantar com os senadores petistas e alguns nomes de peso do partido, na casa do senador Jorge Viana (PT-AC). O ex-presidente dará o tom da reaproximação com peemedebistas do Senado, aproveitando para resgatar seu sua boa relação com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Neste processo, Lula é visto como uma espécie de “fiador” por petistas próximos do ex-presidente. O coordenador da CNB Paulo Ferreira (PT-RS) diz que este movimento é fundamental para a sustentação do governo. “São perfeitamente compreensíveis e necessárias as tentativas de viabilizar uma base para o governo sustentável. É uma decisão do PT buscar este entendimento com o PMDB e Lula é o fiador disso. Ele tem ajudado muito e vai ajudar muito mais”, diz Ferreira.
Enfrentamento
Ontem, ao participar de um ato em defesa da Petrobras, o ex-presidente já deu exemplos da nova postura. Em meio a lideranças políticas, sindicais, artísticas e acadêmicas do Rio de Janeiro, Lula disse que era hora de Dilma partir para o enfrentamento. “A Dilma tem que levantar a cabeça e dizer ‘eu ganhei as eleições’. A Dilma não pode e não deve ficar dando trela. Nós ganhamos as eleições e parece que estamos com vergonha de ter ganho.”
O PT também adotou o discurso de que a disputa pela presidência da Câmara deve ser vista um episódio superado e que a vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é legítima. Adversário nas eleições, o líder do PT na Casa, Sibá Machado (PT-AC), é um dos que, agora, não mede palavras para elogiar os peemedebistas. “Nós confiamos completamente no PMDB. Eles são fundamentais dentro do nosso projeto de governo do país. Agora, é claro que nós temos diferenças, mas por isso estamos em dois partidos, que, entretanto, caminham juntos”, diz Sibá.
Reconstrução da governabilidade
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chamou a movimentação no Congresso de “concertação política”. “A palavra de ordem agora é diálogo e construção da governabilidade. Nós queremos recompor a base governo, fortalecer o colégio de líderes envolvendo todos os partidos da base e construir uma agenda política importante para o país”, defende. Guimarães diz também que pretende inaugurar uma “nova era” na relação entre ministros e deputados.
“Nós precisamos acabar com essa história de que ministro convidado não vai. Nós vamos povoar a Câmara de ministros. Nós estamos transformando o gabinete da liderança do governo num grande centro de articulação política, como base para a presença dos ministros”, explica o cearense. O primeiro a visitar o gabinete com esse objetivo foi o ministro da Educação, Cid Gomes, que recebeu mais de 100 deputados para conversar. Nas próximas semanas, será a vez de Arthur Chioro (Saúde), Juca Ferreira (Cultura) e Ideli Salvatti (Direitos Humanos).
Ministros também participam de articulação
Nesta reta inicial, também foram escalados os ministros Joaquim Levy (Fazenda), Manoel Dias (Trabalho), Nelson Barbosa (Planejamento), Carlos Cabas (Previdência). A intenção era tentar reverter o clima contrário ao pacote de medidas do governo que mexe nos benefícios previdenciários e trabalhistas e, pelo menos junto aos peemedebistas já começou a surtir efeito.
Após um jantar na última segunda-feira entre Levy e a cúpula do PMDB, ficou acertado que a essência das medidas enviadas pelo Palácio do Planalto terá o apoio dos aliados. Apesar de tardio, o resultado da negociação foi visto como uma vitória política para o ministro da Fazenda – embora a avaliação seja de que o governo ainda terá de ceder bastante aos peemedebistas. Se por parte do PT, o discurso voltado para atrair o PMDB, ainda resiste entre os peemedebistas a retórica de desconfiança em relação ao partido da presidente Dilma Rousseff.
Fonte: IG
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