O Vaticano negou nesta sexta-feira (7) que exista um "confronto" com a Organização das Nações Unidas
(ONU), a qual questiona a Santa Sé por milhares de denúncias de pedofilia no mundo todo.
"Não é o caso de falar de um confronto entre ONU e Vaticano", disse o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi. "As Nações Unidas são uma realidade muito importante para a humanidade de hoje. Em suas mais altas instâncias, o apoio à Santa Sé e ao diálogo positivo são apreciados e desejados", ressaltou.
O porta-voz chamou o relatório da ONU de "anormal" e de "ir além de suas competências". Além disso, destacou que o relatório publicado na quarta-feira passada contém "sérias limitações", já que não levaram em conta as respostas escritas e orais que os representantes da Santa Sé deram sobre o tema.
Lombardi argumenta que isso faz pensar que o relatório estaria "praticamente pronto ou pelo menos fortemente direcionado" antes da audição que a Santa Sé realizou para o Comitê, com sede em Genebra, no dia 16 de janeiro.
Para Lombardi "é grave" que não se tenha compreendido "a natureza específica da Santa Sé", já que é "uma realidade diferente da do resto dos Estados".
"Não são capazes de entender ou não querem entender?", questiona em seu artigo, que acrescenta que em ambos os casos a postura "surpreende".
Para o porta-voz, "se deu maior atenção às ONGs, com preconceitos negativos à Igreja Católica e à Santa Sé, que à posição desta, signatário da Convenção e que sempre esteve disponível a um profundo diálogo com o Comitê".
Lombardi afirma que é "típico" dessas organizações "não reconhecer tudo o que a Santa Sé e a Igreja fizeram nos últimos anos, como reconhecer erros, renovar as normas e desenvolver novos padrões de formação e medidas preventivas".
"Nenhuma organização ou instituição fez isso, mas não é o que se entende lendo o documento em questão", acusa o porta-voz.
"O mais grave" para o jesuíta, também diretor da "Radio Vaticano", é que "as observações vão além de suas competências e interferem nas posições doutrinais e morais da Igreja Católica, fazendo juízos de valor sobre a contracepção, o aborto e a educação nas famílias e a visão da sexualidade humana".
Além disso, observa Lombardi, "o tom, o desenvolvimento e a publicidade dados ao Comitê e a seu documento são absolutamente anômalos com relação ao procedimento normal com outros países".
O representante do Vaticano critica a "atenção midiática, injustamente nociva", que recebeu a Santa Sé, embora reconheça que o Comitê também foi amplamente criticado.
Jornal critica ONU
Em sua edição desta quinta-feira (6), o jornal católico italiano Avvenire rebateu todas as críticas feitas pelas Nações Unidas. Com o título "Pedofilia, o boomerang da ONU", a matéria de primeira página chama de "desconcertantes" e "propagandísticas" as observações do Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças.
O texto, assinado pelo diretor do Avvenire, Marco Tarquinio, afirma que o relatório do comitê, divulgado ontem, demonstra "em diversos trechos" que o organismo "não levou em conta a exemplar ação contra a pedofilia implantada por Bento XVI e confirmada pelo papa Francisco de dar atenção preferencial às vítimas" e de ter "tolerância zero" com os autores dos abusos.
O jornal também disse que "o mais grave" é o fato do relatório, "que deveria ter como tema central os direitos das crianças, acusar a Igreja por não aprovar o aborto e defender o matrimônio apenas entre homens e mulheres".
"Alguém acha que passar a ideia de que a eliminação de um feto ou a sua manipulação em laboratório seja um 'direito' da própria criança?", questionou a publicação. "O texto [do relatório da ONU] parece marcado por uma agressiva intenção propagandística e que, por conta de sua hostilidade, acaba mortificando inclusive algumas interessantes reflexões propostas", comentou.
O comitê da ONU publicou seu relatório sobre o Vaticano no último dia 5, após a própria Santa Sé apresentar documentos para explicar o que tem feito para garantir os direitos das crianças. O Vaticano é signatário da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança desde abril de 1990, mas recebe uma série de denúncias de pedofilia em diversos países.
O relatório critica o Vaticano por não ter reconhecido nunca "a amplitude dos crimes" de abuso sexual contra crianças por parte de sacerdotes e o acusa de adotar "políticas e práticas que levaram à continuação dos abusos e à impunidade dos responsáveis".
O Comitê também afirma que o Vaticano não tomou "as medidas necessárias" para atender estes casos e proteger os menores, e pede-se que se entregue à Justiça os responsáveis por esses crimes.
Também reprova severamente ao Vaticano por suas atitudes em relação à homossexualidade, o planejamento familiar e o aborto, e pede que se revisem suas políticas para assegurar que se protejam os direitos das crianças e seu acesso à saúde. (Com Ansa e Efe)
Reprodução Cidade News Itaú
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