A Justiça do Rio determinou nesta terça-feira (11) o arquivamento o inquérito ontra o ator e vendedor Vinícius Romão de Souza, que ficou preso por 16 dias, após ter sido
reconhecido indevidamente por uma vítima como o homem que a teria assaltado. A decisão é do juízo da 33ª Vara Criminal, que acolheu parecer do Ministério Público que apontou carência de justa causa para a deflagração de ação penal.
"A vítima retratou-se quanto ao reconhecimento procedido, aduzindo que teve dúvidas acerca da autoria do delito e admitindo a possibilidade de ter se equivocado. Sendo assim, cotejando o novo elemento de convicção com o quadro delineado no procedimento investigativo, resta patente a ausência de justa causa para o exercício da ação penal", destaca a decisão.
Vinícius Romão contou ao G1 nesta segunda (10) que está decidido a processar o delegado responsável pela sua prisão, o policial que efetuou a detenção e o Estado. Ele esteve na sede da Corregedoria da Polícia, no Centro do Rio, para prestar depoimento. Romão declarou ainda que seu tênis, celulares, fone de ouvido e braçadeira, recolhidos no ato da prisão, não haviam sido devolvidos pela polícia até as 16h.
“O depoimento hoje foi tranquilo. Depois de um mês, hoje faz um mês que eu fui preso injustamente, e foi a primeira vez que eu pude dar um depoimento frente a uma pessoa. Porque meu primeiro depoimento foi na cela. Eles [o delegado e o policial] ainda vão dar o depoimento deles. Estou confiante que a justiça será feita. E eu vou processar o Estado, o delegado e o policial. Estou esperando esse processo terminar. Mas você pode ter certeza que vou entrar com um processo sim. Só não vou processar a dona Dalva porque tal peso dela ter de dormir, sabendo que colocou um inocente na cadeia. Eu que sou inocente, durmo de duas a três horas por dia, imagina ela?”, declarou.
Romão ficou detido por 16 dias na Cadeia Pública Juíza Patrícia Acioli, em São Gonçalo, Região Metropolitana. Ele contou que após a prisão, evita sair sozinho e está fazendo tratamento psicológico para lidar com o trauma.
“Estou mais tranquilo porque recebi o apoio popular, mas ainda tenho algumas sequelas. Evito sair sozinho, na sexta tive minha primeira sessão de terapia. Essa semana vai ser muito decisiva porque recebi um convite dos Direitos Humanos para ir à Alerj [Assembleia Legislativa do Rio] para contar minha história. Vou falar de frente para o sistema. E no dia 12 é minha formatura na faculdade, em psicologia. É um misto de sensações de alegria e preocupação”, completou.
O jovem disse ainda que os presos que dividiam a cela com ele acreditavam na sua inocência. “Eles me acolheram, conversaram comigo. Aprendi muito sobre organização. Porque a água caía quatro vezes ao dia, por dez minutos, então, a gente tinha que ter um planejamento para facilitar nosso convívio. Não podia ficar doente, passar pros outros era complicado. Agora, eu tenho dormido de duas a três horas por dia. Meus amigos estão sempre aqui em casa. Acho que é mais aflição, o psicológico. Os traumas não vão se apagar, mas podem ser sanados”, desabafou.
“Os danos que isso tudo causou a mim e à minha família, dinheiro nenhum vai pagar porque são marcas que não vão ser apagadas. Fomos expostos, fiquei no meio da polícia e de bandido. Corri risco de morte nos dois. Aqui a polícia agiu de forma errônea e lá fiquei no meio de bandidos. A sorte é que me acolheram na minha cela. Eles sentiram que eu era inocente. Eu fiquei nesse fogo cruzado. Rasparam meu cabelo, tiraram minha identidade”, afirmou o ator que acrescentou ainda que terá que ir ao fórum no dia 25.
Bens desaparecidos
Ainda de acordo com o ator, os bens desaparecidos no ato da prisão somam cerca de R$ 1 mil em prejuízo. “Só o tênis foi R$ 470. Além disso, tinha uma braçadeira e um fone [de ouvido] que eu uso pra malhar. E tinha ainda um rádio e um celular. Mais ou menos R$ 900 a R$ 1 mil. Esse negócio dos pertences [sumiço], foi meu pai quem foi lá e meu advogado. Meu advogado ligou pra lá e não encontraram nada e falaram que iam procurar. Mas na sexta (7) meu pai foi pessoalmente na delegacia e nada foi encontrado. Ele deu um prazo de uma semana”, afirmou.
Prisão investigada
A Corregedoria da Polícia Civil investiga se houve irregularidades na prisão do ator. As condutas do policial Waldemiro Nunes de Frietas Junior, que trabalha na 11ª DP (Rocinha), e do delegado que estava de plantão no dia, Willian Lourenço Bezerra, estão sendo analisadas.
"Sei que a Corregedoria está investindo o delegado e o agente que efetuou a prisão dele. Pra esclarecer como ele foi preso e qual o motivo. Ele esteve hoje com o pai na corregedoria no Centro do Rio", declarou o advogado Rubens Nogueira Abreu.
Copeira volta atrás
A reviravolta no caso ocorreu com o depoimento da copeira Dalva Moreira da Costa, que o reconheceu por engano no dia do crime. Ela disse que pensou em ir à polícia no dia seguinte para retirar a queixa, mas não tinha dinheiro para a passagem. "Ela admite a hesitação no primeiro reconhecimento dele, o que é natural, porque foi uma ação violenta e ela pode ter se confundido", explicou o delegado Niandro Lima da 25 DP (Engenho Novo), um dia antes de o ator ser solto. O delegado disse também que não acredita em má-fé. "Ninguém dos dois teria interesse em prejudicar uma pessoa inocente."
Suspeito preso nega crime
Policiais da 26ª DP (Todos os Santos) prenderam em flagrante, na noite desta quinta-feira (6), Dione Mariano da Silva, de 24 anos, suspeito de ter roubado a mulher que admitiu ter se enganado ao apontar o ator Vinicius Romão como assaltante. Dione tem passagens por furto e estava com um revólver, apreendido. Ele foi autuado por porte ilegal de arma.
Na delegacia, Dione Mariano da Silva negou que seja o autor do crime, mas confessou que é viciado em cocaína e é usuário de maconha. Ele disse que é morador de rua e dorme na Rua Piauí, no bairro Todos os Santos, no Subúrbio. A família do suspeito mora em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. "É uma injustiça, estou sendo acusado de uma coisa que não fiz. A vítima não veio até agora me reconhecer", disse Dione.
O suspeito foi detido na noite de quinta-feira (7) durante uma operação conjunta da Polícia Civil de repressão ao roubo. Após receberem informações de que ele seria o verdadeiro autor do roubo à copeira Dalva Moreira da Costa, agentes da 26ª DP (Todos os Santos) foram até o suspeito, que estava em um lava-jato na esquina das ruas Piauí com Arquias Cordeiro.
Reprodução Cidade News Itaú
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