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segunda-feira, setembro 08, 2014

Campanha de Dilma muda comando após delação de corrupção bilionária

Ao fundo, Miguel Rossetto (de terno escuro), ministro do Desenvolvimento Agrário e José Eduardo Cardozo, da Justiça, conversam enquanto Dilma discursa. Foto: DivulgaçãoEm meio ao impacto negativo provocado pela delação de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que acusou políticos
petistas e da base aliada de envolvimento em um suposto esquema de desvio de recursos da estatal, a presidente Dilma Rousseff (PT) decidiu alterar o comando de sua campanha à reeleição. O ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) assume a partir de hoje a coordenação geral da campanha. A função vinha sendo dividida entre o presidente do PT, Rui Falcão, e Giles Azevedo, que foi chefe de gabinete de Dilma.

A entrada de Rossetto dilui o poder de Falcão, que integra o campo majoritário do PT, do qual faz parte também o tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, também envolvido por Paulo Roberto Costa no suposto esquema de recebimento de propina da Petrobras. A entrada de Rossetto, além de mudar o comando político e estratégico da campanha, tenta demarcar melhor a distância de Dilma em relação a Vaccari.

A mudança não retira totalmente o poder de Falcão, porque, como presidente nacional do PT, ele tem a prerrogativa estatutária de integrar a coordenação de todas as campanhas. Mas seu poder agora será compartilhado com um petista de ala mais à esquerda do partido e mais próximo a Dilma. Rossetto não integra o campo majoritário do PT, ala à qual também pertence o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Quanto a Giles, apesar de ser um nome ligado à presidente, ele sempre teve uma atuação mais burocrática e menos política no governo e na campanha. As mudanças ocorrem num momento em que o ex-diretor da Petrobras denuncia o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, Vaccari e parlamentares da base governista de terem recebido propina de contratos da estatal.

Rossetto terá “autoridade” e “autonomia”

O crescimento de Marina Silva (PSB) e as denúncias envolvendo políticos da base aliada em meio a uma campanha que, há duas semanas, parecia consolidada em favor da reeleição levaram a presidente a destacar um auxiliar de sua extrema confiança e que parece ter mais habilidade para fazer um elo entre governo e campanha. Rossetto assume com “autoridade” e “autonomia” dados por Dilma para tomar decisões estratégicas a partir de agora.

A primeira delas será a de também manter a principal adversária, Marina Silva, na defensiva. Integrantes da coordenação da campanha petista dizem que Marina terá que responder pelo envolvimento de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, morto em um acidente aéreo no mês passado, no esquema de recebimento de propina delatado por Costa.

“Marina é do PSB. Era candidata a vice de Eduardo Campos. É sua herdeira política na disputa eleitoral. Não há como ela se descolar das denúncias”, disse um auxiliar da presidente.

O comitê de Dilma provocará a adversária a defender Campos sempre que forem mencionadas as denúncias de Costa. A estratégia é de contra-ataque, respondendo na linha de que Marina não representa “a nova política” no momento em que pairam dúvidas sobre a conduta política de Campos.

Quanto ao tucano Aécio Neves, a avaliação entre os aliados de Dilma é que ele não terá mais tempo de se recuperar eleitoralmente, e que a polarização com Marina é irreversível. Os dirigentes petistas sabem que os ataques do PSDB serão intensos, mas esperam que eles tenham pouca ressonância. Por isso, a ideia é deixar Aécio em segundo plano, polarizando mesmo com Marina. Além de colar a pessebista em eventuais problemas de Campos, Dilma insistirá nas contradições da ex-ministra.

Novo coordenador avalia quadro com Dilma

Rossetto passou a tarde de ontem no Palácio da Alvorada com Dilma avaliando o quadro eleitoral e redefinindo os rumos da campanha. Caberá a ele representar Dilma na definição de estratégias para desconstruir Marina. Numa primeira análise, segundo integrantes da campanha, serão mais bem programadas as viagens e os eventos dos quais ela participará. A avaliação é que, como Dilma decide em cima da hora, os eventos acabam parecendo improvisados.

No começo da disputa eleitoral, a presidente sinalizou que o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) assumiria função estratégica na campanha. Há algumas semanas, no entanto, Rossetto vinha sendo chamado por Dilma a opinar politicamente. As conversas vieram se acentuando nos últimos dias. Dilma e o ministro se conhecem há pelo menos 20 anos.

Rossetto foi “chefe” de Dilma quando era vice-governador do Rio Grande do Sul, e ela, secretária de Minas, Energia e Telecomunicações do estado. Ele foi um dos principais articuladores da saída de Dilma do PDT e de sua filiação ao PT. É um dos raros políticos que consegue ter autonomia e carta branca da presidente para trabalhar. Antes de voltar ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, cargo que já ocupou no governo Lula, foi presidente da Petrobras Biocombustível.

“A campanha precisava de alguém com uma espécie de mandato de Dilma para resolver, decidir e analisar o quadro de forma mais estratégica”, disse um auxiliar da presidente, sem mencionar as denúncias de Costa.

Desde o começo da disputa eleitoral se avolumam reclamações sobre desentendimentos internos e falta de comando na campanha.

Fonte: O Globo

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