Mesmo depois de um concurso com mais de 4 mil vagas (incluindo o cadastro reserva) logo no início do atual governo, os estudantes da rede estadual sofrem do mesmo
problema crônica: falta de professores. Para a secretaria, o déficit é de 300 profissionais. Boa parte dessas vagas está em escolas de ensino médio. Para o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (Sinte-RN), são pelo menos mil professores, quantidade que se aposentou só neste ano.
A Escola Estadual Nestor Lima, localizada no bairro de Lagoa Seca, ilustra de forma clara o problema relatado pela entidade profissional. Na instituição, mais de 35% dos alunos são prejudicados com a vacância de professores, isso sem contar os professores licenciados. A escola possui este ano 597 alunos de ensino fundamental e médio nos turnos matutino e vespertino.
Entre os 210 estudantes sem aulas em alguma disciplina, está Thayne Vitória de Lima Alves. Ela tem 11 anos, está no 7º ano do ensino fundamental e desde maio deste ano não tem aulas de matemática. Conforme a direção da escola, o professor passou pelo processo chamado de readaptação. No serviço público, isso quer dizer que o profissional teve um problema de saúde e por isso assumiu uma nova função.
“É chato ficar sem professor, a gente às vezes já até tentou reunir as amigas para estudar em grupo, mas não deu certo”, contou em um tom de frustração. Apesar da pouca idade, ela é consciente das conseqüências dessa lacuna irreparável na sua educação formal. “Praticamente a gente não aprendeu nada. A minha amiga já até arrancou a folha que separa a matéria de matemática pra colocar português”, contou.
Essa não é primeira vez que a menina enfrenta a falta de professor. No ano passado, em outra escola a situação foi muito semelhante, apenas com desfecho diferente. “A professora ia se aposentar, mas ela voltou porque a gente ia ficar sem professor. Aí ela esperou até o final do ano para se aposentar”, relembrou.
Com a atual situação, naturalmente Thayne cultiva mais afinidade pela disciplina de Língua Portuguesa. Apesar disso, ela quer ser arquiteta, profissão que exige conhecimentos matemáticos apurados.
A mãe da jovem acompanha o problema de perto. A coordenadora pedagógica da escola, Clésia Lima, considera impossível de haver reposição de todo o tempo perdido, mesmo a Secretaria Estadual de Educação enviasse um professor hoje. “Com certeza é uma situação gravíssima de mais de cem dias sem aula, sabemos que o aluno não vai conseguir repor. Como é que vamos ter bons resultados se temos esse problema em uma das matérias básicas, que utilizamos no nosso cotidiano. É uma lacuna irreparável e a gente fica triste porque o governo do Estado não se sensibiliza com a situação”, comentou.
Mas o problema da escola não se restringe a falta de um professor pela manhã. À tarde, alunos do sexto, sétimo e oitavo ano também estão sem professor de matemática, que se aposentou também no primeiro semestre do ano. Nas disciplinas de Educação Física e Espanhol praticamente não houve aulas neste ano segundo a própria direção da escola. “Eles fazem modificações no currículo e não mandam os professores”, disse a diretora da Escola Estadual Nestor Lima, Rita Luzia Diógenes, lembrando que Educação Física também deveria contar com aulas teóricas a partir deste ano.
Adaptação ou “jeitinho”
Os alunos que não tiveram aulas de determinada disciplina durante o ano letivo não podem ser reprovados, retidos ou ficar em dependência (pagar a disciplina pendente no ano seguinte no turno oposto àquele que estuda regularmente). A recomendação da Secretaria de Educação, segundo a vice-diretora da escola, é que se faça uma observação no histórico dos estudantes. “Eles dizem que o aluno não pode ser prejudicado de jeito nenhum. Quando é no final do ano coloca-se ‘o aluno está sem nota por falta de professor'”, contou Ana Maria Morais.
Quando um aluno vem de outra escola com essa lacuna educacional, há outra recomendação oficial. “Aí a gente liga para o setor de inspeção escolar e eles dizem para fazer uma adaptação, fazer uns trabalhos em casa e a gente acaba repetindo a nota do aluno”, acrescentou.
Reposta oficial
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação, não seria correto a secretaria chamar os professores para que o próximo governo arcar com a folha de pagamento desses profissionais. A assessoria de imprensa vai disse que essa atribuição deve ficar para o próximo governo, enquanto estudantes como Thayne tem sua vida escolar sacrificada por uma mera desculpa burocrática.
A assessoria de imprensa informou também que há um concurso para professor efetivo vigente realizado ainda em 2011. No decorrer desse tempo, foram chamados mais de 4 mil profissionais ainda conforme a assessoria.
Fonte: Portal Jh
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