Reportagem do Fantástico deste domingo (25) mostra a dificuldade enfrentada pelos brasileiros na rede pública de saúde, onde pacientes, mesmo com decisões judiciais em
mãos, não conseguem realizar cirurgias e exames. A falta de estrutura e desorganização em hospitais foram apontados em relatório pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
De acordo com o levantamento, em 81% dos hospitais visitados pelo TCU, os administradores reconheceram que há menos profissionais do que seria necessário para atender todos os pacientes que procuram atendimento.
Segundo o órgão, na maioria dos estados, há menos leitos do que seria necessário. Entre janeiro de 2011 e agosto do ano passado, a rede pública de saúde perdeu 11.576 leitos, equivalente a 12 leitos fechados por dia ou 1 a cada duas horas. Os técnicos do TCU ainda encontraram 2.389 leitos interditados por falta de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio.
Procurado pelo Fantástico, o Ministério da Saúde diz que está contratando mais profissionais e aumentando ano a ano o valor gasto em saúde para enfrentar esses problemas. “O Ministério da Saúde tem feito investimentos importantes no reequipamento desses hospitais, são mais de R$ 600 milhões, nos últimos 3 anos. Tem feito também intervenção em obram ampliação, reforma e construção de hospitais”, afirma Fausto Pereira dos Santos, secretário de Atenção à Saúde.
Ordem judicial não é suficiente
Exemplo dessa falta de estrutura pode ser encontrado em Cuiabá, onde Dona Alaíde, de 62 anos, sofreu com dois aneurismas desde 12 de abril. No relatório, o médico alertava para o risco de morte e repetia o mesmo aviso duas semanas depois. A solução seria uma cirurgia.
“O médico falou que ela corre risco de morte porque ela não está mais na UTI, a qualquer momento pode romper outros vasos, então ela corre risco de morte também”, desabafa a filha de Dona Alaíde.
Mesmo com uma liminar na justiça obrigando o hospital a realizar o tratamento isso não ocorreu na prática. “Ela ia precisar fazer a embolização. E a gente correu atrás com a liminar, a central de vagas falou que estava autorizada a fazer a embolização, mas aqui no hospital geral diz que não está fazendo por causa...o estado não está pagando”, continua a filha de Dona Alaíde.
Na quarta-feira passada, Dona Alaíde morreu após o rompimento de aneurisma. Em nota, a Secretaria de Saúde de Cuiabá diz que a paciente fez o exame de angiografia exigido pela justiça. Quanto à operação, exigida pela justiça, a secretaria diz que ela já estava agendada, mas que, antes disso, infelizmente, Dona Alaíde faleceu.
Estruturas não são adequadas
Em 85% dos hospitais visitados pelo TCU, os administradores disseram que a estrutura física das unidades não era adequada. E em 77% dos hospitais falta algum tipo de equipamento. Em 23%, eles estão encaixotados no corredor, como no hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana, na Bahia. O tomógrafo usado para examinar o cérebro não funciona.
Esta é uma situação comum em vários outros pontos do Brasil. Muitos pacientes só conseguem tratamentos por força de liminares. Mesmo com uma decisão judicial em mão, Perpétua Socorro não conseguiu uma cirurgia para a mãe, Aparecida de Fátima, que está com uma veia entupida na perna.
“Ela pode perder a perna. Tem vezes que ela toma até 3 morfinas por noite e o médico falou que é perigoso tomar muita morfina e o coração não aguentar”, diz Perpétua Socorro, que possui liminar do dia 22 de abril exigindo a execução da cirurgia.
“Está até aqui, tá citando que o estado tá pagando 20 mil reais de multa ao dia e não foi cumprido, a liminar, e a minha mãe está nessa situação”, acrescenta Perpétua.
De acordo com o estudo do TCU, na maioria dos hospitais, as emergências estão sempre superlotadas, a qualquer hora do dia ou da noite.
“Lá dentro tá cheio, tá horrível, tem gente de 6h da manhã lá dentro. Minha tia tem deficiência, nem ela que tem prioridade está sendo atendida. Passou pela triagem e nada até agora, de chamarem ela, nem nada”, afirma a estudante Ruth Barbosa.
Medicamentos
Outro ponto crítico é a falta de remédios na rede pública brasileira. Em quase 80% dos hospitais, atendimentos já foram cancelados por falta de medicamentos ou materiais básicos como seringas e esparadrapo. A maioria absoluta dos administradores aponta falhas no processo de compra como o motivo mais comum.
Segundo o TCU, Governo Federal, estados e municípios também pagam cara demais pelos medicamentos: entre os 50 remédios mais adquiridos no país, 43 são comprados pelos governos por preços bem acima da média internacional. O Ministério Público confirma essa distorção.
Reprodução Cidade News via G1
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