A Polícia Civil do Rio Grande do Sul confirmou na tarde desta terça-feira (2) que mais três torcedores do Grêmio terão de dar explicações após os incidentes de injúria racial
contra o goleiro Aranha, do Santos. Os três já foram intimados, e pelo menos um deles deve depor na quarta-feira (3). Com isso, subiu para seis o total de investigados pelo caso ocorrido na última quinta (28).
Responsáveis pelo inquérito, agentes da 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre se dedicam a analisar imagens registradas pelas câmeras de segurança da Arena do Grêmio, onde o time gaúcho enfrentou o Santos na última quinta-feira (28).
“Esses vídeos possibilitaram o reconhecimento desses três novos torcedores. Um deles já foi encontrado e concordou em vir à delegacia”, explicou ao G1 o comissário de polícia Lindomar Souza.
Entregue por funcionários da Arena três dias após os incidentes de injúria racial, o vídeo tem mais de uma hora de duração, de acordo com a Polícia Civil. Até as 16h, investigadores ainda tentavam encontrar os outros dois novos gremistas identificados.
Primeiros depoentes negam suspeitas
Durante a manhã desta terça-feira, dois dos seis investigados prestaram depoimento. O gremista Tiago de Oliveira, primeiro a ser ouvido, alegou ter sido confundido com outro torcedor e chegou a mostrar uma foto para provar que estava em outro setor do estádio no dia da partida diante do Santos.
Já Rodrigo Rychter relatou que estava no espaço de onde as ofensas tiveram origem, mas negou que tenha dirigido palavras ou gestos ofensivos ao goleiro Aranha. "O depoimento já foi dado e ficou esclarecido que eu não tenho participação", declarou, ao se dirigir à porta de saída da delegacia.
O segundo torcedor do Grêmio a depor na manhã desta terça-feira (2) em Porto Alegre negou que tenha dirigido palavras ou gestos ofensivos ao goleiro Aranha na partida do clube gaúcho contra o Santos na última quinta. Entretanto, Rodrigo Rychter afirmou que estava no espaço de arquibancadas atrás do gol.
A oitiva com o delegado demorou mais de uma hora. Ao sair, foi curto nas respostas à imprensa. "O depoimento já foi dado e ficou esclarecido que eu não tenho participação", declarou, ao se dirigir à porta de saída da delegacia.
Apesar de informar que estava no setor destinado à torcida Geral do Grêmio, Rodrigo afirma que não faz parte da organizada. "Não sou integrante, só assisti ao jogo dali", afirmou.
Ainda de acordo com o torcedor, ele não indicou mais nenhum nome à polícia, apenas prestou seus esclarecimentos. Mesmo negando participação nas ofensas raciais, continua sendo investigado como suspeito de injúria racial. As imagens das câmeras de televisão e de segurança da Arena seguem em análise.
Rodrigo também acrescentou que não concorda com pessoas que gritam "macaco" ou outras palavras do tipo no estádio. "É errado isso. Não xinguei ele em nenhum momento", declarou.
Antes de Rodrigo, Tiago de Oliveira prestou depoimento. Ele alegou ter sido confundido com outro torcedor. Patrícia Moreira, a jovem que foi flagrada por câmeras de TV chamando Aranha de "macaco", irá se apresentar à polícia nesta quinta-feira (4). De acordo com a Polícia Civil, ela e os dois homens ouvidos nesta os três podem ser indiciados por injúria racial qualificada.
Segundo a polícia, quatro pessoas já foram identificadas por atos racistas na partida. Destas, três foram intimadas a prestar depoimento. O delegado, no entanto, não descarta que o número de envolvidos nos xingamentos possa chegar a seis.
Entenda o caso
O incidente no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo, quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O juiz mandou a partida seguir, mesmo sendo alertado por jogadores do Santos dos incidentes que ocorriam fora de campo.
A jovem mostrada pelas imagens do canal ESPN foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Patrícia Moreira era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia na clínica da polícia militar gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro santista começaram a circular pelas redes sociais logo após a partida. Aranha registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia na sexta (29).
Diante da repercussão, Patrícia evitou dormir em casa nos últimos dias. Ela se refugiou em residências de parentes e amigos para evitar retaliação. Pedras foram jogadas em direção a sua casa na noite de sexta-feira. O G1 visitou a região na tarde de sábado e ouviu os vizinhos. Amigos negros da menina de 23 anos garantem que ela não é racista.
As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro tiveram mais um desdobramento. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou pedido da Procuradoria de Justiça Desportiva e suspendeu o jogo de volta entre as duas equipes, na próxima quarta-feira (3), até que o caso seja julgado. No primeiro duelo das oitavas da Copa do Brasil, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0.
O Grêmio responderá por ato de discriminação racial por parte de torcedores, além do arremesso de papel higiênico no gramado e atraso. O clube corre risco de exclusão na Copa do Brasil e multa de até R$ 200 mil. A denúncia se apoia no artigo 243-G (discriminação racial) e no 213 (arremesso de objeto em campo), ambos do CBJD. O clube responde ainda ao artigo 191 por descumprir o regulamento e entrar em campo três minutos após o horário previsto.
Fonte: G1
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