Uma fazenda de Porto Feliz (SP), que antes produzia café, hoje investe na reprodução de jacarés do papo amarelo, uma das seis espécies encontradas no Brasil. Os
animais são destinados para a produção de carne e de pele. O local, que no início da atividade tinha apenas 100 répteis, abriga 2,4 mil animais em 52 recintos atualmente.
Na fazenda do interior paulista, o veterinário Luís Bassetti, especialista no assunto, acompanha o investimento nesse tipo de criação em diferentes partes do país. De acordo com o Ibama, existem 15 criatórios legalizados no Brasil, sendo sete no Estado de São Paulo. A criação dos animais exige autorização do Ibama, muita atenção de tratadores e cuidado redobrado com a segurança.
Apesar de vários animais serem colocados juntos, alguns com até nove quilos, o veterinário garante que o local é seguro. Ainda segundo o Luís, alguns animais atingem 30 anos de idade. Os mais velhos do criatório foram doados pela Universidade de São Paulo (USP) e não atacam com facilidade.
“Eles podem atacar, mas esses jacarés mais velhos já estão acostumados com a nossa presença. Ao entrar nas baias desses animais, é possível perceber que eles são tranquilos e que apenas protegem os ovos do ninho de predadores. Eles já foram coletados, mas as fêmeas permanecem lá”, diz o veterinário. Duas fêmeas e um macho de jacaré do papo amarelo foram colocados em baias separadas já que são reprodutores e podem botar até 30 ovos.
Nascimento
Em uma sala toda climatizada, a fazenda se destaca pelo sucesso da reprodução dos jacarés. Conforme o veterinário responsável pelo criadouro, o nascimento só é bem sucedido se a temperatura e a umidade estiverem adequadas.
Segundo Luís, outro ponto importante é escolher se o filhote será um macho um ou uma fêmea. Os ovos ficam em ninhos individuais, uma medida para controlar a procedência. No fundo da caixa onde ficam os filhotes é colocada uma camada de vermiculita, pedrinhas que ajudam a manter a umidade e a segurar o ovo. Já o capim é usado como cobertura para garantir umidade e calor.
“O sexo dos filhotes de jacaré é definido pela temperatura ambiente e de encubação. Temos um procedimento que varia entre 28 e 30 graus para que nasçam fêmeas, 30 a 32 graus para machos e de 32 a 34 para que nasçam novamente para fêmeas. Temperaturas fora desse padrão podem causar morte embrionária”, pontua o veterinário.
A fêmea de jacaré bota os ovos uma vez por ano e eles ficam na sala de incubação por um período de aproximadamente 80 dias. “Os ovos começam a eclodir de meia em meia hora e no período de 30 dias nascem cerca de 1,2 mil filhotes no criadouro”, diz Luís, que explica que a mortalidade é considerada baixa pelo fato de ser um animal rústico e resistente a infecções.
Além disso, o veterinário ressalta que com temperatura adequada, em torno de 32ºC, os filhotes se desenvolvem melhor. “No inverno nós fechamos totalmente as estufas para manter o calor e também cessamos a alimentação porque os jacarés diminuem muito seu metabolismo. Se os jacarés comerem neste período podem morrer por um apodrecimento do alimento no estomago”, afirma Luís.
São cerca de dois meses e meio sem comida no período mais frio do ano. E quando há alimentação, o cardápio é preenchido com pescoço e cabeça de frango moídos e misturados com óleo de peixe. Esses répteis passam 70% do tempo dentro da água e conseguem ficar submersos por até 45 minutos.
Outra preocupação no criatório é manipular os animais o mínimo possível, o que evita o estresse. O trabalho requer pessoal qualificado, com muito treinamento, afinal, um pequeno descuido pode significar acidente grave. “Tive muito medo no começo, mas depois vamos adquirindo cofiança conforme trabalhamos com os jacarés. O treinamento todo durou seis meses”, conta o tratador Sérgio Januário.
Segundo o veterinário, o mercado de jacaré está com muita procura e pouca oferta. E é com este cenário que os criadores apostam no sucesso do investimento. Este ano devem sair 1 mil animais para abate, mas a meta é chegar a uma média de 3 mil. “O Brasil está crescendo o consumo dos jacarés e acreditamos que todo o que produzimos de carne e pele serão consumidos pelo mercado nacional. Nada é importado, neste momento”, diz Luís.
Outras informações sobre o agronegócio, você encontra no site do programa Nosso Campo.
Reprodução Cidade News Itaú via G1
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