Entre os esforços para conter a epidemia do ebola na Nigéria, que foi declarada nesta quarta-feira (20) como livre da doença, o trabalho da médica Ameyo Stella
Adadevoh foi reconhecido no país como um dos mais cruciais.
Filha de um físico e neta de um político considerado um dos fundadores do nacionalismo nigeriano, Adadevoh diagnosticou o primeiro caso de ebola na Nigériana atual epidemia, o do diplomata liberiano-americano Patrick Sawyer.
No dia 20 de julho, Sawyer passou mal durante o voo que o levava da Libéria para Lagos, no principal aeroporto internacional nigeriano e no carro que o levou ao First Consultant Hospital, onde foi internado.
Como a Nigéria estava mal preparada e não tinha procedimentos de triagem no local, Sawyer infectou várias pessoas, incluindo nove profissionais de saúde do hospital para onde foi levado, por falta de equipamento de proteção adequado. Adadevoh foi uma das infectadas e acabou morrendo mais tarde.
No hospital, Sawyer negou qualquer contato com outro paciente de ebola e uma análise clínica concluiu que ele tinha malária. Como não respondeu bem ao tratamento e começou a desenvolver sintomas hemorrágicos, Adadevoh e a equipe médica resolveram testá-lo para ebola.
Depois de 24 horas, o resultado deu positivo e Adadevoh, que era endocrinologista, se viu obrigada a impedir a propagação do vírus, apesar de não haver nenhuma ala de isolamento adequada em toda a Nigéria.
De acordo com o jornal “The Guardian”, a médica era conhecida no hospital por dar medicação de graça para aqueles que não podiam pagar.
Diante do caso de Sawyer, ela organizou a desinfecção do hospital e promoveu uma campanha de conscientização sobre a doença. Em seis dias, a equipe médica conseguiu montar uma unidade de isolamento de pacientes, sem ajuda do governo.
No entanto, Sawyer fazia de tudo para sair do hospital. Ele se tornou agressivo e chegou a jogar sangue na equipe médica, segundo a BBC. Adadevoh, chamada de “médica heroína” pela rede britânica, teve de se manter firme.
Ela também enfrentou autoridades da Libéria, negando a pressão que fizeram para que Sawyer saísse do hospital para participar de uma conferência. A médica foi uma das poucas que tratou o paciente na unidade de isolamento, enquanto outros profissionais da saúde se recusavam a trabalhar no caso.
Em agosto, poucos dias depois da morte de Sawyer, a médica apresentou os primeiros sintomas da doença e entrou para a ala de isolamento que ela mesma montou, desta vez como paciente infectada por ebola. Ela morreu depois de onze dias. Outros três profissionais de saúde que trataram de Sawyer também morreram.
“Ao identificar o primeiro paciente, ela realmente ajudou a Nigéria a estar preparada para rastrear todo mundo e estabelecer uma diferença entre nós e nossos vizinhos africanos, como a Guiné, Libéria e Serra Leoa”, disse seu filho, Bankole Cardosa, à BBC.
“A parte mais triste é que ela ficou aqui na Nigéria para trabalhar em um centro médico que as pessoas pudessem confiar. Se alguma coisa pode ser tirada disso, tudo o que queremos é uma melhora no sistema de saúde na Nigéria, especialmente o público”, afirmou ao “The Guardian”.
Uma fundação com o nome da médica foi criada para continuar seu legado e ajudar o setor de saúde da Nigeria.
A Nigéria, que é o país mais populoso da África, teve 20 pessoas contaminadas por ebola, das quais oito morreram. O ebola já matou 4.546 pessoas na Libéria, Guiné e Serra Leoa, os três países mais afetados.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!