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segunda-feira, setembro 08, 2014

Atividade mineradora em região de Honduras deixou rastro de doenças, destruição ambiental e desemprego

 http://www.cidadenewsitau.blogspot.com.br/“São 14 anos de luta e de exigir justiça de um Estado indiferente. A transnacional mineradora Goldcorp Inc. deve ser responsabilizada pelos danos que nos causou, por ter
rompido o tecido social de nossas comunidades, por ter robado a paz e a dignidade de nosso povo, pelo estado de desolação e abandono no qual vivemos”.

O desabafo é de Carlos Amador, membro do Comitê Ambiental do Valle de Siria. Sua voz se soma às de milhares de moradores que ainda se atrevem a viver nesse canto abandonado do departamento de Francisco Morazán, em Honduras, e que se negam a esquecer a tragédia humana e ambiental que tiveram de vivenciar.
Leia a primeira parte:
Crescimento da indústria mineradora na América Central produz mitos, paradoxos e realidade trágicas 

O Valle de Siria é formado pelos municípios de El Porvenir, San Ignacio e Cedros. O processo de exploração começou em meados da década de 80 com a Fisher Watt Gold Compan), mas foi em 1995 que a empresa Sociedad Minerales Entre Mares Honduras S.A., subsidiária do colosso canadense Goldcorp Inc, solicitou permissão de exploração a céu aberto – à base de cianureto – da mina de San Martín.

A permissão foi outorgada em janeiro do ano 2000 para uma área de 23 mil hectares e o processo de exploração durou até 2008, quando a empresa começou a etapa de encerramento e pós-encerramento da exploração, em meio a um verdadeiro êxodo juvenil e ao crescente protesto das comunidades que denunciavam graves efeitos socioambientais.

Minas a céu aberto

Quando se aplica o método da mineração a céu aberto, a primeira coisa que se faz é acabar com todas as árvores e tudo o que é vegetação da área a ser explorada. Depois, joga-se fora a camada fértil da terra de onde se extrai o ouro e, seguidamente, cavam-se crateras gigantescas de cerca de 100 hectares e até 200 metros de profundidade, usando cargas explosivas e máquinas.

Uma vez que se extraem as pedras do subsolo, elas são transportadas por enormes caminhões para uma planta de britagem, onde são transformadas em pó e levadas para áreas de lixiviação (lavagem). Finalmente, são adicionadas grandes quantidades de água cianetada para separar as partículas de ouro (relatório executivo “A Mina de San Martín no Valle de Siria”, 2013).

“A Entre Mares S.A. chegou ao Valle de Siria com a teoria de dar emprego e desenvolvimento a milhares de pessoas. O que gerou, na realidade, foram cerca de 330 postos de trabalho e mais pobreza para milhares de famílias camponeses que ficaram sem renda. Foi tudo uma grande mentira, e passamos de ser o maior produtor de grãos básicos do departamento de Francisco Morazán para uma das áreas mais afetadas e envenenadas do país”, disse Amador a Opera Mundi.
De acordo com pesquisas realizadas pelo Cehprodec (Centro Hondurenho de Promoção para o Desenvolvimento Comunitário), no Valle de Síria viviam cerca de 7 mil famílias, isto é, 42 mil pessoas que foram impactadas pela mineradora.
“Foram removidos mais de 50 milhões de toneladas de terra para extrair ouro, afetando a produção agrícola, que se reduziu em 70%. Além disso, 19 das 21 fontes de água que existiam já se secaram e as que restam estão contaminadas com metais pesados. Isso gerou uma emergência hídrica sem precedentes” explicou Pedro Landa, especialista em mineração e membro da Coalizão de Redes Ambientais e do Cehprodec.

Além disso, as comunidades nunca foram consultadas ou informadas sobre os riscos que a instalação da mineradora de metais a céu aberto traria para a região. Da mesma forma, leis nacionais e vários convênios internacionais ratificados por Honduras foram violados. Nem mesmo a contribuição com o fisco nacional e municipal, que foi insignificante se comparada com o suculento negócio da transnacional mineradora canadense, pôde justificar a magnitude dos impactos sobre as comunidades, seus territórios e condições de vida.

Um povo doente

Segundo as diferentes organizações que integram o Comitê Ambiental do Valle de Siria, nos mais de 8 anos de exploração mineradora, os impactos socioambientais gerados pela Entre Mares S.A (Goldcorp), com o silêncio cúmplice das autoridades locais e nacionais, foram devastadores. Além de desmantelar o tecido social, dividir e deslocar as famílias camponesas, as organizações denunciam graves efeitos à saúde das pessoas.

“Foram realizados vários estudos e confirmamos que a atividade mineradora provocou graves problemas dermatológicos e de visão, queda de cabelo, partos prematuros, malformações congênitas e abortos. Também foram detectados níveis altíssimos de metais pesados no sangue das pessoas. O mais preocupante é que esse tipo de contaminação permanecerá no ambiente por mais de cem anos”, alertou o doutor Juan Almendarez, diretor do CPTRT (Centro de Prevenção, Tratamento e Reabilitação de Vítimas de Tortura).

Fonte: Opera Mundi

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