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quinta-feira, setembro 25, 2014

Ativista preso em SP diz no Facebook que se uniu a exército pró-Rússia

Rafael Lusvarghi postou foto no Facebook como voluntário do exército rebelde pró-Rússia (Foto: Reprodução/Facebook)O ativista Rafael Marques Lusvarghi, que ficou 45 dias preso em São Paulo, acusado de atos violentos durante a Copa do Mundo, postou no seu Facebook
que já está na Europa, onde se se juntou às forças rebeldes ucranianas pró-Rússia. Em agosto, quando foi solto, ele havia dito ao G1 que pretendia ir a Ucrânia para se unir aos separatistas em Donetsk, que querem a divisão do leste do país.
A equipe de reportagem não conseguiu localizar o rapaz de 30 anos para comentar o assunto nesta quinta-feira (25).

“Eu vou ficar por um longo tempo agora. Eu me tornei voluntário no exército de Novorossiya”, escreveu Rafael na sua página pessoal na internet, em 21 de setembro, sobre ter se alistado para defender a Novarússia. A mensagem foi traduzida do russo. Nela, o manifestante aparece com o nome "Rafael Fernandovich Marques Lusvarghi (Cachaça)". Não é possível, no entanto saber em qual cidade ele está.
O texto foi postado três dias depois de a Justiça de São Paulo absolvê-lo das acusações de liderar protestos com depredações portando explosivos. Além de Rafael, o estudante Fabio Hideki Harano, que também ficou detido pelos mesmos crimes, foi inocentado. Ele já estava em liberdade.

Os dois tinham sido apontados como lideranças do movimento Black Bloc, que prega a destruição do patrimônio público como forma de manifestação. Rafael e Fábio sempre negaram as acusações.

Procurada nesta tarde pela equipe de reportagem, a assessoria de imprensa da Defensoria Pública de São Paulo, que defendeu Rafael, informou que o rapaz ainda responderia a outros crimes, mas não soube informar quais. O órgão também alegou que iria procurar mais dados para se pronunciar a respeito da informação de que ele estaria fora do Brasil e se isso seria permitido.
Quando falou no mês passado com a equipe de reportagem, Rafael falou que só iria à Ucrânia após o fim do processo judicial que responde em liberdade no Brasil.

Ucrânia
Rafael, que já foi soldado da Polícia Militar (PM) em São Paulo e perdeu os empregos como professor de inglês e assistente de help desk devido às duas prisões que sofreu em atos anti-Copa, postou mais mensagens e fotos no seu Facebook.
Em algumas imagens divulgadas neste mês aparece usando uniforme, segurando arma e posando à frente da bandeira rebelde pró-Rússia.

Procurado pelo G1, seu irmão, o servidor público Lucas Lusvarghi, afirmou que soube da viagem de Rafael pela página pessoal dele na internet. “A última vez que o vi e falei com ele foi há 15 dias”, disse Lucas, que mora em Jundiaí, interior paulista. “Dei a chave de minha casa para ele, mas perdi contato. Soube que ele foi lutar na Ucrânia pelo Facebook, no domingo [21] de manhã”.

Amigos do manifestante que aceitaram falar sob a condição de não terem os nomes divulgados, disseram ao G1 que ele deixou o Brasil em setembro.

Rafael posa com arma em foto postada no seu Facebook (Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)Rafael posa com arma em foto postada no seu
Facebook (Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)
Na web, Rafael postou mensagens e fotos em 19 de setembro informando que havia chegado à Praça Vermelha, em Moscou. “Eu agradeço aos camaradas e irmãos por todo o suporte e incentivo que tenho recebido, especialmente pelos que tornaram tudo isso possível ”, escreveu. “ Viva Novarussia, viva Brasil!”
Rafael já planejava ir à Ucrânia antes de ter sido preso em São Paulo. “Tinha uma passagem comprada para lá. O voo partiria em 28 de junho”, disse ele, que cinco dias depois foi detido pela segunda vez.

Rafael, que sempre se considerou um combatente de guerra, ficou conhecido da imprensa pelas prisões que sofreu nos atos anti-Copa. A primeira delas pela PM em 12 de junho, na abertura do torneio, na estação Carrão do Metrô. A segunda pela Polícia Civil em 23 de junho, quando estava na Avenida Paulista, sem camisa e vestindo kilt – traje escocês semelhante a uma saia.

Perfil
Devorador de livros sobre os vikings, tem a palavra bersek tatuada no braço, numa alusão a guerreiros da mitologia nórdica.

Em 17 de junho, se submeteu a uma escarificação (técnica que consiste em cortar a pele para deixar uma cicatriz) num estúdio de tatuagem enquanto a seleção brasileira empatava com a mexicana. Decidiu fazer uma cicatriz no rosto inspirada em personagens como o guerreiro Leonidas, do filme 300.

Rafael Marques Lusvarghi, detido no protesto no dia 12 de junho e nesta segunda (23) na Avenida Paulista (Foto: Estadão Conteúdo)Rafael Marques Lusvarghi, detido no protesto no dia
12 de junho e nesta segunda (23)(Foto: Estadão
Conteúdo)
Na conversa com o G1 em agosto, Rafael se definiu como “combatente”, “stalinista” e de “esquerda”. Apesar disso, um juiz, Marcelo Matias Pereira, já o chamou de “esquerda caviar” – expressão de origem francesa (gauche caviar) para descrever ativistas que dizem ser socialistas, mas que usufruem do capitalismo. O mesmo magistrado foi quem o soltou depois.

Mais velho de quatro irmãos nascidos numa família de origem húngara e de classe média, Rafael é jundiaiense. A mãe professora é separada do pai, empresário em Minas Gerais. Na adolescência, fez curso de técnico de agronomia. Aos 18, se alistou na Legião Estrangeira, na França, onde serviu por três anos. Na volta ao Brasil, foi soldado da PM de São Paulo entre 2006 e 2007. Depois tentou a carreira de oficial da PM no Pará, mas abandonou em 2009.

No ano seguinte, seguiu para a Rússia para concretizar seu desejo de conhecer, in loco, o que só havia visto em fotos do período comunista. Lá, estudou administração, onde ganhou de um professor o apelido de Riurik Varyag Volkovich, da dinastia Rurik. Tentou entrar para o exército russo, mas não conseguiu e voltou à América do Sul. Contou ter entrado no território colombiano, onde ingressou nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Fonte: G1

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