Material escolar, brinquedos, roupas, tratamento médico e até ovelha. As 13 mil cartinhas de estudantes de 70 escolas públicas
do Rio Grande do Norte tem todo tipo de desejo, do mais singelo ao mais inesperado. Não raramente, o pedido e a história contada na carta têm como pano de fundo uma dura realidade social.
Quem exemplifica isso é a estudante Viviane Santos de 11 anos. Ela está no quarto ano do ensino fundamental na Escola Estadual Passo da Pátria localizada na comunidade de mesmo nome. “Desde pequeninha, quando eu ainda não sabia nem escrever, minha irmã fazia a carta pra mim”, contou. Sua irmã tinha esse papel porque, com um ano de idade, Viviane perdeu a mãe. Do pai, ela nunca teve notícia.
A jovem tem sete irmãos. Desses, seis estão vivos. Um deles foi morto depois que saiu da prisão em função de uma dívida. Atualmente, a menina mora com a irmã de 20 anos, que cuida dela como mãe, o cunhado e outra irmã de 17 anos. O pedido de Viviane ao Papai Noel dos Correios foi um dos que tem se tornado mais comum: material escolar.
“No ano passado pedi uma piscina e material escolar. Veio só o material escolar. Então, vou pedir o material escolar todo ano porque vem. Eu acho importante estudar para ser alguma coisa na vida, ajudar dentro de casa”, justificou o pedido. Quando não conseguia por meio do projeto dos Correios, a irmã tinha a missão de apertar o orçamento e tentar garantir o básico a Viviane. “Quando eu peço, ela dá um jeito de comprar”, falou secamente.
No seu íntimo, Viviane revela que ainda quer a piscina e começou a nutrir desejo por um tablet. “Na minha casa tem um quintal bem grandão e eu queria a piscina para chamar minhas amigas. O tablet eu queria porque na minha família todo mundo tem”, acrescentou.
De acordo com a coordenadora do Papai Noel dos Correios no Rio Grande do Norte, Halinna Dantas, ainda há cerca de 2 mil cartas que não foram adotadas. Quem deseja ser um papai Noel para essas crianças deve ir até uma agência escolher uma carta. O pretenso padrinho tem até o dia dez (próxima quarta-feira) deste mês para levar o presente devidamente embalado de volta para a agência.
Em 2013, foram recebidas 12,5 mil cartas e 10.930 mil foram adotadas. “Já estamos pensando em bater a marca das 11 mil cartas adotadas este ano no Estado. O importante é assumir esse compromisso e cumprir, deixando presente na agência. Só nos últimos três anos, 1,5 milhão de crianças foram atendidas em todo o Brasil. Muitas dessas crianças nunca receberam um presente de Natal e não teriam outra forma de receber”, disse José Alberto Brito, diretor regional dos Correios. O projeto também leva o espírito natalino a escolas nas cidades de Assu, Caicó, Currais Novos, Macau, Santa Cruz, Pau dos Ferros e Nova Cruz.
Ovelhas e dramas
Neste ano, um dos pedidos de presente mais curiosos foi de uma ovelha. E por incrível que pareça, a criança conseguirá o presente. Segundo a coordenadora do projeto, a criança disse que gosta muito de animais, quer ser veterinário, já possui vários e agora queria uma ovelha. A equipe dos Correios constatou que realmente a casa da criança tem condições para a criação do animal. A entrega será feita de forma especial com auxílio do padrinho doador.
A história que também chamou atenção neste ano foi a de uma menina que pediu o tratamento clínico da mãe viciada em álcool. “Muitas crianças usam a carta para desabafar”, contou Halina Dantas dos Correios. Aos 11 anos, a criança expõe na carta que fez as vezes de mãe de seus dois irmãos mais novos porque a mãe não tinha condições para tanto. “Quando achei que minha agonia ia acabar, minha mãe teve outro filho”, dizia a carta. A coordenadora do Papai Noel dos Correios falou que busca viabilizar o pedido por meio de uma Secretaria de Assistência Social, mas a criança também deverá ganhar outro presente.
Fonte: Portal JH
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