Ainda que os institutos de pesquisa vendam exatidão nas pesquisas veiculadas pela imprensa, o resultado real confrontado ao dos levantamentos – mesmo os feitos
no dia do pleito – voltaram a mostrar distorções com a realidade. As críticas aos institutos de pesquisas se avolumaram após o primeiro turno das eleições, em especial depois da virada de Aécio Neves (PSDB) sobre Marina Silva (PSB) na sucessão presidencial.
“Se essa conversa acontecesse às 15h de ontem [domingo, 5, dia do pleito] estaríamos tratando aqui de um cenário diferente. Nós conseguimos captar a virada do Aécio sobre a Marina. Na quinta-feira [2 de outubro], dia do debate da Globo, Marina tinha 24% contra 19% de Aécio. Na sexta, pós debate e pós pesquisa, que pauta de alguma forma a informação do eleitor, Aécio já tinha vantagem de 27% a 24%”, explica Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope.
Montenegro enfatiza que o eleitor “está decidindo cada vez mais em cima da hora” e os institutos não conseguem captar essa mudança. “Tenho que fechar até 14h, 15h a pesquisa boca de urna, para que a TV possa divulgar. Nós perdemos aí algumas horas para ter uma fotografia mais exata”, prossegue Montenegro.
Outros exemplos que colocaram em xeque as pesquisas eleitorais ocorreram nos Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, Marcelo Crivella (PRB) tirou Anthony Garotinho (PR) da fase final contra Luiz Fernando Pezão (PMDB). No Rio Grande do Sul, mais surpresas: José Ivo Sartori (PMDB) foi ao segundo turno contra Tarso Genro (PT), governador e candidato à reeleição. Ao longo da campanha, Tarso teve como adversária mais constante a candidata Ana Amélia Lemos (PP).
Para o presidente do Ibope, os debates, as pesquisas, a própria internet e os telejornais têm tido um papel cada vez maior na decisão final do eleitor. “No debate da Globo, com os candidatos ao governo do Rio, o Crivella foi muito bem. Somado a isso, Pezão cresceu e tirou votos do Garotinho. Esse movimento, nós não conseguimos captar. Além do mais, aqui no Rio, a abstenção e os votos brancos e nulos que somaram 40%. Quando fazemos uma pesquisa, consideramos que todos os eleitores vão votar”, explica.
Perguntado se os institutos de pesquisa do País deveriam rever seus métodos, Carlos Augusto Montengro rejeitou a tese. “A nossa metodologia é reconhecida mundialmente. Nós fazemos milhares de entrevistas”, finalizou.
Datafolha
“Pesquisas avaliam o voto convicto, o não convicto (que é volúvel) e os indecisos”, disse à TV Folha o diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, na última segunda-feira (06). “Os não convictos podem mudar de voto [têm mais chance de mudar], são numerosos e vêm aumentando a cada eleição. É um comportamento crescente. É reflexo da maturidade política”, disse o diretor do Datafolha, acompanhando a tese de Carlos Montenegro.
Paulino também concorda que as pesquisas eleitorais também são um dos elementos que influenciam a decisão final do eleitor. “As pesquisas influenciam [o voto] cada vez mais e é bom que influencie. Faz parte da democracia”, justifica.
O diretor do Datafolha sugere que devem surgir no horizonte ameaças à divulgação de pesquisas eleitorais. “Vão surgir novas ameaças de acabar com as pesquisas. Isso sempre aparece depois das eleições. Vão tenta proibir [por lei] e vão propor criação das CPI das Pesquisas”.
Montenegro admite que há erros e concorda que os questionamentos aos resultados sempre existiram. Mas o presidente do Ibope pondera que “já foram muito maiores no passado do que hoje em dia”.
Na sua defesa dos levantamentos de 2014, Mauro Paulino comentou que as “pesquisas presidenciais concordaram. Foi a eleição que houve menos polêmica em relação ao resultado. Nunca os jornalistas tiveram tanto acesso aos tracking, mostraram as mesmas tendências, evidência de que resultados estavam corretos. A ultrapassagem [de Marina Silva por Aécio] se deu entre quinta e sexta e [foi] alavancada final no dia da eleição”, afirmou.
Repercussão
Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro, a sociedade brasileira vem se transformando e talvez as amostras de grupos dos institutos de pesquisa não tenham acompanhado esse fenômeno, “o que não é culpa dos institutos”, sublinha.
Outro ponto apontado por Janine Ribeiro é que fenômenos de última hora também podem influenciar o eleitor, lembrando que a explosão de uma bomba no País Basco (Espanha) acabou pautando uma mudança na formação do parlamento local em 2008.
O professor da USP, no entanto, alerta que as pesquisas claramente influenciam o voto do eleitor e lembrou que a eleição ao Senado por São Paulo em 2010 foi marcada por “falhas metodológicas das pesquisas”. Naquela eleição, Netinho di Paula (PCdoB) era seguido por Orestes Quércia (PMDB) e por Aloysio Nunes (PSDB). “Naquela eleição o terceiro colocado foi o eleito e não dá pra confiar numa pesquisa dessas”, enfatiza Janine Ribeiro.
Questionado se defende ou não limites à divulgação de pesquisas, o professor diz não ter opinião formada, mas admite a discussão do assunto. “Embora elas pautem o voto, proibi-las pode fazer com que um universo pequeno de clientes, como partidos, bancos e empresários, possam usar os dados em seu próprio benefício”, aponta Janine Ribeiro.
O professor da USP se diz incapaz de comentar que contribuição alterar as margens de erro das pesquisas poderia dar para um resultado mais fiel das mesmas. “É uma questão estritamente técnica. Mas imagine uma margem de erro de cinco pontos. Quem iria se interessar por esse produto?”, questiona.
Fonte: IG
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