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quarta-feira, janeiro 21, 2015

Corpo de surfista baleado com 3 tiros em SC será enterrado nesta quarta

Mãe do surfista Ricardo dos Santos é amparada em Palhoça, SC (Foto: Betina Humeres/Agência RBS)O corpo do surfista catarinense Ricardo Santos, de 24 anos, será enterrado nesta quarta-feira (21). Inicialmente, a família havia optado pela cremação e depois jogar as
cinzas no mar da Guarda do Embaú, em Palhoça, Santa Catarina, mas, devido à dificuldade nos trâmites para emissão da escritura de cremação, os familiares decidiram realizar o enterro.
Por volta das 20h30 desta terça (20), o corpo já havia sido liberado pelo Instituto Médico Legal (IML). A previsão é que chegue por volta das 22h no salão paroquial da Guarda do Embaú para o velório. O sepultamento está marcado para as 10h desta quarta (21) no cemitério de Paulo Lopes. No entanto, pode ocorrer no período da tarde porque amigos de outros países devem participar do ato.
O Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, informou que as córneas do surfista Ricardo dos Santos, 24 anos, foram retiradas e serão doadas. A direção do hospital esclarece que, por não ter ocorrido morte encefálica, e sim parada cardíaca, demais tecidos e órgãos não puderam ser aproveitados para doação.

Surfista Ricardo dos Santos (Foto: Henrique Pinguim/Divulgação)Ricardinho morreu no início da tarde desta terça (20)
(Foto: Henrique Pinguim/Divulgação)
Ricardinho, como é conhecido pelos amigos, levou três tiros entre o tórax e o abdômen, na manhã de segunda (19), após um desentendimento com o policial, que estava acompanhado do irmão, menor de idade. O surfista morreu às 13h10 desta terça, no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis. Ele passou por quatro cirurgias - três delas na segunda -, mas não resistiu aos ferimentos.
Durante os procedimentos feitos na segunda, que duraram cerca de sete horas, ele recebeu 24 litros de sangue. No dia seguinte, pela manhã, uma nova operação foi realizada para estancar uma nova hemorragia, mas o jovem não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois.
PM é o principal suspeito
O policial militar Luis Paulo Mota Brentano, de 25 anos, suspeito de ter disparado os três tiros contra Ricardinho, já respondeu a outros processos criminais – e foi absolvido em todos, segundo a PM.

Policial suspeito de atirar em Ricardo dos Santos usa capuz preto no momento da detenção (corte 620) (Foto: Guto Kuerten/Agência RBS)Policial suspeito de atirar em Ricardinho (de capuz) no momento da detenção (Foto: Guto Kuerten/Agência RBS)

O delegado responsável pela investigação, Marcelo Arruda, disse que solicitará a mudança da tipificação do crime de tentativa de homicídio para homicídio doloso qualificado – alteração que ainda deve ser analisada pela promotoria de Justiça. Em paralelo, o PM também responderá a um inquérito militar pelo mesmo crime.
Segundo Arruda, será feito na tarde desta terça o exame balístico no IML para verificar se as balas perfuraram a vítima pelas costas. Algumas testemunhas informaram que o terceiro tiro foi disparado quando o rapaz tentava fugir do agressor.
"A continuidade do inquérito depende do laudo cadavérico e da reconstituição dos fatos", afirmou o delegado, acrescentando que todos os depoimentos previstos já foram coletados.
Possibilidade de expulsão
O PM responde a inquérito das polícias Civil e Militar, que correm em paralelo, e têm prazo legal entre 30 e 45 dias para conclusão, respectivamente, com possibilidade de prorrogação.
"Após o inquérito, a corporação pode aplicar uma advertência ou até mesmo a expulsão do soldado da Polícia Militar. Caso ele pegue uma pena acima de dois anos, seja na Justiça comum ou militar, automaticamente ele será desligado", explicou a tenente-coronel, Claudete Lemkuhl. "Caso ele seja culpado, a certeza da punição é muito grande, já que a Justiça Militar tem códigos muito severos", afirma.
O soldado está preso no batalhão da PM de Florianópolis por tempo indeterminado. O PM estava em férias no dia do crime. Sobre o fato do PM estar de férias no dia do crime, a tenente-coronel afirmou que um policial tem direito a permanecer com porte de armas mesmo em recesso.
Versões
A polícia apura duas versões contraditórias apresentadas pelo suspeito do crime e por testemunhas, entre elas familiares de Ricardinho. Em depoimento na segunda, Brentano afirmou que atirou em legítima defesa, já que a vítima estaria com um facão.
"[O policial] Disse que a vítima teria tentado agredir e que ele teve que se defender", afirmou o delegado Marcelo Arruda. O menor de idade que acompanhava o PM na hora do crime e seria seu irmão contou a mesma versão. Ele foi ouvido como testemunha e liberado pela polícia.

Ricardinho dos Santos (Foto: Renan Koerich)Amigos e familiares choram a morte de Ricardinho diante do hospital (Foto: Renan Koerich)

No entanto, os policiais militares que atenderam a ocorrência não apreenderam nenhum facão no local dos disparos, disse Arruda. Já a arma e o carro do policial foram encaminhados para o Instituto Geral de Perícias (IGP).
Um tio e o avô de Ricardinho afirmaram em depoimentoque não houve nenhum tipo de agressão que motivasse os disparos, segundo Arruda.
Testemunhas
Testemunhas ouvidas pela polícia contaram que, por volta das 8h30 de segunda, Ricardinho e o avô dele, Nicolau dos Santos, iam começar o conserto de um cano que traz água do morro e abastece as casas da família.
Um carro estava parado sobre o ponto onde o cano passa. O surfista teria pedido aos dois ocupantes para que o automóvel fosse tirado dali, mas um deles teria reagido de forma agressiva.
O morador da Guarda do Embaú Mauro da Silva relatou que o policial disse "quem manda aqui é nós". "No exato momento, eu cheguei junto e o Ricardo falou 'como quem manda aqui é nós se eu nasci aqui, nunca vi vocês aqui'. Eu cheguei e falei 'não, cara, é melhor vocês saírem'".
Segundo os moradores não houve uma discussão forte e, quando todos achavam que o motorista estava saindo com o veículo, o policial sacou uma pistola e atirou duas vezes contra Ricardo. O atleta ainda tentou fugir, mas foi atingido por mais um tiro nas costas, conforme testemunhas.
Outra versão de testemunhas afirma que o policial e o irmão estariam consumindo drogas na frente da casa do surfista, que pediu para eles saírem do local. Teria havido uma discussão e os tiros. O inquérito policial vai apurar o que realmente aconteceu.
Para a PM, há uma contradição quanto ao suposto uso de drogas. "Foi o próprio soldado que solicitou o exame toxicológico. Ele confessou que teria ingerido álcool na noite anterior, mas não outras drogas", disse a tenente-coronel Claudete.
O resultado do exame será encaminhado à delegacia de Polícia Civil e depois para a Corregedoria, responsável pelo inquérito militar.

Fonte: G1

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