O dia 22 de março foi escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas) há 20 anos como uma data para conscientização e debates entre poder público e população
sobre os recursos hídricos. Essa proposta nunca fez tanto sentido para os moradores de São Paulo como neste sábado, Dia Mundial da Água. Durante todo o verão, o Estado viveu uma seca histórica, que preocupa autoridades e pode comprometer pelo resto do ano o abastecimento na Grande São Paulo — uma das cinco regiões metropolitanas mais povoadas do mundo, com cerca de 20 milhões de habitantes.
Especialistas ouvidos pelo R7 explicaram que, além do problema climático, o desperdício de água, seja por mau uso ou por vazamentos na rede, piorou a situação. Segundo um estudo de 2011 do Instituto Trata Brasil, 36% da água tratada não é aproveitada na capital paulista,
O nível do Sistema Cantareira, reservatório que abastece atualmente cerca de 8 milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a 14,5%, o mais baixo já registrado. O governo corre para finalizar obras que vão utilizar o chamado “volume morto” das represas, como forma de garantir que não haja racionamento durante o inverno, período que costuma ser de seca.
A professora da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Monica Porto, especialista em recursos hídricos, explica que, além das grandes obras, a população tem que consumir racionalmente.
— De uma maneira geral, é a questão da conservação da água. É todo mundo se acostumar a gastar menos água. Tem que incentivar cada vez mais as campanhas educacionais para redução de consumo.
O professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) Gilson Lameira atribui às más condições da rede de distribuição da Sabesp uma parcela de culpa pelo problema que a Grande São Paulo enfrenta hoje. Segundo ele, muitos encanamentos se rompem sem que seja possível identificar o vazamento.
— A maior parte da perda é aquela que está enterrada e ninguém vê. A Sabesp não identifica, a rede é muito grande. O sistema deveria ser modernizado. É algo a longo prazo, mas que poderia ter começado há 40 anos.
Lameira ainda acrescenta que a economia de água deve ser ensinada a todos, já que a localização geográfica da região metropolitana é desfavorável.
— A metrópole paulista está no lugar errado. Um aglomerado urbano nessa escala jamais poderia estar em um local que não tem água de manancial e nem água subterrânea suficientes. Nenhuma grande metrópole do mundo está em cabeceira de rio, está sempre no meio ou na foz.
A Sabesp faz obras para garantir o abastecimento, como a do Sistema Produtor São Lourenço, que vai retirar água de Cachoeira do França, em Ibiúna, e transportá-la por 83 km, até Cotia. Quando concluído, beneficiará cerca de 1,5 milhão de pessoas em seis cidades da região oeste da Grande São Paulo.
Rio Paraíba do Sul
Com a seca, o governo tirou da gaveta um projeto previsto para 2020: a interligação de duas represas, uma integrada ao Sistema Cantareira e outra no rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba. Se autorizadas pela ANA (Agência Nacional de Águas) e pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), as obras poderiam começar em até quatro meses e durariam 14 meses.
O objetivo é garantir água sempre que o nível do Cantareira ficar abaixo de 35%, o que não costuma acontecer. O anúncio não foi bem recebido no Rio de Janeiro, que também recebe água do rio Paraíba do Sul.
A professora Monica Porto conhece o projeto e nega que a interligação dos reservatórios terá reflexo negativo no Estado vizinho.
— Não interfere no abastecimento no Rio de Janeiro. A população não tem essa informação que o meio técnico tem. Do ponto de vista político, há uma necessidade defesa do seu território. Eu acho que é natural que tenha essa discussão. Agora, o próximo momento é a demonstração técnica de que a utilização dessa água é viável para São Paulo e que o impacto que ela vai causar para o Rio de Janeiro é zero.
Reprodução Cidade News Itaú
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