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segunda-feira, janeiro 26, 2015

Cidades no RN tentam manter ganho econômico vindo da energia eólica

Imposto da energia só é cobrado no local de destino da eletricidade (Foto: Felipe Gibson/G1)Com menos de 5 mil habitantes e localizada em uma região seca do Rio Grande do Norte a cidade de Parazinho se transformou com o boom da energia eólica no estado.
Em um ano e meio, restaurantes e pousadas foram abertos, o comércio vendeu mais, os aluguéis de casas ficaram até dez vezes mais caros e muita gente conseguiu emprego nas construções. O PIB cresceu mais do que dobrou, crescendo 110% entre 2008 e 2012.

Passado o impacto das obras, o clima de bonança em Parazinho arrefeceu. As centenas de pessoas empregadas durante a construção perdem as vagas com os parques prontos - ficam poucas dezenas de profissionais com níveis de qualificação maior para a operação.

"De 2010 a 2012 a economia cresceu muito, mas depois da construção foi lá para baixo", afirma o prefeito Marcos Antônio Vieira, que vive a expectativa da chegada de novas torres para um dos projetos eólicos contratados para a região.
Formação de profissionais
Mas a mudança no foco econômico trouxe alguns efeitos positivos a Parazinho. O eletricista Ewerton Cosme da Silva Oliveira, por exemplo, voltou para sua cidade de origem só para as férias - o jovem de 23 anos já trabalhou no Uruguai e se preparava para viajar até a Bahia para a construção de novas usinas eólicas.

Natural de Parazinho, Ewerton esteve no Uruguai para trabalhar em um projeto eólico (Foto: Felipe Gibson/G1)Natural de Parazinho, Ewerton está fazendo carreiar
em empresa de equipamentos
(Foto: Felipe Gibson/G1)
"Era servente de obra e decidi fazer um curso de eletricista predial e residencial", relata. O jovem deixou o currículo na fábrica de torres construída pela empresa Wobben Windpower na cidade.
O resultado foi uma vaga como auxiliar de eletricista. A construção dos parques foi concluída, a fábrica itinerante desmontada, mas Ewerton garantiu sua vaga no mercado eólico.

Agora no cargo de encarregado de elétrica, o jovem cuidou da manutenção das máquinas da Wobben que produziram os equipamentos para parques eólicos construídos no Uruguai. "Mudou minha vida. Se não fosse isso, hoje eu ainda seria servente de pedreiro aqui nessa cidade pequena", afirma.

Falta formação
No entanto, a realidade não foi a mesma para a maioria dos moradores de Parazinho. "Vieram muitos técnicos. Infelizmente nossa população não tem formação. Poderia ter sido muito melhor se houvesse possibilidade de qualificar as pessoas", opina Alexandre Magno, de 54 anos, empresário que mora há 15 anos na cidade.
Engenheiro por formação, ele é proprietário de uma loja de eletrodomésticos e aproveitou o movimento para abrir um restaurante e construir a pousada Rosa dos Ventos, nome inspirado no momento que Parazinho vivia.

"Era uma cidade estagnada e com emprego escasso. A situação inverteu e vivemos uma situação de pleno emprego. A ideia da pousada foi uma sugestão de um engenheiro que veio de fora", diz o empresário, que se mudou para Parazinho por causa da mulher.

Pousada foi construída durante construção de eólicas em Parazinho (Foto: Felipe Gibson/G1)Pousada foi construída durante construção de
eólicas em Parazinho (Foto: Felipe Gibson/G1)
A Rosa dos Ventos nasceu, se ampliou e estava sempre lotada durante um ano e meio. Depois da onda de oportunidades, Magno conta que aproveitou o período de estagnação para reformar a pousada.

O restaurante foi desativado e atualmente o empresário usa da criatividade para manter o rendimento. "Desenvolvi um serviço de venda porta a porta para a loja nas cidades da região e para isso remanejei o pessoal que foi contratado para a pousada", conta. Para o engenheiro, o município pecou em não criar mecanismos para explorar o bom momento.

R$ 4 milhões
Para o diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, embora seja um impacto passageiro, o período de construção ajuda as cidades a desenvolverem setores como comércio e serviços.

Municípios arrecadam Imposto Sobre Serviços (ISS) durante construção de parques (Foto: Felipe Gibson/G1)Municípios arrecadam Imposto Sobre Serviços
durante construção  (Foto: Felipe Gibson/G1)
"A injeção de dinheiro ajuda os negócios a ganharem escala e se aprimorarem", afirma Prates, citando a conta de que para cada megawatt instalado, R$ 4 milhões são investidos pelas empresas. "Um terço deste investimento é gasto no município", calcula.
De olho na demanda de profissionais para a região do Mato Grande, o professor Alexandro Vladno da Rocha articulou a criação do curso de graduação em energias renováveis no campus do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) em João Câmara.
"O campus foi pensado muito para a área de agricultura. Quando o estado apareceu para o mercado eólico, mudamos esse foco", revela o coordenador do curso. Com três anos de existência, a graduação tem 120 alunos matriculados.
"No início a maioria dos interessados era de Natal. Buscamos mostrar a oportunidade para a região e já recebemos alunos de João Câmara e cidades vizinhas. A tendência que percebo é de pessoas que vêm de outras áreas em busca de uma verticalização", observa o coordenador do curso.
Aos poucos, Alexandro conta que vem estreitando as relações com empresas que chegam ao município atraídas pelo mercado dos parques eólicos. "Com um curso na região, a chance da população local se qualificar e aproveitar esse mercado cresce, o que também é bom para as empresas", avalia.

Fonte: G1

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