A comunidade católica de Natal de certa forma se acomodou. A autocrítica, feita às vésperas de comemorar 40 anos de sacerdócio, foi dada ao portalnoar.com pelo
arcebispo metropolitano, Dom Jaime Vieira. Para ele, os tempos são outros, e a igreja precisa acompanhar as transformações, mas sem abrir mão de suas verdades dogmáticas.
Na avaliação do arcebispo, o trabalho social que outrora marcou a Arquidiocese não tem mais o mesmo vigor. Ele se enfraqueceu na proporção em que cresceu a assistência prestada pelo poder público, o que é
preocupante. Em sua opinião, deveria haver mais atenção da comunidade católica sobretudo com crianças, idosos e dependentes químicos.
“De um certo modo, a igreja de Natal se acomodou. Foi mais cômodo permanecer com o que temos. Claro que jamais haverá segmentos dentro da igreja que serão superados no serviço que prestam, mas é preciso inovar”, pontuou Dom Jaime.
A grande questão que assombra a milenar instituição é como acompanhar as transformações desse tempo no qual os direitos foram democratizados. O conceito de família foi modificado para a legislação; as mulheres disputam e ganham cada vez mais o direito ao aborto; os jovens desenvolveram uma linguagem própria e da qual Roma está muito distante. Como acompanhar esses tempos?
“A igreja que eu vivi quarenta anos atrás era uma igreja de muita esperança, com os grandes documentos do Concílio do Vaticano II, uma igreja com zelo pela relação com o mundo, a relação com a sociedade em todos os âmbitos”, relembrou o sacerdote, registrando em seguida as circunstâncias atuais:
“Realmente podemos dizer que a igreja caminhou. Ela caminha com a própria história e vai também se adequando às realidades e momentos. Mas as mudanças do tempo geraram uma igreja que tentou dar reposta ao tempo presente o que causa insegurança. Nem todo mundo tem coragem de caminhar para mudanças, aperfeiçoamento”, analisou o padre.
O desafio é acomodar essas transformações dentro do contexto da fé sem abrir mão dos fundamentos que alicerçam a Igreja de Pedro. A união homoafetiva é a mais recorrentes das questões. Sobre o assunto, o discurso episcopal é de acolher os homossexuais, deixando claro, apesar disso, que o conceito de família para o prelado de Roma é a união entre homem e mulher.
“A igreja jamais vai abrir mão e negar esta base sólida para a vivência da fé que é a família. Quando eu falo a família leia-se o sacramento do matrimônio. Esse sacramento, que está no evangelho, diz que é o homem e a mulher, em uma só carne. Isso é inegociável. Claro que vemos as circunstâncias atuais. Sobre a questão da relação com os homossexuais, o tom foi dado pelo papa: não vamos fazer apologia, mas vamos tratá-los com respeito. Está clara a relação com essas pessoas. É uma atitude de acolhimento e levar a uma vida de dignidade. É aquela máxima: não ama o pecado, mas se ama o pecador. Não podemos promover e proclamar a homossexualidade, mas acolhemos”, registrou Dom Jaime.
O bispo também faz questão de esclarecer a diferença entre não se envolver com política – ele orientou que padres se desfiliassem e não participassem no pleito eleitoral de 2012 – mas não deixar de fazê-la quando necessário para defender um valor. Citou como exemplo, a intervenção que tem sido feita no Congresso Nacional para evitar que as normas atuais sobre aborto não sejam flexibilizadas. “Há uma diferença. Defendemos um valor, nesse caso”, explicou.
O diálogo com o jovem é outro ponto a ser superado. O arcebispo diz que o maior desafio é desfazer a dicotomia que separa fé e juventude. “Há muitos desafios em sermos igreja e formarmos jovens para a transformação de outros jovens a partir da vivência da fé. Precisamos nos desprender dessa concepção de que a igreja é uma redoma, como se fosse a vivência da fé para cá e o resto do mundo para lá. Vivemos no mundo, mas não somos do mundo”, pontou.
Ao revisitar seu passado, se emocionou e não escondeu as lágrimas quando narrou as agruras que testemunhou causadas pela seca na década de 1970 no Estado. “Aqueles homens vestindo trapos, famintos, que atravessaram uma cidade para a outra para me pedir ajudar, para pedir o que comer. É algo de que jamais me esquecerei”, relembrou emocionado.
Dom Jaime Vieira Rocha vai celebrar 40 anos de vida sacerdotal neste domingo (1º). Para marcar a data, uma missa em ação de graças será realizada neste sábado (31). A celebração vai acontecer na catedral metropolitana de Natal, às 17h.
Biografia
Dom Jaime Vieira Rocha nasceu na cidade de Tangará, na região Trairi, do estado do Rio Grande do Norte, no dia 30 de março de 1947, sendo o sétimo dos dez filhos do casal José Patrício Vieira de Melo e Maria Nini Rocha. Em fevereiro de 1961, com exatamente 14 anos, ingressou no Seminário de São Pedro, em Natal, local onde cursou os estudos clássicos e o ginásio (ensino fundamental e médio).
Cursou Sociologia e Política na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no período de 1968 a 1971. Foi ordenado Diácono, em 1974, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Serra Caiada/RN, por Dom Nivaldo Monte, então Arcebispo Metropolitano de Natal. No dia 01 de fevereiro de 1975 foi ordenado Presbítero, também por Dom Nivaldo Monte, no Ginásio Poliesportivo do SESC, em Natal.
Recém-ordenado sacerdote foi designado para a Paróquia de São João Batista, no município de Pendências/RN, onde foi pároco por 12 anos, permanecendo até 1987. Ainda neste mesmo ano foi nomeado Reitor do Seminário de São Pedro, função que desempenhou até 1995. Ainda como Reitor do Seminário de São Pedro, no dia 29 de novembro de 1995, foi nomeado Bispo Diocesano de Caicó.
Sua ordenação realizou-se no dia 6 de janeiro do ano seguinte (1996), na Basílica Papal de São Pedro, na Cidade do Vaticano, ordenado pelo então Papa, João Paulo II, hoje São João Paulo II. Escolheu como lema episcopal a afirmação de fé de São Paulo: “Scio cui credidi”, que quer dizer “Sei em quem acreditei”.
Tomou posse na Diocese de Caicó, em 1996, permanecendo na Igreja Seridoense até 2005. No dia 16 de fevereiro do mesmo ano, o Papa João Paulo II o nomeia Bispo Diocesano de Campina Grande, na Paraíba, sendo acolhido e tomando posse nesta nova função dia 23 de abril de 2005. Em virtude da Vacância da Diocese de Guarabira, também na Paraíba, foi nomeado Administrador Apostólico, acumulando a função de Bispo de Campina Grande, no período de 2007 a 2008.
Ainda neste período, foi escolhido Bispo Referencial da Comissão Episcopal Regional para a Vida e a Família e Vice-Presidente do Regional Nordeste 2. No dia 21 de dezembro de 2011, foi nomeado Arcebispo Metropolitano de Natal, pelo Papa Bento XVI.
Em 26 de fevereiro de 2012, I Domingo da Quaresma, tomou posse como o 9º Bispo e 6º Arcebispo Metropolitano, na Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal. Atualmente, Dom Jaime é o Bispo Referencial da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada; e em nível nacional, é membro da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB.
Fonte: Portal Noar
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