A FDA (agência de vigilância sanitária dos EUA) anunciou nesta terça-feira (23) a suspensão de uma regra que, décadas atrás, proibiu por completo a doação de sangue
por homens gays e bissexuais. O cancelamento dessa medida ultrapassada, dizem especialistas, pode ampliar o estoque anual de sangue em até 4%.
A regra havia sido criada em 1983, no início da epidemia de Aids. Na época, pouco se sabia sobre o HIV, e não havia testes rápidos para determinar quem carregava o vírus. A FDA afirma ter reconhecido agora o avanço da ciência das últimas décadas, suspendendo a restrição, mas mantém o bloqueio para doações de homens que tenham tido sexo com outros homens nos 12 meses anteriores.
Em um comunicado público, a agência afirmou que "examinou e ponderou cuidadosamente a evidência científica" antes de mudar essa política. Um documento detalhando as novas diretrizes deverá ser publicado em 2015.
A mudança põe os EUA a par com países europeus como o Reino Unido, que cancelou o bloqueio vitalício em prol de uma barreira de 12 meses em 2011 [no mesmo ano, o Brasil copiou a mudança].
Ativistas em saúde masculina aprovaram a alteração, afirmando que a barreira não se baseava em ciência atualizada e perpetuava o estigma dos homens gays com uma ameaça à saúde da nação. Advogados e juristas afirmam que a mudança alinha a política nacional de saúde a outras conquistas dos gays, como o direito a casar e entrar para o serviço militar abertamente.
"Essa é uma grande vitória para os direitos civis dos gays", afirma Glenn Cohen, professor na faculdade de direito da Universidade Harvard especializado em bioética e saúde. "Estamos deixando para trás a velha noção de que todo homem gay é uma potencial fonte de infecção." Para ele, porém, a nova política "ainda não é racional o suficiente".
A mudança terá implicações de grande alcance para o estoque nacional de sangue. O Instituto Williams, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, calculou que a mudança pode somar cerca de 150 mil litros de sangue a mais ao sistema anualmente, uma mudança de 2% a 4%.
Cerca de 8,5% dos homens americanos -cerca de 10 mil pessoas– relatam ter tido sexo com outro homem ao menos uma vez desde ter completado 18 anos, de acordo com o instituto. A nova política excluiria os 3,8% dos homens americanos que relataram ter tido um parceiro sexual masculino no ano anterior, um grupo que poderia dobrar o novo estoque potencial, afirmou o instituto em um relatório.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!