Dois dias após a Secretaria Estadual de Saúde anunciar que conta com equipe médica bilíngue para atender estrangeiros nas UPAs (Unidades
de Pronto Atendimento) de Copacabana e Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, e da Tijuca, na zona norte, a inglesa Katherine Edwards, 29, teve dificuldades no atendimento da unidade de Copacabana na última quinta-feira (5) e chegou a usar mímica para se comunicar.
A advogada veio de Manchester, na Inglaterra, para passar alguns dias na casa de amigos no Rio. Após passar por várias cidades no Brasil e na América do Norte e do Sul, contraiu uma gripe. Os sintomas eram dor de garganta, muita tosse e dor de cabeça contínua. Depois de três dias sem melhorar, a advogada procurou atendimento médico na UPA do bairro em que está hospedada.
Na segunda-feira (2), a Secretaria de Saúde havia divulgado um comunicado à imprensa informando que médicos e enfermeiros das UPAs de Botafogo, Tijuca e Copacabana estão colocando em prática as habilidades na língua inglesa, espanhola e italiana durante os atendimentos aos estrangeiros.
A medida seria para atender os 413 mil turistas estrangeiros que devem passar no Rio de Janeiro durante o período da Copa do Mundo. "Na UPA Copacabana, um dos bairros mais turísticos do Rio de Janeiro, os profissionais já estão acostumados a ter que lidar com outros idiomas. Mais de 95% da equipe médica fala pelo menos o inglês, cerca de 70 médicos", dizia o texto.
No entanto, a reportagem do UOL acompanhou o atendimento da turista inglesa e verificou que a equipe não estava preparada para essa demanda. Logo na recepção, Katherine precisou da ajuda de uma enfermeira que tinha em um papel uma espécie de guia de doenças com tradução inglês-português para ajudar na identificação do problema de saúde e facilitar a compreensão de ambas.
A profissional pediu para que a turista falasse pausadamente os sintomas e apontava para partes do corpo, como cabeça e pescoço, para perguntar se o problema era ali. Com a resposta positiva de Katherine, a enfermeira mostrava o papel e apontava para as palavras ali escritas e confirmar o que havia sido "dito" nas mímicas anteriores. A recepcionista também precisou da ajuda de um aplicativo de tradução no celular para explicar à paciente o que era necessário ao preencher a ficha. Algumas vezes, ela chegava a usar palavras em português --como alergia e médico-- com sotaque similar ao do inglês para se fazer entender.
Na sala da triagem, a mesma enfermeira que ajudou na recepção mediu os sinais vitais, utilizou novamente o papel com as doenças e sintomas nas duas línguas e encaminhou Katherine para o atendimento médico.
A médica designada para atender a inglesa também teve problemas de comunicação e pediu ajuda para se comunicar com a paciente. Algumas palavras em inglês chegaram a ser ditas, como "cold" (frio) e "fever (febre), para saber se eram sintomas de gripe. Em vários momentos Katherine explicava em inglês e a médica pedia ajuda à reportagem para a tradução do que estava sendo dito.
A prescrição da receita com os medicamentos foi entregue em português. A turista disse ter ficado impressionada com o despreparo da equipe para atendê-la em inglês. "Eles [equipe médica] fizeram o melhor que podiam, a enfermeira na hora da triagem tinha uma lista básica de seis palavras em inglês-português, teve paciência em me entender, mas talvez se fosse algo mais sério teria sido difícil de explicar e ninguém entenderia", afirmou Katherine.
Segundo ela, ir à UPA foi uma escolha pela proximidade de onde estava hospedada e por acreditar que o Brasil, às vésperas da Copa, estaria melhor preparado em receber pessoas que falam inglês.
"Eu esperava que pelo menos uma pessoa falasse inglês e me acompanhasse no processo. Não é suficiente ter apenas uma lista com sintomas básicos e fazer mímicas para ser compreendida. Muitos turistas acabam vindo sozinhos ou não têm quem possa acompanhar para traduzir para o médico os sintomas", disse.
No dia seguinte ao atendimento, o UOL solicitou uma entrevista com o secretário de Saúde, Esner Musafir. Em resposta, por meio de nota, a secretaria informou apenas que havia quatro médicos fluentes na língua inglesa no plantão, porém todos estavam em outros atendimentos.
Reprodução Cidade news Itaú via Uol
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