Páginas

quinta-feira, janeiro 22, 2015

Fifa fortalece CBF, que ainda não sabe como gerir projeto de US$ 100 mi

http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/ A Fifa apresentou na última terça-feira (20), em São Paulo, os planos da entidade para o Fundo de Legado da Copa do Mundo de 2014. Trata-se de um projeto que vai despejar US$ 100 milhões (R$
261,5 milhões) no país-sede do megaevento e que terá como principal motivação o fomento ao futebol. Nem tudo, porém, está definido. O modelo é radicalmente diferente do que foi aplicado na África do Sul, que recebeu o Mundial em 2010, e ainda carrega algumas grandes interrogações.

Na África do Sul, o fundo de legado foi gerido com participação da Fifa, do governo e da federação local. Além disso, pessoas puderam sugerir aplicações diferentes para os recursos advindos da organização da Copa do Mundo de 2010. O Brasil optou por um sistema diferente, com todos os recursos submetidos à vontade da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Aparentemente, a mudança deixou o projeto menos burocrático e mais ágil, mas o anterior era mais democrático e maleável.

O modelo proposto pela CBF parte de 15 CTs que serão construídos nos Estados que não receberam jogos da Copa do Mundo de 2014. Esses aparatos terão gestão feita por federações locais, mas pouco se sabe dos próximos passos. Há dúvidas sobre a formação dos gestores, manutenção de equipamentos, controle de gastos e a aplicação de 50% dos recursos, que precisam ir além da criação de infra-estrutura.  

Por isso, o UOL Esporte preparou abaixo um guia para você entender o que é o fundo de legado, como funcionará o modelo brasileiro e as dúvidas sobre o projeto. Confira tudo isso em sete tópicos:

1 - O que é o Fundo de Legado da Copa?
O fundo de legado é uma contrapartida da Fifa para o país-sede da Copa. Parte dos lucros da entidade com a organização do Mundial é destinada ao desenvolvimento do futebol local como um retorno do investimento feito por quem recebeu, organizou e bancou a maior parte dos custos do megaevento.

Em 2014, a Fifa anunciou que a verba disponibilizada no fundo de legado foi de US$ 100 milhões (R$ 262 milhões). Esse valor deve ser investido em infraestrutura, desenvolvimento do futebol de base, futebol feminino, projetos de saúde pública e projetos sociais.

2 – Como vai ser distribuído o dinheiro no Brasil?

No Brasil, a maior porção do fundo de legado da Copa será investida na construção de 15 centros de treinamento. Esses equipamentos consumirão U$ 60 milhões (R$ 156,9 milhões) e serão distribuídos entre os 15 Estados que não receberam jogos do Mundial de 2014.

O primeiro projeto a ser inaugurado é o do Centro Esportivo da Juventude, próximo ao Estádio Olímpico de Belém (PA). O local terá dois campos de grama artificial e um gramado natural, vestiários e salas de aula.

"Na primeira fase, além do Pará, vamos levar esse projeto a Alagoas, Piauí, Rondônia, Sergipe e Tocantins. Já começamos negociações em algumas regiões, e nas outras nós ainda estamos em fase de prospecção de local", disse Oswaldo Antonio Elias Gentile, diretor de infraestrutura da CBF.

O critério para distribuição dos CTs foi definido por José Maria Marin, presidente da CBF. Com os 15 CTs e os 12 estádios da Copa do Mundo, o mandatário da entidade conseguiu distribuir benesses entre todas as 27 federações estaduais, entidades que têm voto e papel fundamental na manutenção dele.

"Não foi uma questão política. Houve um entendimento de que os outros Estados podem ter mecanismos diferentes de fomento do futebol. Faremos eventos nos estádios da Copa, por exemplo", explicou Gentile.

Os outros US$ 40 milhões (R$ 104,6 milhões) do fundo de legado serão distribuídos entre desenvolvimento do futebol de base (US$ 15 milhões), desenvolvimento do futebol feminino (US$ 15 milhões), projetos de saúde pública, conscientização e prevenção de doenças (US$ 4 milhões), projetos sociais e comunitários (US$ 4 milhões) e custos de administração, logística e outros (US$ 2 milhões). Até o momento, entre verba alocada e efetivamente gasta, foram US$ 6,5 milhões (R$ 17 milhões).

"A estrutura do projeto tem duas partes: social e físico. O físico tem relação com planejamento e execução de estruturas necessárias para a prática do futebol, e o social é o que vai ser desenvolvido nos CTs. Ele visa desenvolver o cidadão utilizando uma ferramenta que é o futebol", completou o diretor da CBF.

3 – O que a CBF ainda não sabe sobre o futuro do fundo de legado

A CBF receberá dinheiro da Fifa, construirá 15 CTs e entregará a administração desses aparatos às federações estaduais. No entanto, a entidade que comanda o futebol no Brasil ainda não definiu uma série de parâmetros para isso.

Não há um consenso, por exemplo, sobre como será feita a capacitação de gestores responsáveis pelos CTs. Além disso, faltam certezas sobre os custos de manutenção (funcionários e estrutura física).

O processo de seleção das pessoas que frequentarão os CTs e a metodologia a ser aplicada com elas também são incógnitas. "Estamos discutindo isso ainda. Temos pensado em como montar um modelo que inclua todas essas coisas e temos algumas ideias na mesa", disse Oswaldo Antonio Elias Gentile, diretor de infraestrutura da CBF.

A proposta apresentada por CBF e Fifa na última terça-feira (20) inclui aspectos com viés social. O modelo básico para os CTs inclui salas de aula para projetos como reforço escolar, inglês e teatro, que devem ser conduzidos em parceria com ONGs. Mas ainda não existe qualquer definição sobre o processo de seleção dessas entidades ou que tipo de conteúdo elas devem transmitir para as crianças e adolescentes.

Outro ponto nebuloso no fundo de legado é o desenvolvimento do futebol feminino. Esse item tem previsão de consumir US$ 15 milhões (R$ 39,23 milhões), mas ainda não se sabe como. A CBF organizou uma reunião para debater ideias, mas avançou pouco na consolidação de um plano para a modalidade.



Por fim, existe uma dúvida sobre controle dos gastos. A Fifa auditará os US$ 100 milhões enviados à CBF e prestará contas sobre esses recursos. Depois, porém, a administração dos CTs – e dos projetos sociais, consequentemente – será entregue às federações estaduais. E a partir desse ponto, não há qualquer mecanismo de fiscalização sobre a gestão dos aparatos.

4 - Como funcionou o Fundo de Legado da Copa na África do Sul?
Em 2010, a Fifa disponibilizou US$ 65 milhões para o Fundo de Legado da Copa do Mundo, valor que foi sendo colocado à disposição da população aos poucos, a partir de 2012. No sistema aplicado na África do Sul, pessoas físicas ou jurídicas apresentavam projetos com o futebol no escopo, prevendo a utilização de parte dos recursos da entidade.

Esses projetos poderiam ir desde a construção de CTs a bolsas de estudo relacionadas a esporte. Todas as propostas eram avaliadas por um comitê que reunia representantes da Fifa, do governo e da federação de futebol local, que aprovavam, ou não, a liberação da verba.

Privilegiando ONGs com trabalho pregresso no futebol e propostas de baixo custo, o fundo de legado hoje está perto de ser esgotado e tem avaliação positiva. Desde 2010, quando os valores começaram a ser liberados, houve investimentos em ligas de jovens do futebol sul-africano, assim como no futebol feminino, por meio de um centro de alta performance em Pretória.

5 - O que mudou da África do Sul para o Brasil?
No Brasil, ao contrário do que ocorreu na África do Sul, não há abertura formal para que a população proponha soluções para a utilização dos US$ 100 milhões que a Fifa disponibilizou no fundo de legado.

As decisões sobre quais projetos serão contemplados serão tomadas pela CBF, que só tem de submeter as suas opções à Fifa. À entidade máxima do futebol, por sua vez, caberá a auditoria do processo, para assegurar que os valores sejam realmente investidos como o planejado.

A pretensão do projeto também mudou. Na África do Sul o foco estava em iniciativas menores que pulverizavam os recursos em pequenas iniciativas. No Brasil, a ideia é mirar em grandes obras, mais arriscadas, porém, de maior potencial.

6 - Por que a Fifa decidiu mudar o modelo de distribuição de dinheiro?
Na coletiva de imprensa da última terça (20), a Fifa deu duas explicações para a alteração. Na primeira, Thierry Regenass, diretor da entidade responsável pelo fundo de legado de 2014, atribuiu a escolha à celeridade.

"Eu acho que nós primeiro aprendemos para onde ir. A África do sul foi o primeiro grande projeto, e o fundo de legado está funcionando, mas não foi exatamente como queríamos. Levou um longo tempo para isso, e até agora fizemos apenas pequenos projetos", disse Regenass, apontando o sistema brasileiro como uma espécie de "evolução natural" do que foi feito na África do Sul.

"Se você olhar para a organização da Copa do Mundo de 2010, vai ver que a organização foi diferente do que foi no Brasil. Eles tiveram 19 ministros, com o governo envolvido. O que nós fizemos com o fundo na África do Sul foi uma coisa para a África do Sul, seguindo a estrutura que eles tinham. O que fizemos no Brasil tem a ver com a estrutura da Copa do Mundo no Brasil que queríamos manter", disse Jerome Valcke, secretário-geral da Fifa, dando a entender que a centralização de poder na CBF já aconteceu durante a organização do Mundial.

A alteração privilegia a CBF e fecha uma porta que poderia permitir um uso mais democrático da verba. O outro lado da questão é que, sem o processo aberto, as decisões podem ser colocadas em prática com mais rapidez, o que faz com que o projeto de legado do Brasil esteja proporcionalmente bem adiantado em relação à África do Sul.

7 – Quem fiscaliza o uso do dinheiro dado pela Fifa?

Para ter acesso ao dinheiro do fundo de legado, a CBF se comprometeu a elaborar relatórios anuais sobre finanças e atividades relacionadas ao projeto. Esses dados serão enviados à Fifa, que também pode fazer solicitações extraordinárias de informações.

A Fifa ainda fará auditorias anuais sobre todos os recursos empregados no fundo de legado. "Tudo está submetido a regras muito duras. Garantimos isso sobre todo o dinheiro que enviamos a associações", discursou Jérôme Valcke, secretário-geral da entidade internacional.

A grande incógnita surge a partir do momento em que os US$ 100 milhões da Fifa estiverem empregados. A gestão dos CTs será feita pelas federações estaduais, e a CBF não estipulou uma forma de monitorar o uso de recursos a partir disso.

Fonte: Uol

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!