Após 16 horas de velório, o corpo do escritor, dramaturgo e poeta Ariano Suassuna foi enterrado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, nesta
quinta-feira (24). O sepultamento foi precedido pela leitura de dois poemas, a pedido da viúva, Zélia de Andrade Lima. Um dos netos do casal, João Suassuna, recitou "Acahuan", que Ariano escreveu em homenagem a seu pai, e "A mulher e o reino", feito para a esposa. Todos os parentes acompanharam a leitura muito emocionados, e Zélia foi amparada por eles.
Durante a cerimônia, que durou aproximadamente uma hora, muitos fãs e amigos também prestaram suas últimas homenagens ao escritor. A neta Germana Suassuna, psicóloga, fez questão de destacar a importância da população no momento de despedida de seu avô. "Dentro da corda [que separava os familiares e amigos dos admiradores], está o Brasil oficial. Mas meu avô gostava mesmo era do Brasil real, que está fora da corda", disse, seguida de muitos aplausos.
O caixão chegou ao cemitério pouco antes das 17h, após ter desfilado em carro aberto, em um veículo do Corpo de Bombeiros, fazendo o percurso desde o Palácio do Campo das Princesas, local do velório. Ainda no palácio, no centro do Recife, os netos de Ariano carregaram o caixão até o carro, ao mesmo tempo em que os presentes aplaudiam e cantavam -- o frevo "Madeira que cupim não rói" e o grito de guerra do Sport, time do coração do autor. Um dos filhos de Ariano, o artista plástico Dantas Suassuna, acompanhou o caixão do pai durante o trajeto. A cerimônia de sepultamento contou ainda com salva de tiros, a execução instrumental da Ave Maria e da Oração de São Francisco e uma chuva de pétalas.
No percurso de 40 minutos até o cemitério, muitas pessoas foram às ruas do Recife e Olinda para acompanhar a passagem do corpo de Ariano Suassuna. A população aplaudia quando o carro do Corpo de Bombeiros passava e entoava o nome do escritor paraibano. No Cemitério Morada da Paz, familiares e amigos também seguiram de perto o caixão de Suassuna até o local onde foi enterrado.
Desde a noite de quarta-feira (23), até a tarde desta quinta, foi grande o número de familiares, amigos e fãs que passaram pelo Palácio das Princesas, durante o velório. O caixão esteve o tempo todo coberto por bandeiras do Sport, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), de Pernambuco e do Brasil.
A presidente da República, Dilma Rousseff, passou cerca de 40 minutos no local, onde conversou com familiares do escritor e com políticos, como o governador de Pernambuco, João Lyra Neto, e o candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos. Dilma deixou o local sem fazer declaração pública. Também estiveram presentes o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo; os governadores Ricardo Coutinho (Paraíba) e Jaques Wagner (Bahia); o senador Humberto Costa e o prefeito do Recife, Geraldo Julio.
A missa de corpo presente foi celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, e acompanhada com muita emoção por parentes, amigos e admiradores de Ariano Suassuna, no final da manhã . A celebração durou cerca de uma hora e Saburido destacou que Ariano, reconhecidamente espirituoso e assumido devoto de Nossa Senhora, era conhecido por ser um homem de fé. Uma mensagem preparada pela Arquidiocese especialmente para a ocasião foi lida. Em forma de poesia, um trecho dizia: "A morte nunca é sina. É vida com outro nome". O texto impresso foi entregue pelo arcebispo nas mãos da viúva, Zélia.
Filha de Ariano Suassuna e atual secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna se emocionou ao falar do pai, ressaltando o grande homem que ele foi não somente nas artes, mas também em casa. De acordo com ela, a felicidade com que o escritor passou os últimos dias amenizou, de certa forma, o sofrimento dos parentes. "Na última semana, ele fez duas aulas-espetáculo, uma no Teatro Castro Alves, em Salvador, e outra em Garanhuns. E a satisfação dele, quando chegou em casa, contando com alegria a festa que foram essas duas aulas. Então, a Caetana [como Ariano chamava a morte] chegou, mas ele está aqui presente com a gente", contou.
Para a filha mais velha de Ariano, Maria das Neves, o carinho demonstrado pelas pessoas ao pai é o maior legado que ele deixa. "O maior legado que fica é o carinho que as pessoas têm por ele, não é nem tanto a obra. Esse carinho está vindo de todo o Brasil, estamos recebendo muitas mensagens", afirmou, agradecendo especialmente ao apoio que as pessoas têm dado à mãe, Zélia.
Durante o velório, um admirador de Ariano cantou o frevo "Madeira que cupim não rói", um dos preferidos do escritor, e chegou a arrancar aplausos dos familiares que estavam presentes. Enrolado em uma bandeira de Pernambuco e falando em voz alta, Jackson Nascimento lembrou a grande presença do Sertão nas obras do mestre, destacando que o povo da região sente muito orgulho de ser representado por um autor como ele. "O mestre não morre, ele permanece", resumiu.
O cineasta e diretor de televisão carioca Luiz Fernando Carvalho foi se despedir do escritor, de quem adaptou três obras para a televisão. "Você perguntava sobre a diferença entre jagunço e capanga e vinha uma aula sobre geografia, sobre música sertaneja, sobre geologia, sobre canto. [Ariano] É um tesouro, é um cometa raro", lamentou.
O também cineasta e diretor de televisão Guel Arraes definiu Ariano como um grande humanista. "Eu tive o privilégio de conhecê-lo. Em diversas ocasiões, desde pequeno, no trabalho, convivi com ele. Ele é um homem que viveu de acordo com as suas ideias, um homem simples, que conversava com o povo, viveu sempre perto de suas origens e, assim, se tornou universal."
Suassuna morreu na quarta (23), aos 87 anos. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico, na segunda (21).
Reprodução Cidade News Itaú via G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!