A afirmação, ou melhor, o conselho que titula a reportagem, foi do soldado PM Jailson Augusto do Nascimento a um casal que teve residência arrombada por quatro
adolescentes, no bairro Vida Nova. Talvez, por ironia do destino, esse mesmo policial foi assassinado a tiros, após assalto ocorrido no dia 26 de março passado, na avenida Paulo Afonso, no bairro Jockey Clube.
Roubos e furtos ocorrem diariamente, a qualquer hora do dia, em comércios e residências. Na avenida Bela Parnamirim, moradores aparecem, discretamente, atrás das grades de suas casas. Poucos querem dar entrevista. O medo de represália, por parte dos marginais, é compreensível; Afinal, quase todos já foram vítimas de assaltantes. É preciso estar atento, rezar muito para não ser vítima da bandidagem na saída da padaria, supermercado ou igreja. “E nem adianta chorar ou ligar para o 190. Eles (policiais) só veem quando é caso de morte. Vocês (reportagem) vão passar duas horas entrevistando o povo pela cidade e não irão ver nenhuma viatura de polícia, a não ser que seja no Centro, onde está o batalhão deles (3ºBPM)”, apostou o servente de pedreiro, Sebastião Cosme da Silva.
De fato, polícia é algo que chama atenção quando passa nas ruas. Hoje, o que faz os moradores lembrarem a tão sonhada Segurança Pública, já desbota na fachada de um imóvel estrategicamente posicionado entre as avenidas Paulo Afonso e Bela Parnamirim. Ali, acredite, já funcionou um Posto Policial. Mais isso, parece não ser tão inibidor, pelo menos para os bandidos. No dia 21 de abril, um grupo arrombou o cofre da agência do Banco do Brasil, situado ao lado do 3º Batalhão da Polícia Militar.
Se durante o dia, a violência em Parnamirim está explícita até nos muros das residências, onde ameaças de morte são veladas entre gangues rivais, imagine à noite – As ruas ficam desertas. Moradores têm em passar os cadeados nos portões. Luzes são apagadas e o que se ouve pela madrugada são latidos; quando não, tiros. Alguns resolvem contratar vigias de rua em motocicletas, que passam a cada hora em frente às casas, anunciando a ‘segurança’ através de buzinas. Tudo é válido quando o assunto é proteger o patrimônio e a vida.
“Realmente a iluminação de Parnamirim facilita a ação dos bandidos. Eles assaltam e têm facilidade de se esconder depois do ato. Mas não é só a iluminação. Algumas ruas e bairros têm acessos complicados, que a polícia tem dificuldade para chegar. A cidade também tem muita área de matagal que os bandidos também usam para fuga. Já passamos esses problemas para os governantes”, destacou o tenente coronel Jair Júnior, comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM).
Além dos problemas estruturais do município, o efetivo do 3º BPM, que além de Parnamirim também atende as cidades de Monte Alegre, São José e Nísia Floresta, não é o ideal para conseguir atender todas as demandas da região. “Hoje o nosso Batalhão tem um efetivo de 350 policiais e entre 17 e 18 viaturas para atender toda essa região. Nos últimos anos a população da Grande Natal cresceu muito e o efetivo policial não acompanhou esse crescimento, o que acaba sobrecarregando o nosso efetivo atual. Somente em Parnamirim temos mais de 200 mil habitantes. Tentamos fazer o possível para evitar os crimes, mas muitas vezes fica complicado. Esse efetivo deveria ser, pelo menos, o dobro”, afirmou Jair Júnior.
Ainda segundo o comandante do 3º BPM, a maioria dos homicídios tem acontecido com pessoas que já tiveram ou ainda têm envolvimento com alguma atividade criminosa. “A obrigação da polícia é preservar a vida, independentemente se essa pessoal está no mundo do crime ou não. Mas o que percebemos é que realmente aumentou muito o chamado “acerto de contas”. Não só crimes com relação com as drogas, mas outros também. Por exemplo, uma época dessas executaram um homem aqui em Parnamirim. A vítima era suspeita de ter matado o próprio pai. Criminosos estão matando criminoso. Mas, como eu disse, o trabalho da polícia é preservar a vida”.
O tenente coronel lembrou também que um trabalho com a população tem sido feito para tentar diminuir esses índices. “Nós temos um contato constante com a comunidade. Temos o programa da Polícia Comunitária, que sempre está indo aos bairros. A população também pode ajudar denunciando qualquer tipo de situação. Infelizmente a polícia não pode estar em todos os lugares, por isso o apoio da população é muito importante”.
Menores infratores
Atualmente é cada vez mais comum observar adolescentes envolvidos em ações criminosas, seja homicídios ou até simples furtos. Também tem sido normal menores de idade assumirem crimes que não cometeram apenas para livrar outros bandidos da cadeia. “Se for observar, quase todos os crimes têm algum menor envolvido. Ele assume a autoria de latrocínio, assalto, qualquer crime mais grave, pois sabe que a impunidade é muito grande, que nada vai acontecer com ele. Então isso também atrapalha o trabalho da polícia”, argumentou Jair.
Por tantas ocorrências com envolvimento de menores, o comandante do 3º BPM se diz favorável à diminuição da maioridade penal, mas fez algumas ressalvas. “Pela experiência que temos em campo, sou favorável sim à diminuição da maioridade penal, pois isso iria diminuir o número de jovens em ações criminosas. Mas isso iria trazer outro problema. Aqui no RN não temos onde colocar o número de presos atuais, imagine se a maioridade penal for diminuída. Então é preciso melhorar a qualidade dos nossos presídios”, afirmou Jair, que também lembrou da necessidade de tirar os jovens do mundo do crime.
“A diminuição da maioridade penal não irá resolver o problema da criminalidade, apenas vai ajudar. É preciso fazer um trabalho desde cedo para tirar esses jovens do mundo do crime. Hoje vivemos uma falência familiar. Na maioria das vezes em que apreendemos menores, eles são de uma família com pouca estrutura, que sequer ligam para o que os filhos fazem. Somente a diminuição da maioridade penal não iria resolver o problema”, finalizou.
Segundo dados levantados pelo ativista de direitos humanos e sociais, Ivênio Hermes, do início do ano para cá, Parnamirim já registra 52 mortes violentas, onde 46 foram por arma de fogo. Desse total, 14 vítimas são menores de 21 anos.
Reprodução Cidade News Itaú via Portal JH
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