Em uma batalha judicial que já dura dois anos, a dona de casa Denise Nazaré Monteiro diz ser movida pelo desejo de "dar um sepultamento digno" ao pai, o engenheiro da Força
Aérea Brasileira (FAB) Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro. Ela e a irmã, a professora Carmem Silvia Monteiro, tentam anular a autorização obtida no Rio de Janeiro pela filha caçula do engenheiro, Ligia Cristina, para contratar uma empresa especializada para congelar do corpo do militar nos Estados Unidos.
"Meu pai era homem inteligente, lúcido, e jamais participaria de uma palhaçada dessas", diz a filha mais velha, de 53 anos, garantindo que o desejo de Andrade Monteiro era ser enterrado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde moram as duas irmãs. "Meu pai não merecia isso, era um homem correto e maravilhoso", lamenta.
O engenheiro morreu em fevereiro de 2012. Em junho do mesmo ano, Ligia obteve na Justiça carioca a autorização para o congelamento do pai por uma empresa especializada em “criogenia”, que utiliza nitrogênio líquido para resfriar e preservar corpo. O objetivo seria voltar à vida no futuro, quando a medicina estivesse mais avançada. As irmãs mais velhas, filhas de outra mãe, recorreram alegando que este não era o desejo do pai. Os embargos infringentes impetrados pela defesa de Denise e Carmem Monteiro seriam julgados na quarta-feira (30) na 7ª Câmara Cível do TJ-RJ, mas a sessão foi adiada em 7 dias.
"Queremos sepultar o nosso pai dignamente, porque ele era um militar, e [o congelamento do corpo] não era a vontade dele. Tínhamos contato com ele e temos provas”, afirma. Denise criticou a Justiça do Rio de Janeiro, afirmando que foram desconsideradas no primeiro julgamento do caso evidências de que o pai havia pedido para ser sepultado em Canoas. "Temos declarações de enfermeiras que o acompanharam por longos períodos, da fisioterapeuta, e isso não foi levado em conta", lamenta.
A dona de casa garante que, apesar de morar longe do militar, tinha um convívio intenso com ele. Lembra que a irmã mais nova foi aprovada em um concurso da Polícia Federal, e o pai, para não ficar sozinho, passava "longos períodos" com elas em Canoas. "Ele chegava a ficar até 10 meses aqui. Adorava as netas", relembra.
Antes do AVC que o fez perder a fala e os movimentos do lado direito do corpo, conta Denise, Andrade Monteiro sempre manifestou o desejo de ser sepultado no Rio Grande do Sul. "Ele fazia questão de ver como estava a sepultura", recorda. Ao contrário do que diz a caçula, a dona de casa nega ter interesse financeiro.
Apesar de Lígia dizer que conheceu as irmãs mais velhas quando tinha 19 anos, Denise garante que conhece a caçula "desde que ela nasceu". "Fui à formatura dela em Brasília, de escrivã da Polícia Federal. Temos fotos que comprovam, todo mundo sabe, não é novidade para ninguém. As pessoas do Rio me conhecem", contesta a dona de casa, que não tem certeza se o corpo está mesmo nos Estados Unidos. "Acredito que possa estar em outro lugar. Ninguém sabe se está lá, nosso advogado entrou em contato com a empresa e nunca responderam".
Denise diz se sentir incomodada com a repercussão do assunto. "Vejo comentários maldosos sobre o meu pai, como se ele quisesse ser imortal. O que é isso? Ele era um homem inteligente, correto e lúcido", afirmou.
O G1 entrou em contato com a advogada de Lígia, Renata Mansur, que descartou que haja interesse financeiro por parte de sua cliente no caso. Ela ressalta que Lígia ofereceu abrir mão de sua parte na herança em troca da desistência das irmãs no processo, além de bancar o custo do congelamento – R$ 860 por dia e uma taxa fixa de R$ 56 mil –, e explica que o impasse não influencia no inventário.
Renata nega que Lígia tenha tentado afastar o pai das duas irmãs e contesta a proximidade da relação entre ela e os pais. Ela acredita que o fato de elas não terem ido ao Rio de Janeiro imediatamente após a morte do pai evidencia que a relação não era próxima.
Esperança de trazer o pai de volta
Na época da divulgação do caso, o Fantástico ouviu Lígia Cristina, do segundo casamento de Luiz Felipe. Como o pai, Lígia acredita que com o avanço da ciência será possível trazê-lo de volta à vida em algumas décadas." Já pensou ter a oportunidade de, daqui a 30 ou 40 anos, poder rever meu pai?", indaga Lígia. "Não tem provas de que isso pode acontecer, mas é um sonho", complementa.
Reprodução Cidade News Itaú via G1
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