Na certidão de nascimento de Alexandre Soares dos Santos consta 06/05/77. Mas Alexandre, que tem 37 anos, prefere dizer que nasceu de novo naquela manhã de domingo, 18 de maio, às 7h05. “Nasci duas vezes em maio, só
pode ser uma benção de Deus”.
Sua nova “certidão de nascimento” está na mão: a passagem de Boa Viagem-Fortaleza, no ônibus Princesa do Inhamuns, que saiu às 7h em ponto da rodoviária, mas que ele perdeu por cinco minutos. Se por cinco minutos ele escapou de uma desastre, o número cinco também é o mesmo que marcava a sua poltrona nessa viagem não realizada. Poderia ter sido uma passagem só de ida, já que o ônibus capotou no km 303 da BR-020 e matou 18 dos seus 46 passageiros, motorista e cobrador.
Alexandre trabalha numa empresa têxtil em Fortaleza, porém seu filho reside em Boa Viagem, e o trajeto Fortaleza/Boa Viagem é feito mensalmente por ele há quatro anos e oito meses. “Sempre me hospedei no hotel que fica em frente à rodoviária, para não ter perigo de me atrasar, mas essa foi a primeira vez. Meu despertador estava marcado para as 6h e o da minha namorada às 6h15. E nenhum dos dois tocou naquela manhã. Quando acordei sai correndo para a rodoviária, mas perdi o ônibus” explicou aliviado.
Se quisesse remarcar o bilhete, Alexandre sairia apenas às 13h45. Preferiu, então, comprar outra passagem, de um ônibus que vinha de Tauá e passaria na rodoviária de Boa Viagem às 8h45. Mas a pior e a melhor sensação vieram em seguida. “Eu estava na poltrona 32, e na minha frente escutei uma moça falando ao celular sobre um acidente, mas não consegui entender direito. Quando paramos em Madalena para o lanche, a moça me disse que um amigo dela que trabalha no Samu tinha ligado para saber se estava tudo bem com ela. Um ônibus tinha acabado de capotar na BR”.
Alexandre disse que até ali não tinha conseguido ligar os pontos, mas quando passou pelo local do acidente e viu no ônibus virado “Boa Viagem-Fortaleza 7h” ficou em estado de choque. “O motorista parou o carro e ficou emocionado ao ver que era um carro da mesma empresa. Quando informei a ele que estaria na poltrona 5, mas perdi o ônibus, ele me abraçou bem forte e disse: ‘graças a Deus, você nasceu de novo’”.
“Livramento de Deus”
Dona Maria, mãe de Alexandre, é uma pessoa de muita fé e diz que quando soube do acidente ficou muito triste. Não conseguiu nem ligar a TV para ver a notícia do acontecido. “Foi Deus e minhas orações que salvaram meu filho. Ave Maria, rezo muito por ele, todo dia faço muitas orações em cima dele, Jesus Maria José”.
“Faço essa viagem há quatro anos e oito meses, e em todas as viagens que fiz nunca usei o cinto de segurança. A empresa nunca exigiu, cobrador nem motorista”, revela Alexandre, que chegou em casa por volta das 13 horas de domingo, e a primeira coisa que fez foi dar um abraço bem forte na sua mãe, que agradeceu aos céus esse “livramento de Deus”.
Reprodução Cidade News Itaú via Tribuna do Ceará
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