Eles moram na praia de Areia Preta, mas não fazem parte da elite econômica nem política do Estado. Na verdade, eles estão literalmente na base da estrutura social, quase
no subsolo, literalmente. Muitos moradores de rua permanecem utilizando as fundações estruturais do calçadão da praia de Areia Preta mesmo depois do deslizamento de terra no bairro de Mãe Luíza. O destino final de tudo que desceu do morro, em junho deste ano, foi a orla da praia.
As fundações do calçadão formam pequenos espaços separados pelos pilares em boa parte da extensão da praia. Em alguns desses compartimentos, o vão livre é maior. É exatamente nesses cubículos, de frente para o mar, onde moradores de rua encontram algum refúgio.
Na região na qual a areia do deslizamento de Mãe Luíza foi parar ainda há muitos desses compartimentos entupidos da areia do morro. Alguns cubículos são ligeiramente mais espaçosos que outros. Em dois deles, a estrutura de madeirites e compensados funciona como porta.
Nossa equipe de reportagem tentou conversar com um homem que dormia em um desses compartimentos mais organizados. Lançamos um “bom dia” seguido de palmas para saber se havia alguém naquele quarto de concreto. Ao ser acordado, ele resistiu ao nosso pedido de conversa. “Da outra vez que fizeram matéria aqui, não deram nem um pão de ajuda. Foi só fofoca”, disse sem aparecer na porta. Na insistência da equipe, ele pediu para ir embora porque “trabalhei a noite todinha”.
Outros cubículos também possuíam pedaços de madeira, travesseiros velhos, restos de colchões e até bichos de pelúcia. Também havia sinais de fogueira com cinzas e partes das paredes queimadas.
Da última vez que O JORNAL DE HOJE esteve no local, em 16 de março de 2013, a nossa equipe encontrou José Ferreira dos Santos ocupando um desses compartimentos. Natural da cidade potiguar de Lagoa Salgada, ele havia trazido um filho e a mulher para morar nas mesmas condições: à beira-mar e embaixo do calçadão. O compartimento onde nossa equipe foi hoje fica na mesma região da orla onde José dos Santos estava abrigado, mas desta vez não conseguimos identificar se era o mesmo homem.
Os operários que trabalham na recuperação do calçadão de Areia Preta, depois que o deslizamento destruiu a estrutura, falaram que as pessoas que utilizam o subsolo para fazer sexo e utilizar drogas durante a noite. Muito não ficam em seus cubículos durante o dia.
Em uma das paredes, uma frase gravada com tinta chama a atenção: “Jesus, eu te amo”. Entramos em contato telefônico com a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas), mas a diretora responsável pelo departamento, que aplica políticas públicas para população em situação de rua, não fala com veículos de comunicação por telefone segundo a assessoria de imprensa.
Fonte: Portal JH
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!