A namorada do tenente da Polícia Militar Iranildo Félix – suspeito de matar o professor e lutador de MMA Luiz de França Trindade no dia 10 deste mês na zona Sul de Natal –
será interrogada nesta terça-feira (18) pelo delegado Normando Feitosa, que investiga a morte da ex-mulher do oficial, a estudante de direito Izânia Maria Bezerra Alves, de 31 anos. Segundo o próprio delegado, Valéria Alexandre Cortês, a atual companheira do tenente, estava em uma granja a 500 metros de onde o tenente e a ex-mulher foram baleados. “Inclusive, ela foi uma das pessoas que ajudou a socorrer o tenente. Por isso ela será ouvida”, revelou.
Izânia foi morta com quatro tiros no início da tarde deste domingo (17) em uma estrada carroçável de Macaíba, na Grande Natal. Os suspeitos, até o momento, são dois homens não identificados que teriam mandado o tenente parar o carro e depois anunciaram o assalto. Na ocasião, houve uma troca de tiros, já que o tenente estava armado e reagiu. O tenente também foi atingido, mas os tiros acertaram o colete a prova de balas que ele usava. A ex-mulher levou um tiro no pescoço, um no rosto e dois na cabeça.
Ainda de acordo com o delegado, Valéria aguardava na granja pela chegada de Iranildo. “O tenente disse que ele a ex-mulher se davam bem. Eles se separaram há um ano e tinham um filho. Ele disse que estava levando a Izânia para conhecer o local para que depois ela pudesse levar a criança para ver o pai”, contou Normando. Ainda segundo o delegado, a granja estava sendo usada como esconderijo pelo tenente, que estaria tentando se proteger de possíveis atentados.
Valéria também deverá ser ouvida nesta terça pelo delegado Sílvio Fernando, que investiga diretamente o assassinato do lutador Luuiz de França. “Ela será ouvida porque esteve internada em um hospital vítima de fraturas. Ela disse que levou uma queda, porque sofre de desmaios. Mas, ela apresenta vários hematomas no corpo, que suspeitamos terem sido causados por agressões. Ela precisa nos esclarecer isso. E também há informações, ligações anônimas que recebemos, que dão conta de que ela e o lutador teriam tido um caso, o que teria provocado um crime passional. Isso também terá que falar sobre isso”, afirmou Sílvio.
Porte ilegal de arma
O delegado Normando Feitosa confirmou também que o tenente deve ser indiciado por porte ilegal de arma de fogo, já que ele encontra-se de licença médica e não poderia portar arma de fogo. O colete balístico que Iranildo usava, uma pistola calibre 380 e 44 munições foram apreendidos ainda na noite do domingo, logo após ele ser liberado do hospital. O material foi recolhido quando o oficial foi à Delegacia de Plantão da zona Sul de Natal prestar depoimento.
Ao G1, o comando da PM disponibilizou o Boletim Geral da corporação (datado de 9 de janeiro deste ano) que trata da licença médica do tenente Iranildo. Nela, é clara a determinação que proíbe o tenente de portar arma de fogo no período em que estiver de licença. Em razão da apreensão da arma do oficial, o coronel Francisco Araújo Silva, comandante geral da corporação, afirmou que a PM irá instaurar uma sindicância para apurar o ocorrido e que o tenente irá responder, administrativamente, por desobediência à norma da corporação.
Trecho do Boletim Geral da PM que trata da licença médica do tenente Iranildo Félix (Foto: Reprodução)
Atentado e morte
O atentado deste domingo aconteceu no início da tarde, numa estrada carroçável em Macaíba. O oficial foi socorrido com vida ao hospital São Lucas e depois levado para o Pronto-Socorro Clóvis Sarinho. Depois, apenas com hematomas na barriga, foi levado para prestar depoimento na delegacia. A ex-mulher dele, que estava no carro, morreu na hora. De acordo com o cabo Josemário, do 11º Batalhão da PM de Macaíba, os responsáveis pelo crime são dois homens, ainda não identificados, que fugiram em uma motocicleta.
O tenente e a ex-mulher, Izânia Maria Bezerra Alves, de 31 anos, estavam em um Fiat Uno cinza quando foram surpreendidos pelos suspeitos. Ao tomar conhecimento, do ocorrido, a advogada Juliana Melo anunciou que estava deixando a defesa de Iranildo. "Temo pela minha vida. Não vou mais ficar com o caso", revelou ao G1.
Segundo parentes da vítima, Izânia Maria Bezerra Alves era estudante de Direito e fazia estágio no Fórum de Macaíba.
Ao delegado Normando Feitosa, o tenente relatou que os criminosos teriam anunciado um assalto e mandado ele e a ex-mulher descerem do carro. "O tenente disse também que levou dois tiros na barriga, que atingiram o colete. Então ele caiu no chão atordoado. Daí o tenente disse que um dos criminosos começou a atirar na mulher. Foi quando ele pegou a arma e atirou contra os dois assaltantes, que fugiram”, relatou Normando.
"Contudo, o próprio tenente acredita que o que aconteceu não foi um assalto, tanto que não levaram nada. Ele afirma que foi mesmo alvo de um atentado", concluiu o delegado.
Segundo atentado
Na última quarta-feira (12) o PM já teria sofrido um atentado quando deixava o Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), no bairro da Ribeira, onde foi submetido a exame residuográfico para identificar a presença de chumbo nas mãos.
“Tentaram matar ele. Ele contou que foi seguido por dois homens numa moto, que emparelharam com o carro dele. Quando percebeu que o cara de trás colocou a mão na cintura, ele jogou o carro em cima da moto. A moto desviou e foi embora”, relata a advogada. Na ocasião, o tenente solicitou ao comandante geral da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo Silva uma arma e um colete à prova de balas para se defender.
Araújo informou que uma junta médica afastou Félix das atividades policiais há dez meses, em razão de problemas psicológicos. "O policial foi considerado temporariamente incapaz para o serviço ativo. Ele não pode portar arma de fogo no período em que está afastado", explica o comandante geral da PM. Mesmo afastado, o tenente responde diretamente ao Comando do Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE).
Superdosagem
O comandante geral da PM disse ao G1 que Félix foi socorrido a um hospital particular da cidade após ter ingerido uma alta dosagem de medicamentos. Segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que prestou o socorro, o oficial foi atendido na noite da quarta-feira (12). O Samu não revelou que tipo de medicamento o tenente consumiu, nem deu detalhes sobre o estado de saúde dele.
A morte do lutador
Luiz de França Trindade foi assassinado a tiros por volta das 9h do dia 10 deste mês na calçada da academia Alta Performance, que fica na rua Serra da Jurema, no conjunto Cidade Satélite, Zona sul de Natal. O lutador levou vários disparos de pistola e morreu no local.
O professor de artes marciais Ademir Júnior, conhecido como 'Júnior Sustagen', também foi baleado na perna, mas passa bem. Em entrevista exclusiva ao G1, o professor disse que teve sorte de não ter se ferido gravemente e pediu justiça.
Segundo testemunhas, o suspeito de efetuar os disparos fugiu numa moto acompanhado de outro homem. O tenente Iranildo Félix nega qualquer envolvimento no crime.
Perícia questionável
O resultado do exame residuográfico realizado por Félix na quarta-feira poderá ser questionado pela defesa do oficial. “É um resultado que é considerado discutível, já que ele é um policial militar que manuseia arma com frequência”, explicou a perita Lydice Guerra, subcoordenadora de Criminalística do Itep.
“A informação que nós temos é que ele está de licença médica, e que não poderia sair armado. Mas, em casa, ele tem total liberdade de mexer na arma na hora que bem entender”, acrescentou a perita. A arma do tenente, segundo o delegado que investiga o caso, não foi apreendida ou periciada. “A arma dele é uma pistola 380. O calibre das balas que mataram o lutador são de pistola calibre ponto 40”, ressaltou Sílvio Fernando, delegado titular da 11ª DP.
Investigação
Segundo o delegado, Félix foi visto com uma roupa parecida com a do motociclista que efetuou os disparos contra o lutador. "Conversei com um policial militar no dia do crime e foram dadas as mesmas características que ouvi da testemunha que presenciou o crime", afirmou.
Ainda de acordo com o delegado, o policial militar teria visto o tenente logo cedo na Companhia de Polícia Militar do bairro Planalto, zona Oeste de Natal, utilizando um moletom verde e uma bermuda antes do horário do crime. "O PM não soube explicar por qual motivo o tenente estava lá, já que ele está afastado e é lotado no CPRE (Comando do Policiamento Rodoviário Estadual)", diz. As características batem com o que foi dito em depoimento pelo professor Ademir Júnior.
Motivação
O delegado Sílvio Fernando trabalha com duas linhas de investigação até o momento. Uma delas é que o crime pode ter sido motivado por uma traição. “Podemos estar diante de um crime passional. Temos informações de que o lutador teria se envolvido com a namorada do tenente”, afirmou.
A outra suspeita da Polícia Civil é que um desentendimento entre o PM e o lutador de MMA possa ter motivado o crime. A defesa do PM confirma que os dois se desentenderam, mas alega que o caso não foi grave. "Houve um desentendimento, mas nada muito grave. Não houve discussão mais pesada, nem agressão física", disse a advogada Juliana Melo, que inicialmente defendeu o suspeito.
De acordo com a defesa, o policial fez uma aula experimental no fim de janeiro na academia Alta Performance, onde o lutador foi assassinado, porém não gostou do treinamento. A advogada diz que, quando foi para o segundo treino, o tenente decidiu não continuar e por já ter feito o pagamento adiantado da mensalidade, teve o dinheiro devolvido. "A mudança foi para uma academia da mesma rede", disse.
Ainda segundo Juliana Melo, o tenente acredita que foi apontado como suspeito do crime devido ao desentendimento na academia e pelo fato de ser policial. "Os dois não tiveram mais nenhum tipo de contato após esse desentendimento. O oficial inclusive bloqueou a vítima nas redes sociais para não ter mais contato", afirmou a advogada.
'Álibi fraco'
O tenente Iranildo Félix prestou depoimento ainda na segunda-feira e foi liberado em seguida. O álibi apresentado pelo oficial não convenceu delegado Sílvio Fernando. No depoimento, o policial afirmou ter ido a uma outra academia por volta das 8h. No entanto, segundo o delegado, a biometria e as câmeras do local mostram que o oficial da PM chegou às 10h08, logo após o assassinato ter acontecido. "O crime ocorreu antes das 10h", afirma Sílvio Fernando. "Os percursos e os horários informados por ele não batem. O álibi é muito fraco", acrescentou o delegado.
Apesar de não ter sido convencido pelo depoimento, o delegado explica que ainda não tem elementos suficientes para indiciar o oficial da PM.
Reprodução Cidade News Itaú
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!