Principal líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chegou a expulsar – e a
ameaçar de morte - 175 membros da facção porque não gostou da comida que era servida a ele durante sua internação no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) no Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo.
Os excluídos eram detentos que trabalhavam na cozinha da Penitenciária 1 de Presidente Bernardes, onde é preparada a comida servida no CRP e na própria P-1, onde estão detidos 1,9 mil homens. O paladar de Marcola não aprovou a comida e revoltado com a situação decidiu punir os “cozinheiros”.
“Ele alegou ‘falta de responsabilidade’ para puni-los, por fazerem uma comida que na opinião dele era mal feita, e também por não reclamarem da falta de temperos e ingredientes para melhorar o sabor das refeições”, contou uma autoridade do sistema penitenciário do Oeste Paulista, que acompanhou o desenrolar do caso.
Segundo a mesma autoridade, Marcola chegou a dar um ultimato para os detentos da cozinha. “Ele deu prazo de 30 dias para que a comida fosse melhorada e, se isso não ocorresse, os excluídos seriam punidos com a pena de morte”, contou a autoridade. Em muitos casos, as regras do PCC incluem a pena capital para integrantes que são expulsos da facção.
Agentes penitenciários ouvidos pela reportagem neste fim de semana disseram que a situação ficou tensa. “Essa situação causou uma grande comoção dentro do presídio, com muitos presos com medo de serem mortos porque não conseguiam fazer uma comida que agradasse seu principal chefe”, contou um deles. “Eles (detentos excluídos) chegaram a conversar com a direção do presídio pedindo para que liberassem a entrada de temperos e ingredientes na tentativa de melhorar o sabor dos alimentos”, contou o agente. Segundo ele, até mesmo parentes dos presos tentaram ajudar. “Houve até visita que foi pega levando tempero Sazon dentro do corpo”, contou.
No final, a direção do presídio concordou em liberar a entrada de temperos para fazer a comida, e uma decisão da Justiça ajudou a amenizar a situação. Marcola, quer tinha sido recolhido em 11 de março para ficar 60 dias isolado no RDD, conseguiu um habeas corpus do Tribunal de Justiça, em 10 de abril. “Ele saiu antes de completar um mês de internação e isso ajudou na solução do problema”, contou uma autoridade do Judiciário que também acompanhou o caso. O habeas corpus foi concedido em 9 de abril pelo desembargador Péricles Piza, relator do processo, que pedia a internação de Marcola, na 1ª Câmara de Direito Criminal, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
De volta à Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde cumpre pena com outros líderes do PCC e passa a semana se alimentando, principalmente, de comida levada por parentes nos finais de semana, Marcola foi convencido pelos colegas a cancelar a exclusão dos detentos cozinheiros da P-1 de Bernardes. No entanto, a direção da unidade tem dificuldades até hoje para achar detentos interessados em trabalhar na cozinha. “Eles têm medo de um dia o Marcola volte e resolva novamente puni-los só porque não gostou da comida”, explicou um agente penitenciário da P-1 de Presidente Bernardes.
A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) diz que não fornece informações administrativas sobre a rotina das unidades prisionais por questões de segurança, mas que a situação descrita é “descabida” e tratada como “boato”.
Reprodução Cidade News Itaú via Terra
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