Após quase cinco horas de depoimento em audiência no Fórum de Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul, a delegada Caroline Bamberg, responsável pela
investigação do Caso Bernardo, concedeu entrevista e citou um novo trecho do mesmo vídeo com ameaças ao garoto. Segundo ela, o pai do menino, o médico Leandro Boldrini, diz para o filho tomar um remédio, dá uma dose e, em seguida, o menino aparece tonto. O material foi usado como um "trunfo" da acusação.
"O Leandro diz ao Bernardo: 'É esse remedinho que tu tens que tomar'. Nesse trecho aparece ele tomando medicamento e voltando meio 'grogue'. Foi proposital", afirmou ao G1 a delegada ao final do depoimento nesta terça-feira (26).
Durante a audiência, a delegada e o advogado de defesa do médico, Jader Marques, travaram um embate particular. Assim, os defensores dos outros réus tiveram pouco tempo para fazer perguntas. "Não vejo como fracos os outros elementos. Mas [o vídeo] veio demonstrar mais ainda o que a gente já tinha certeza, da culpa de todos", acrescentou a delegada.
Além do vídeo, que tem cerca 15 minutos, segundo a delegada, ela informou que ainda existe um outro material. "Tem um outro vídeo também", completa. As imagens ainda não foram divulgadas pela polícia.
Pouco depois, o advogado da vó materna de Bernardo, Marlon Taborda, também falou sobre o conteúdo do vídeo e contou que as imagens foram gravadas na véspera do Dia dos Pais de 2013. Leandro, pai de Bernardo, aparecia com um copo de uísque na mão.
"É a prova que faltava para a acusação no julgamento. A Graciele dizia 'tua mãe te botou num mato sem cachorro'. São provas cabais contra o Leandro. Tive dificuldade para dormir ao ver esses vídeos. Os gritos de socorro do Bernardo são muito fortes", afirmou ao G1 Taborda.
De acordo com o advogado, a madrasta ainda fez ameaças. "Graciele dizia que ele ia ter o mesmo destino da mãe", contou. Odilaine Uglione, mãe do menino, cometeu suicídio em 2010.
Ainda durante a audiência da delegada, Jader Marques levou roupas e calçados que pertenciam a Bernardo para tentar provar que ele era bem cuidado pelo pai e pela madrasta. Depois da delegada, que foi a única testemunha ouvida das 9h30 às 14h30, o ginecologista Celestino Ambrósio, amigo de Leandro, falou ao juiz. No depoimento, ele reiterou que Leandro disse que “era muito fácil matar alguém hoje em dia, sumir com o corpo”.
Depois, uma dentista prestará depoimento e haverá intervalo na sessão. Outras oito pessoas, testemunhas de acusação, serão ouvidas ainda nesta terça-feira (26). O TJ dispensou 22 pessoas. O juiz vai marcar uma nova data para ouvir as testemunhas que faltaram. Dos quatro réus, apenas Edelvania e Evandro Wirganovicz optaram por comparecer. Leandro e Graciele pediram dispensa.
Transcrição de vídeo revela ameaças de madrasta a Bernardo
Mais cedo, a delegada falou sobre outro trecho do mesmo vídeo, onde aparecem ameaças de Graciele Ugulini ao menino durante uma briga. "Vamos ver quem vai primeiro para baixo da terra", dizia Graciele nas imagens gravadas, segundo transcrição à qual o G1 teve acesso. Ao sair do depoimento, a delegada confirmou o teor das imagens.
Nas imagens, Bernardo grita pedindo socorro, e o pai manda o menino calar a boca, ficar quieto. "Cala a boca, guri de merda, cagão", dizia o médico, de acordo com a transcrição. Também conforme a transcrição, a briga ocorreu em uma noite de sábado e chamou a atenção do vizinhos, que chamaram a polícia. A Brigada Militar esteve no local e acalmou os ânimos.
Segundo a delegada Caroline Bamberg, as imagens foram gravadas pela madrasta com a intenção de dizer que Bernardo era agressivo com a família. O arquivo havia sido apagado do celular de Leandro, mas foi recuperado por técnicos do Instituto-Geral de Perícias.
"Demonstra muito bem o comportamento deles com o menino. O Bernardo pede socorro, grita. Reforça bem a acusação contra o Leandro", declarou Caroline ao G1, pouco antes de entrar na audiência. "Também mostra ameaças da Graciele ao Bernardo, inclusive de morte", acrescentou.
O corpo de Bernardo foi localizado no dia 14 de abril enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen, a cerca de 80 quilômetros de Três Passos, onde ele residia com a família. O menino estava desaparecido desde 4 de abril. Além de Leandro e Graciele, a amiga da madrasta Edelvania Wirganovicz e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, estão presos e respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No dia 6 de abril, o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. No dia 14 de abril, o corpo do garoto foi localizado. Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem de um sedativo e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen.
O inquérito apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ainda conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune, e contaram com a colaboração de Edelvania e Evandro.
Fonte: G1
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