O diretor médico do GP do Brasil de F1, doutor Dino Altmann, afirma não existir coerência entre o diagnóstico da lesão sofrida por
Jules Bianchi, divulgada nesta terça-feira, e as informações disponibilizadas logo depois do acidente, domingo, no Circuito de Suzuka. “As coisas não estão batendo'', diz.
O boletim médico divulgado pelo Hospital Geral de Mie, no Japão, onde o piloto francês de 25 anos está internado em estado grave, informou que ele sofreu “lesão axonal difusa''. Para o doutor Altmann, responsável médico também da Stock Car, lesão axonal difusa representa um dano menor do que provavelmente Bianchi sofreu.
“O tratamento para a lesão axonal difusa não é cirúrgico, mas clínico. E o piloto foi operado domingo, imediatamente ao chegar ao hospital. Foram quatro horas de cirurgia, demonstrando que o quadro era realmente grave'', explica Altmann. E dá mais detalhes: “No casos de lesão axonal difusa o procedimento é a instalação de um cateter para monitorar a pressão intracraniana, conhecido como PIC, minimamente invasivo.''
O profissional médico disse não ser possível avaliar o quadro de Bianchi sem dispor dos resultados dos exames realizados pelo grupo que o assiste. “O que desejo dizer é que as informações estão desencontradas.'' E explica: “Divulgaram que o paciente deixou a cirurgia respirando sem a ajuda de aparelhos, o que nesse caso não é possível''.
E levanta até uma nova hipótese a respeito do que se passa: “Isso tudo é válido se o estado do piloto não é tão grave como eles dizem, o que duvido. No choque do carro, o trator levantou, isso equivale a uma explosão''.
Na 42. volta do GP do Japão, a Sauber-Ferrari do alemão Adrian Sutil aquaplanou por causa da chuva mais forte naquele momento e colidiu, sem gravidade, contra a barreira de pneus da área de escape da curva 7 de Suzuka. Os comissários entraram com um trator para a retirada do carro.
Enquanto realizavam o trabalho, Bianchi provavelmente também aquaplanou com sua Marussia-Ferrari e bateu na parte traseira do trator, de frente, a 203 km/h, segundo a telemetria da equipe. Na realidade, a Marussia passou por baixo do trator, destruindo tudo o que havia no monoposto e fosse mais alto que o capacete do piloto.
Bianchi perdeu a consciência na hora e não se sabe se a recuperou em algum momento até agora. Provavelmente não. O grave acidente que coloca em xeque até mesmo a sobrevivência do jovem talentoso francês gerou críticas duras ao diretor de prova, o inglês Charlie Whiting, por não ter ordenado a entrada do safety car àquela altura.
A chuva tornara-se mais forte e quase todos os pilotos competiam com os pneus intermediários da Pirelli e não os de chuva intensa, fato que contribuiu sobremaneira para Sutil e Bianchi perderem o controle de seus carros. O acidente levanta a questão também do uso de veículos como tratores para a retirada dos monopostos que abandonam a corrida.
Para o doutor Altmann, não há o que pensar no caso da entrada de um veículo de serviço na pista durante prova na chuva: “O safety car tem de ser acionado. Já havia a experiência do ocorrido com Michael Schumacher, em Interlagos, em 2003″. Não hesita em dizer: “Eu no lugar do Whiting estaria sem dormir''.
Naquela corrida no Brasil, o alemão da Ferrari colidiu contra um trator também na área de escape da curva do Sol. Vários pilotos bateram naquele ponto por causa do elevado volume de água no asfalto. A dinâmica do acidente de Schumacher foi bem distinta da de Bianchi e ele não se feriu.
“As pessoas não têm ideia do que é você estar prestando assistência a um piloto que se acidentou e ver os carros passarem do seu lado, em plena corrida. Sem a presença do safety car todos correm altos riscos. Com chuva eles se elevam ainda mais'', diz Altmann.
Para o diretor médico do GP do Brasil, não há dúvida: “Se começou a chover e houver a necessidade da entrada de um veículo de serviço é preciso liberar o safety car. Com pista seca é menos grave, mas no molhado não há discussão''.
A repercussão do ocorrido no GP do Japão tem sido tanta que a FIA já estuda mudar alguns procedimentos quanto ao uso do safety car e de veículos de serviço. Para Altmann, está tudo muito claro: “Assistimos a um acidente que poderia ter sido evitado''.
Fonte: Uol
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